Graziela Vieira e as suas Vertentes da Vida

Graziela Vieira nasceu em Avidagos, concelho de Mirandela e foi registada com o nome de Maria Graziela Gomes. Pelo casamento adoptou o apelido de Vieira e também a terra (Valada de Seiça – Ourém), do marido para viver. Desde muito nova despertou para a escrita, ora em prosa, ora em verso. De um e outro géneros literários tem dado testemunho sistemático na imprensa regional, nomeadamente no Notícias de Mirandela, umas vezes com o nome próprio, outras vezes com os pseudónimos de Ana Transmontana e de Maria Papoila. Ao longo dos tempos foi concorrendo a jogos florais e arrecadou imensos prémios (primeiros, segundos e menções honrosas), certames que por exigirem anonimato, demonstram que o mérito é um critério prevalecente. Também poemas seus têm sido musicados e interpretados pela Orquestra Típica de Ourém, pelo Grupo os Amigos da Farra, Lelita, Dinis Brites, Adília Pedroso, Linda e outros artistas que levam longe, no espaço e no tempo, esta mensagem poética de uma Filha da Terra Quente que foi seleccionada para os volumes VI e IX da antologia Poetas de Sempre, tendo, igualmente, sido mencionada no II volume do Dicionário dos Mais ilustres Transmontanos e Alto Durienses.

Entendeu Graziela Vieira reunir em livro próprio, no entardecer da sua vida, catorze crónicas e setenta e oito poemas, muitos de temática transmontana, outros de lugares e circunstâncias que fizeram parte da sua odisseia de vida.

Mário Albuquerque assina o prefácio deste livro que é enriquecido por sugestivas fotos. Nesse prefácio se afirma que Graziela Vieira «é uma transmontana, de Mirandela, moldada pelas dificuldades próprias de uma região distante e inóspita que a viu nascer, persistente e determinada, atributos conjugados com uma forte personalidade e reconhecida firmeza de carácter». Depois de escrever que a poesia tem sido o ponto mais forte e preferencial da sua escrita, conclui que «estamos perante uma obra que está ao alcance de todos, versando temas que também se adequam ao fértil imaginário das crianças, alguns dos quais já merecedores de justa distinção, por mérito reconhecido em exigentes concursos literários». A capa, lindíssima, tem foto da filha Ana Vieira, bem como várias outras que valorizam o livro de 180 páginas, tendo a contracapa a assinatura de Ricardo Costa.

O amor à filha e aos netos, a solidariedade, a ligação às origens, a lembrança dos que partiram, são temas recorrentes e tratados com emoção e comoção. Graziela Vieira escreve e pensa com as mãos e a alma calejadas pelos rigores da vida que nem sempre sorriu à Autora Transmontana. Daí que esta colectânea retrate vivências que importa ler e reler para saber como foi a vida na segunda metade do Século XX e primeira década do século que lhe sucedeu.

Para além de revelar os dotes artísticos de uma autodidata que faz maravilhas com a palavra escrita, este livro demonstra uma vida heróica, nem sempre fácil de conjugar com os altos e baixos próprios da condição humana Mas é nas horas menos agradáveis que se colhem a inspiração e a força de vontade para superar as fragilidades de cada dia. E, sobretudo, revela nesta heroicidade permanente, uma paixão e uma saudade inquestionáveis pelas origens familiares e telúricas que, parecendo factores irrelevantes, acabam por exceder níveis raramente conseguidos. Parabéns, pois, para Graziela Vieira, uma Transmontana que prolonga a voz dos Mirandelenses.

Barroso da Fonte