O Império da droga
O relatório do Gabinete da ONU contra a Droga e Crime, divulgado esta semana, é um sinal claro de que algo anda mal no mundo do combate à droga.
Ficou a saber-se que Portugal passou da apreensão de três toneladas de cocaína, em 2003, para o valor de trinta e cinco toneladas em 2006. E ainda que Espanha, com a apreensão de 50 toneladas em 2006, apanhou 41% da cocaína entrada no espaço europeu. Por outro lado, só esta semana, numa operação desencadeada pela PJ, foram apreendidos mais 127 quilos de cocaína. Por outro lado, fica a saber-se que a maior parte desta cocaína, oriunda da América do Sul, tem usado de forma privilegiada bases de distribuição na costa ocidental de África, nomeadamente na Guiné e em Cabo Verde.
À primeira vista parecem grandes êxitos da polícia portuguesa e espanhola. E na realidade são. Porém, os dados avançados levantam outra ordem de preocupações. Ninguém duvida de que Portugal e Espanha sejam o espaço europeu mais próximo dos grandes cartéis de produção e comercialização de grande escala sul-americanos, assim como dos países do Norte de África. É evidente que o investimento na prevenção e repressão criminal, no que respeita ao narcotráfico, realizado pelos dois países ibéricos é a primeira barreira do esforço policial para evitar maiores danos na União Europeia. Porém, o recrudescimento das plataformas de distribuição na Guiné e em Cabo Verde faz-nos admitir que existem todas as razões para que a segurança europeia coloque a primeira barreira do combate contra o narcotráfico exactamente nessa região de África.
Em primeiro lugar, porque existe uma boa rela챌찾o política com esses dois países. Depois, porque n찾o t챗m condi챌천es de, só por si, reagirem a este poderoso negócio. Por outro lado, a droga apreendida representa sempre uma parte daquela que é comercializada. Embora se calcule, de forma mais ou menos aleatória, que as apreens천es correspondam a algo entre dez e 15% da cocaína distribuída, ninguém duvida de que é um dos negócios mais importantes escondidos numa economia clandestina que vive indiferente a crises. E significa ainda outra coisa: é que a coopera챌찾o internacional neste domínio do combate ao crime n찾o pode ser apenas um esfor챌o europeu a que se associam os Estados Unidos que, vulgarmente, seguem a política de encolher os ombros quando o problema deles está resolvido. Torna-se imperioso implicar os países latino-americanos energicamente neste combate. Pois pode enriquecer alguns criminosos, mas destrói a vida de milh천es.
Francisco Moita Flores, Professor universitário