Saúde pública está ameaçada
* As vendedeiras de refeições nas barracas não usam lenço e o cabelo voa enquanto servem os clientes. Baratas e ratos partilham o mesmo espaço com panelas. E utensílios mal lavados podem estar por detrás de surtos de várias doenças que ultimamente afligem os cidadãos que não têm posses para comerem em outros locais com mais higiene
Maputo (Canal de Moçambique) â As condições em que as refeições são confeccionadas em alguns estabelecimentos destinados ao público na Capital do País, com enfoque para barracas e bares, são deploráveis e as autoridades fazem de conta que não é nada com elas enquanto as doenças vão afectando os cidadãos que não têm quem os proteja.
Na ronda efectuada pela reportagem do «Canal de Moçambique» a esses locais que operam nos vulgos mercados informais verificou um cenário bastante triste. A imundice é enorme. As panelas andam "porcas". Os pratos onde são servidas as refeições são lavados várias vezes na mesma água. A água a ser consumida pelos cidadãos que lá compram refeições, desde mata-bichos a jantares, é conservada em bidões imundos. Os fogões que confeccionam alimentos para além de estarem bastante sujos são também improvisados. Todos estes cenários concorrem para um ambiente propício à existência de baratas e ratos que ainda vieram espreitar enquanto mantínhamos conversa em várias barracas e casas de pasto que visitámos. Os nossos entrevistados no geral justificaram-se alegando que os ratos vêem de fora e não morrem com raticidas.
Preocupados todos os cidadãos que ouvimos dizem que "a saúde pública está ameaçada". É preciso urgentemente que as autoridades actuem mas nada acontece e os cidadãos sentem-se cada vez mais desprotegidos pelo Estado.
As operadoras de algumas dessas barracas falam por si
Viriato Gabriel, um dos muitos vendedores que operam no mercado de Xiquelene, diz que "nas barracas da Cidade de Maputo as condições em que a comida é vendida representam um perigo para saúde”. E assim como é em todas na dele também não há crise.
Ele atribui o que se está a passar à procura desenfreada pelo lucro. “Antes de tudo o que é prioritário para os vendedores é o dinheiro”.
"Em algumas barracas as condi챌천es de higiene pioram porque n찾o s찾o os donos que est찾o lá. Eles ficam muito tempo sem colocar os pés nas suas barracas. O que querem é que o empregado lhes vá apresentar as contas e dizer o que falta enquanto cuidam de outros negócios", disse.
Entretanto, Viriato Gabriel, que por acaso tem a sua barraca minimamente higiénica diz ele que “por estar sempre de perto a vigiar cada passo dos trabalhadores” concorda que “não poucas vezes alguns vendedores não cuidam bem dos seus produtos".
"Muitas vezes as pessoas apanham doen챌as mas n찾o sabem que é em lugares como as barracas onde se contaminam", comenta. "Por exemplo, o mesmo copo é usado várias vezes por diferentes pessoas. O mesmo acontece para os talheres. Algumas pessoas est찾o doentes mas n찾o temos como saber que é disso".
Viriato Gabriel afirma que "é preciso lavar bem esses utensílios antes de passá-los para outra pessoa para evitar doen챌as como tuberculoses, mas lavar bem é coisa que nem sempre tem acontecido".
Dércia Chiluva, também vendedeira de refei챌천es mas esta no mercado de Benfica vai dizendo que sem condi챌천es nada pode fazer. "Reconhecemos que as condi챌천es em que trabalhamos n찾o s찾o das melhores mas enquanto n찾o tivermos solu챌천es nada podemos fazer".
"N찾o há dinheiro e mesmo este negócio é só para ver o tempo passar e n찾o estar em casa a suportar as exig챗ncias dos nossos filhos", disse. Acrescenta entretanto que "hoje em dia tudo anda caro. Se eu pensar em reabilitar a minha barraca significa deixar de fazer outras coisas que metem o pouco dinheiro que me sustenta".
Quanto a exist챗ncia de baratas nas barracas onde se pratica aquele tipo de negócio, Dércia Chiluva, reconhece o facto: "De facto temos muitas baratas e ratos. No ver찾o a situa챌찾o das baratas piora mais do que no Inverno. Os ratos também existentes v챗m de fora, principalmente dos armazéns. Encontram esconderijo nas nossas barracas. Outros vivem nas casas de banho por n찾o andarem bem conservadas".
Brígida Valeriano, outra vendedeira de refei챌천es nas barracas de Museu, mesmo ao lado da Escola Josina Machel e do instituto comercial, um mercado conhecido por albergar gente de má conduta, afirma: "Nós trabalhamos nestas condi챌천es porque n찾o temos como melhorá-las. O que vendemos n찾o rende dinheiro suficiente para estarmos toda a hora a comprar novos utensílios e ainda remodelar as barracas". Foi assim que a interlocutora respondeu quando lhe questionámos se tinha ou n찾o clientela ao operar naquelas condi챌천es e ao lado de algumas barracas minimamente higiénicas. E disse mais: "os que t챗m uma barraca um pouco organizada é porque para além de vender comida fazem outro tipo de negócios que lhes ajudam a resolver os seus problemas".
O que dizem os bares
Ainda sobre o mesmo assunto, na tentativa de perceber o cenário que há nos bares fomos visitar alguns mas fomos impedidos de ir ver não só as cozinhas como também, nalguns casos, as casas de banho. A justificação foi sempre do género: "o dono do bar não está e ele só permite que sejam os trabalhadores daqui a terem acesso à cozinha. E também porque vocês não são da inspecção".
"As casas de banho s찾o reservadas a clientes do bar e n찾o para quaisquer pessoas".
E já que se fala de inspecção pergunta-se às autoridades: quais são os critérios usados para se inspeccionar os mercados e o que está sendo inspeccionado? A saúde pública está ameaçada e ninguém faz nada em defesa do consumidor.
Quem põe mãos à obra para impedir a imundície e a falta de respeito pelas mais elementares normas? Quem defende o cidadão?
(Emildo Sambo)