DAMIÃO DE GÓIS
1501—1573
Foi Damião de Góis, o grande vulto,
Cronista da antiga realeza
Que lhe pagou a Arte com o insulto
Dum cárcere, na Inquisição portuguesa.
Historiador clássico e político;
Embaixador insigne Além fronteiras:
Na Suécia e Dinamarca. Analítico
Da sua Pátria, sempre sobranceira.
Cursou algumas Universidades
Estrangeiras, de Pádua e de Lovaina.
Por amigos, teve personalidades
Distintas! De Tiara e de Sotaina.
Entre as Obras latinas que escreveu,
A “EMBAIXADA DO PRESTE JOÃO”,
“DESCRIÇÃO DE LISBOA” “CERCOS DE DIU”,
“FIDES RELIGIO”, provocou a acusação.
O insigne cronista, conviveu
Com altas personagens mundiais:
Com o rei da Dinamarca, e o corifeu
Martinho Lutero, Erasmo, e mais.
Mandado regressar a Portugal,
Este Humanista, amigo da Igreja,
Ousou erguer o “véu” do que achou mal,
Foi logo delatado como herege.
Foram delatores: o padre Simão
Rodrigues, Pedro de Andrade Caminha,
Seu genro Luís de Castro. Oh! Ingratidão:
Até Briolanja, a sua sobrinha.
Enquanto decorria, a tempo longo,
O processo movido p’la Inquisição,
Foi Góis, Guarda-mor da Torre do Tombo,
Cronólogo de D. Manuel e D. João.
Como a chamada Santa Inquisição,
Fosse o terror dos nobres e da plebe,
Muitos mais se juntaram à delação
Daquele, a quem Portugal tanto deve.
Só porque houvera dito com franqueza,
Que os Jesuítas, salvo excepção rara,
Não praticavam o voto da pobreza
Que Inácio de Loiola edificara.
Com o mais ardiloso artifício,
O património lhe foi confiscado.
Por ordem do funesto Santo Ofício,
À perpétua prisão foi condenado.
Depois de encarcerado vinte meses,
O mísero, já doente e sem pecúnia,
O símbolo dos Ilustres portugueses,
É injuriado por inveja e por calúnia.
P’rá prisão da Batalha é enviado.
Depois, a crónica é algo dúbita.
Dizem alguns ter sido assassinado,
E outros, que morreu de morte súbita.
GRAZIELA VIEIRA - OURÉM