Ainda de pé depois de dias de verdadeira tormenta, na verdade nem sei quando começou, nem quando irá terminar pois ontem já me sentia melhor e hoje voltei á estaca zero.
Ainda meio azamboada fiz um rescaldo dos últimos dias, e sem encontrar nada de especial resolvi mesmo assim conversar um pouco contigo meu leitor amigo.
Isto por aqui está um verdadeiro caus, não tem ponta por onde se lhe pegue, se é que tem algo que se pegue... Na terça sai um pouco mas não achei graça a nada, talvez porque eu mesma me achava sem graça, e isso é muito importante, mas amanhã prometo a mim mesma que vou pegar em minhas armas e voltar á luta, pois não sou mulher de me render ás armas do inimigo, sempre arranjo uma maneira de me safar e seguir em frente.
Tem feito uns dias bonitos com um bom cheirinho a Primavera, as flores já dão o ar de sua graça, e já se ouve a passarada em alegre chilrrear.
Liguei a música baixinho e aproveitando este espaço de tempo que me tem faltado voltei á minha crónica, e ás minhas aventuras e desventuras de uma mulher que já viveu tantas coisas boas e más... já tive meu tempo de "antena", já brilhei no Céu lindo do meu rincão africano... Já vesti meus vestidos ás pintinhas, já vivi de tudo um pouco; sem ser soldado fui á guerra, vi tombarem a meu lado amigos jovens na plenitude da vida, já colori meus sonhos de ilusões que mais tarde perdi mas que ficam guardadas no "baú da saudade".
Ao recordar todo esse tempo passado, me acho uma mulher rica em tudo que me marcou profundamente, e que serve para alimentar meus serões que não são da provincia, mas de um tempo que vai correndo os ponteiros do relógio da minha finada sogra...
Hoje penso num olhar atento ao passado, que teria feito muita coisa, e que outras teria passado ao lado, mas como não se pode adivinhar, resta-nos estes borrões de tinta que lembram um passado que nada, nem ninguém me pode roubar.
E antes que se faça tarde vou embora na esperança de amanhã voltar.
São Percheiro