Beira (Canal de Mo챌ambique) - Compreender as raz천es do fracasso de políticas postas em prática é em si um projecto interessante e necessário. Agindo desse modo chega-se a compreens찾o ampla dos constrangimentos concretos e ganham-se as capacidades necessárias para ultrapassar obstáculos e fazer avan챌ar agendas. Qualquer pessoa que esteja interessada em modificar o presente e construir um futuro diferente deve envolver-se na procura de conhecimentos e jamais deixar-se ficar a espera de que as coisas aconte챌am por si ou executadas por outros. Existem amplas possibilidades de se melhorar desempenhos e mesmo alcan챌ar resultados satisfatórios no quadro do que se faz em termos de actividades que visam desenvolver o país. Mas quando os protagonistas n찾o se compenetram sobre aquilo que é básico ou elementar no tipo e natureza das abordagens avan챌adas, torna-se difícil sen찾o impossível obter sucesso. Na esfera do público, a fun챌찾o pública e o sentido do público tem de ser entendidos, compreendidos, aceites e assumidos antes que qualquer projecto tenha condi챌찾o de ser um sucesso ou trazer os resultados que se esperam ou que se desejem. Se a montagem de uma máquina governativa é feita ou baseada em pressupostos centrados no indivíduo e n찾o na satisfa챌찾o daquilo que é importante para o público, é o mesmo que montar o esquema apropriado para o sucesso do indivíduo em detrimento do público. Os atrasos e até uma certa estagna챌찾o e paralisia no que se refere aos efeitos pretendidos pelas políticas postas em prática devem ser vistos como frutos de concep챌천es e escolhas estratégicas postas em prática. A propaga챌찾o de verbos tendo como suporte todo o músculo estatal é um exercício relativamente fácil. Das visitas dispendiosas a toda a bagagem discursiva da lideran챌a nacional é notória a falta de coer챗ncia entre o dito e o feito. Se o chefe do executivo n찾o se mostra disposto a libertar da sua tutela o judicial todo o edifício da república assente numa democracia prática esfuma-se. O problema constantemente evitado é o da reformula챌찾o de estratégias ao nível dos partidos políticos. Há que se definir com clareza, sem ambiguidades o que se pretende como país. Do modo como tudo está montado o país torna-se um feudo rotativo de figuras com ou sem carisma. Se as plataformas políticas apresentadas quando se quer conquistar o voto dos cidad찾os n찾o conseguem traduzir-se em caminhos para o empoderamento colectivo assiste-se ao desmoronamento n찾o só de sonhos. A própria raz찾o de ser da república fica comprometida. O poder quando excessivamente concentrado nas m찾os de uma só pessoa transforma-se virtualmente em ditadura. A promiscuidade dos poderes democráticos leva a sua dilui챌찾o e morte. Estamos perante uma situa챌찾o histórica relevante em que as elites nacionais n찾o se podem excluir sob risco concreto de inviabiliza챌찾o real do projecto na챌찾o. Na luta pela constru챌찾o de um Mo챌ambique viável para os seus cidad찾os tem havido choques entre aquilo que s찾o os projectos que beneficiariam toda uma sociedade e aquilo que aparece como agenda de indivíduos que ocupam posi챌천es de destaque na governa챌찾o do país. A pergunta óbvia que se pode fazer é sobre a maneira como é gerido o país e quem tem iniciativa sobre a regula챌찾o da actividade económica nacional. Uma governa챌찾o fundada e baseada no partido vencedor das elei챌천es, que presidido pela mesma pessoa ao nível do partido e do Estado, pessoa essa que tem quase todas as prerrogativas de nomea챌찾o da máquina executiva, judicial e de seguran챌a, em exclusivo, fica obviamente bastante dependente daquilo que s찾o as percep챌천es e agendas individuais dessa pessoa. A sua for챌a real supera qualquer manifesta챌찾o contrária ao que tal pessoa vai definindo como agenda a seguir. Este centralismo excessivo impede que os pontos de vista e concep챌천es de desenvolvimento de toda uma maioria sejam considerados quando é hora de decidir a direc챌찾o a seguir. Nem a aparente democracia interna do partido que tal pessoa representa permite que as vozes dissonantes se fa챌am ouvir. Depois, devido a maneira como a máquina de administra챌찾o da justi챌a está amarrada ao executivo, torna-se praticamente impossível responsabilizar um determinado grupo de pessoas que aparecem ligadas ao poder instituído. Esta associa챌찾o de factos e a organiza챌찾o legal do poder de Estado é bastante limitante. No lugar de liberta챌찾o de iniciativas tudo fica pendente aos planos de uma chefia que n찾o está na prática, preparada para ouvir opini천es e aceitar o que de positivo outros cidad찾os possam ter. É preciso identificar aquilo que efectivamente não deixa o país andar para a frente. Nestes anos de independ챗ncia o país foi capaz de produzir técnicos nos mais diversos níveis, que possuem opini천es válidas sobre os caminhos que seriam melhores para a defesa dos interesses do país e o seu desenvolvimento equilibrado. Mas devido ao tipo de administra챌찾o que os partidos políticos escolheram assiste-se a entrega de posi챌천es importantes na defini챌찾o de estratégias e agendas, a pessoas que n찾o reúnem os requisitos essenciais e actualizados. A mera confian챌a politica passa por cima do que seriam os interesses do pais e do que a sua realiza챌찾o aconselha. Aquilo que de insucesso muitas vezes se assiste é resultado da colocação de pessoas errada no lugar errado. É também a montagem de uma máquina governativa sem olhar ao que de facto são os objectivos nacionais. A estratégia de privatiza챌찾o dos Portos e caminhos-de-ferro deste país mostra bem o que resulta quando n찾o s찾o acautelados os genuínos interesses nacionais. Parece que as coisas s찾o definidas n찾o em fun챌찾o do que interessa ao país mas do que s찾o os objectivos circunstanciais de determinadas figuras. A alegada depend챗ncia ao factor financiamento externo n찾o pode explicar toda uma política de privatiza챌찾o que abre fissuras sociais e condena milh천es de mo챌ambicanos a uma vida de miseráveis. Quando se olha para o actual interesse em se enveredar pela entrega de milh천es de hectares de terra para a prática de culturas que v찾o servir a indústria de biodiesel, só porque isso está aparentemente na moda e é aconselhado por parceiros externos, n찾o podemos deixar de levantar dúvidas. N찾o se v챗 preocupa챌찾o em avan챌ar com esquemas de promo챌찾o da emerg챗ncia de uma classe de mo챌ambicanos fazendo agricultura comercial que sirva para superar deficits crónicos em alimentos, n찾o se observa interesse real na edifica챌찾o de um ministério de agricultura que seja capaz de cumprir o seu papel numa situa챌찾o como a que o país possui. É caricato quando um país possui excelentes condições para a produção de fruta tropical e se tem de importar sumos de fruta para abastecer o mercado nacional. É caricato verificar-se que com escassez de divisas existe importação de águas minerais, importa-se malte, importa-se de tudo um pouco, mesmo o que a nível local poderia ser produzido. É nisto que reside a questão da governação. Ou se tem um governo capaz de definir agendas que façam o país possuir uma dinâmica económica a altura dos desafios ou se tem uma equipa de governantes transformada em figurantes de uma peça de teatro a que se chama governação. Uma governa챌찾o menos centralizada, onde o governo n찾o tem de fazer tudo ou pretender que assim faz, passa por uma reflex찾o profunda sobre o que deve ser tal governo. O executivo n찾o pode a챌ambarcar tudo só porque assim se garante que as contrapartidas se mantém sob controle. Mas estes e outros assuntos respeitantes a governa챌찾o nacional t챗m de ser amplamente debatidos ao nível dos partidos e da sociedade civil genuína. N찾o se pode aceitar que o destino de toda uma na챌찾o seja hipotecado aos interesses circunstanciais de uma minoria míope e voraz. O país pertence a todos os mo챌ambicanos e todos eles tem o direito a palavra quando os seus interesses aparecem claramente prejudicados por ac챌천es de um executivo predador e gastador. Chega de nos deixarmos levar pelas apar챗ncias e pelo peso de uma história muitas vezes muito mal contada. O que n찾o se faz, quando n찾o conseguimos defender o que sentimos que s찾o os nossos direitos e aspira챌천es, coloca-nos na posi챌찾o de dependentes que ficam a espera das migalhas distribuídas principalmente quando chega a altura de pedirem o nosso voto. (Noé Nhantumbo)
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