Se Paris tivesse outro nome seria Piaf, disse Marlene Dietrich. Agora, a história da diva francesa está em Lisboa, no Teatro Politeama. Um musical La Féria mais despojado, diz Ana Dias Ferreira
Em menos de metro e meio de altura coube tudo: o orfanato, a prostituição, a guerra, a resistência, o álcool, as drogas, os homens, um grande amor perdido, as digressões, um terrível acidente de carro, a fortuna, os casacos Dior, a solidão, as plateias a aplaudir de pé, e uma enorme voz, baptizada como a maior voz francesa de sempre mas arruinada, no fim da vida, por uma conduta de excessos.
Edith Piaf (1915-1963) foi “uma mulher que ardeu no seu próprio tempo, uma apaixonada que caiu em todos os abismos”. Quem o diz é Filipe La Féria, que dirige e encena Piaf, um musical que é antes de mais “uma homenagem a uma grande artista do século XX” e que depois da estreia em Angra do Heroísmo, nos Açores, e de uma passagem pelo Rivoli, no Porto, chega agora ao Teatro Politeama, onde fica em cena até ao final de Agosto.
A crítica tem dito que este é o espectáculo mais sensível de La Féria, o mais trágico e emotivo, e a verdade é que é também o seu musical mais despojado. Como cenário há apenas seis colunas vermelhas – três de cada lado – e é o trabalho de luzes e de som que nos transporta para os vários cenários da peça: as ruas de Paris onde a diva francesa se prostituía e começou por cantar, cheia de vida (é assim que começa o musical), o palco do Olympia e do Carnegie Hall, onde era ovacionada de pé, o grande apartamento em Nova Iorque, ou até mesmo o ringue onde se batia o grande amor da sua vida, o pugilista Marcel Cerdan (e que morre num acidente de avião nos Açores).
Para fazer a protagonista, em Piaf há duas actrizes que se revezam em cada noite: Wanda Stuart, “que tem aqui a sua maior interpretação de sempre”, como diz o encenador, e Sónia Lisboa, “uma verdadeira revelação”, que viveu em França e ouve a diva francesa desde sempre, e que tem como trunfo uma “parecença física incrível com Piaf”. Vestida de preto, com uma boina na cabeça e fumando cigarro atrás de cigarro, a figura pequena da cantora – que a sua grande amiga Marlene Dietrich (Paula Sá) chamava carinhosamente de “baixinha” – é uma figura reguila, irrequieta, impetuosa, um “pequeno pardal”, que cresce com as músicas que interpreta: “La Vie en Rose” (esta com a ajuda da vedeta de O Anjo Azul), “Milord”, “Je ne Regrette Rien”.
Na estrutura do espectáculo, que foi escrito pela dramaturga inglesa Pam Gems a partir da biografia de Toine (Noémia Costa), a companheira de vida de Piaf, a história verídica da diva francesa vai sendo entrecruzada com as músicas que fizeram a sua carreira, e que são cantadas simultaneamente em francês e em português (geralmente o início do tema é cantado na língua original, e só uns versos à frente é que se faz a tradução para o nosso idioma). Nesse sentido, La Féria quase prefere chamar a este espectáculo “uma peça de teatro com canções”, em vez de um musical. Canções de amor, de vida e de tragédia. E lá pelo meio, também a boémia imortalizada por Charles Aznavour.
‘Piaf’ está em cena no Teatro Politeama até dia 31 de Agosto. Ter-Sáb 21.30, Sáb e Dom às 17.00. Bilhetes de 15 a 35€.