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De: mariomarinho2  (Mensagem original) Enviado: 15/02/2009 13:19
POLÍTICA COM SOTAQUE BRASILEIRO


Rodrigo Tavares
Doutorado e investigador na Univ. da ONU. Consultor do Secretariado da ONU, Nova Iorque
Na maior parte dos casos, chamar um país de "irmão" revela paternalismo ou anacronismo. No caso do Brasil, chamado de "irmão" pela classe política portuguesa, revela ambos. É irónico notar que Portugal tem tendência a fraternizar as relações políticas com as ex-colónias, quando, na prática, essa intimidade não é recíproca. No Brasil, por exemplo, a classe política não designa, geralmente, Portugal como "irmão". Aliás, Portugal raramente faz notícia na imprensa brasileira.

É certo que a língua aproxima as pessoas e facilita os negócios, mas é um facto que Portugal e o Brasil se estranham. E no terreno fecundo da ignorância brota o preconceito de parte a parte. O novo imigrante brasileiro é tão desconsiderado em Portugal como o velho emigrante português o é no Brasil. Ainda assim, é, de facto, verdade que durante os períodos autoritários nos respectivos países, as elites aproximaram- -se: Mário Soares privou, no Brasil, com Ulisses Guimarães ou Hélio Jaguaribe. Em Portugal, nos anos 80, Carlos Drummond de Andrade e Gilberto Freyre viram o seu trabalho premiado pela primeira vez. Mas esta geração reformou- -se e as que vieram depois não aproveitaram o seu legado: jovens portugueses podem conhecer as praias do Nordeste brasileiro, mas desconhecem o poema "Consolo na Praia" de Drummond de Andrade.

Consciente ou não do fosso, Portugal tenta vários mecanismos para amarrar o gigante sul-americano à sua esfera de influência. A fórmula mais insistente tem sido em salientar o mesmo património linguístico, aproveitando Portugal para realçar o seu papel de patrono da língua portuguesa. Mas esse é um caminho anacrónico: quando, depois das cimeiras, as mãos que batem nas costas regressam ao bolso, a classe política brasileira não reconhece a Portugal esse estatuto. O Museu da Língua Portuguesa é hoje em São Paulo (na foto) e não em Lisboa. O Acordo Ortográfico já entrou em vigor no Brasil e a imprensa local compara os avanços brasileiros à lentidão portuguesa na implementação da nova reforma. No campo do ensino, a Universidade Federal da Integração Luso- -Afro-Brasileira (Unilab), de forte vocação lusófona, será inaugurada na região nordestina do Ceará em 2010. Neste projecto, o Governo de Lula investirá 63 milhões de euros e, ao contrário do que se pensa, a universidade não tem ligações à CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]. Aliás, na última cimeira da CPLP que decorreu em Lisboa no ano passado, o correspondente em Portugal de um dos principais jornais brasileiros desabafou comigo que a imprensa brasileira iria ignorar o evento.

O que resta fazer a Portugal? O mesmo que faz o chopim (Moloth- rus bonariensis), uma ave comum no Brasil que se destaca por depositar os seus ovos nos ninhos de outros espécies, em vez de construir o seu próprio ninho. Também no final da II Guerra Mundial a Inglaterra rapidamente reconheceu, e aproveitou, a emergência galopante da sua ex-colónia americana. O Brasil é hoje uma potência mundial e Portugal tem tudo a ganhar em reconhecê-lo, de verdade. E não só enquanto dá uma palmadinha nas costas do seu "irmão". |


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