Estava-te olhando ai sentada ao piano tocando para mim... Teus cabelos onde o tempo não deu tempo, de fazer a trança do costume...
As mão estavam tremulas e pálidas como o rosto que um dia foi radiante Primavera, declinado o busto na obra prima que queria deixar concluída se Deus lhe desse, só mais um minutinho de vida... Mas ela sabia, que não teria esse tempo, como fazer então, para que seu coração, ali bem perto de sua mão ouvisse seu apelo!
Estava-te olhando, e sabia que o relógio iria marcando o tempo em decrescente. E eu nada poderia fazer para te ver mais uma vez tocando para mim, e eu queria tanto, mas tanto, que o tempo parasse, e eu voltasse a ver as faces rosadas de pálido carmim, sempre que sorria para mim! Eu queria tanto ver teus olhos cor do Céu, queria ver tuas vestes ao vento, correndo descalça por entre o campo florido... Mas ele era implacável, e como um abutre ele ia sugando teu sangue, só deixando o rasto da dor, da desilusão, do pranto...
E eu, mesmo que querendo, nada, nada podia fazer, e fiquei ali, te olhando...
São Percheiro