O tempo continua sem dar tréguas, e eu aqui me mantenho, não estou triste apenas saudosa, e com aquela maldita lagriminha que sempre teima em estar ao canto do olho...
Os dias são iguais para mim, seja domingo ou segunda tanto faz, tenho de me levantar fazer o habitual, apenas mudando se eu assim o entender, pois como tenho dito sou contraria ao "tudo certinho, alinhadinho e a horas", assim hontem ao ver umas fotos minha de jovem não consegui evitar um pouco de tristeza constatando como a minha vinda para Portugal, e por tanto para um clima totalmente diferente me fez tão mal me confinando para sempre as "sandálias" que nada tem a ver com as sandálias do pescador...
Procuro vencer o choque nunca baixando a cabeça, e assim me lembrei de uma amiga de juventude e cujo drama nunca consegui esquecer.
Tinha casado á pouco, bem antes de mim e ficado grávida, e quando o bebé nasceu comprei um casaquinho de linho como lá se usava e fui ve- la.
Quando me aproximei da cama e lhe mostrei a prendinha se agarrou a mim chorando, enquanto dizia, "ó São como poderá meu bebé vestir esse casaquinho se ele não tem braços"!...Fiquei sem chão enquanto olhava minhas muletas, é assim a vida, a encontrei mais tarde e me disse que seu menino era um belo advogado, e são casos assim que me fazem com que cada vez me sinta mais forte, e sobretudo eu, sem farsas sem nunca me sentir inferior, o que não quer dizer que eu não possa chorar bolas, mas hoje eu não choro, vou aguardar que volte o sol para eu ir ver como param as modas, e ai quem sabe eu volto a escrever uma daquelas crónicas mais espatafurdias que se possa imaginar!
São Percheiro