De: S.S. Potêncio
MENSAGEM AOS(AS) ANGOLANOS(AS)
...(dirigida ao Jornal "O Mundo Português" do Rio de Janeiro)
Devido a uma referência que foi feita ao nosso nome, na secção aonde são mencionados, neste jornal, os assuntos dos Angolanos, sentimo-nos no dever e na obrigação de dizer algo neste espaço.
Antes porém, queremos elucidar os leitores de que; pelo facto de termos vivido por vários anos em Angola, dos quinze aos 25 anos de idade, cremos poder reinvindicar o direito pleno de convivência com os "Sóbas", quer sejamos admitidos como "Sécùlos" ... ou apenas como visitantes da "Libata"!
- E, por falar nisto, acharemos realmente um jeito de responder ao "eyá-induku-to-léle"!!!... (leia-se : vem cá, quero falar contigo) do nosso Amigo de Benguela.
- O meu "ambundo" é originário da lingua e dialecto "Mussele" de onde, desde já me desculpo pelas eventuais falhas e/ou dificuldades de tradução...
Afinal já lá vão tantos e longos anos sem a prática dessa lingua!,... e a memória já não é a mesma!
Enfim... talvez seja também a falta de umas boas "muambadas" e uns "sumos" da SBEL (bebidas Espirituosas do Lobito) etc, e tal e coisa!...
- Quando vimos portanto o nosso nome nesta secção - dizíamos - tivémos multiplas sensações e, o tempo não só parou, como retrocedeu muitos anos na nossa imaginação.
Fomos levados de volta às "Picadas" do Cuanza Sul, aos cafézais da região da Gabela, à Restinga do Lobito e às largas praças e muito bem cuidadas de uma Nova-Lisboa... ou de Sá da Bandeira - isto se porventura não ofendermos ideologias particulares, quanto a nomenclatura dos lugares que ficaram, e sempre estarão presentes na nossa memória.
Surgiu-nos até um pensamento, embora rápido, de iniciarmos uma espécie de crônica escrita, na qual recordaríamos as muitas e múltiplas facetas da nossa vida pessoal em terras Angolanas.
- Essa crônica levaria como título "Cartas da Minha Libata", como forma de homenagearmos os Angolanos e Angolanas que conhecemos nos primeiros doze meses, que passámos em terra Africana, aonde o nosso único meio de comunicação com o exterior, eram as cartas que escrevíamos para os mais diversos endereços nossos conhecidos de então.
- Aqui no Brasil, com todo o "à vontade" que sentimos, com todas as facilidades de comunicação e interligamento com a sociedade que nos recebeu, há sempre um momento de euforia, toda a vez que algum "patricio" arriba por estas bandas.
A nossa "Sanzala" não é muito grande, e só de longe a longe é que a gente se encontra para tomar uns "Canhangulos",... as crianças vão-se entretendo com uns "baleizões" e, como os "Angolares" são ainda... e sempre, muito difíceis de conseguir por aqui, invariávelmente as conversas giram à volta dos programas de "curriculum" na Paulo Dias de Novais,... ou passeio dos tristes até à ponta da ilha.
Enfim... tudo isto para vos dizer que tem por aqui uma rapaziada que morre de saudades dos vossos "Musseques".
- Lugares que tanto gostaríamos de reencontrar, como aos velhos companheiros das boas horas e más!... também, porque a vida não é completa com apenas um dos lados da moeda. - Sobretudo recordar, porque - como diz o ditado - recordar é viver!!!
- Qualquer dia, numa das minhas "Cartas da Libata" que enviarei aí para a grande "Senzala", se Deus quisér, eu vos relacionarei alguns nomes e endereços de alguns "Sóbas" que circulam por aqui... - Até lá, recebam um abraço fraterno para todos, conhecidos ou não!... e votos de felicidades nos novos "Quimbos", onde todos nós procuramos esquecer as coisas ruins que aconteceram e continuam a acontecer pela vontade dos homens ... façamos voz uníssona, porque o pior já passou!
(Carta de numero 151/RN - 24.06.1987)
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Abraço a todos e até breve... nunca se diga Adeus para sempre!
P.S. esta crônica é dedicada ao Amigo Virtual, Ti Joaquim de Lisboa e aos três Amigos que me acompanharam na viagem de Lisboa para Luanda no Navio Niassa - inicio do ano de 1965 - cujos nomes não lembramos mais, mas que estão nas fotos e no nosso coração para todo o sempre!