- Reacção de um jornalista de órgão público a propósito do cancelamento, ontem, a última hora, da visita de Bingu Wa Mutharika à Cidade da Beira
- Membro do Governo considera a situação no mínimo estranha e questiona-se se isso não revela despotismo
O Presidente do Malawi que se encontra de visita ao nosso País desde ante-ontem não chegou a deslocar-se à Cidade da Beira ontem tal como estava previsto, tendo sido alegado razões de conveniência da parte do seu País para o cancelamento a última hora do programa.
Refira-se que Bingu Wa Mutharika que visita Moçambique a convite do seu homologo Armando Emílio Guebuza tinha previsto para ontem uma visita ao Porto da Beira (convidamo-lo a rever a edição anterior, 1818, de 11 de Agosto) e um almoço oferecido pelo Governador da Província de Sofala, Alberto Vaquina.
A comunicação do cancelamento do programa foi feito ontem de manhã pela Ministra dos Negócios Estrangeiros do Malawi, Etta Banda.
Entretanto, a situação um tanto quanto embaraçosa para o Governo de Moçambique está a suscitar várias interpretações.
“Quando alguém pede para visitar todos os compartimentos da minha casa e a meio toma a decisão de desistir isso no mínimo é estranho” – comentou ao nosso jornal um membro do Governo em Maputo, para quem se isso não revela despotismo.
Um cidadão moçambicano influente na diáspora, Europa, ligou-nos ontem a tarde a procurar saber como foi a visita de Bingu Wa Mutharika a Cidade da Beira. Quando lhe informamos que o ilustre visitante acabou não vindo, suspirou, afirmando que “de facto ninguém gosta da Beira”. Logo de seguida desligou o telefone duma maneira quem ficou profundamente chocado com a notícia.
Um jornalista de um órgão público em Maputo comentou afirmando que de resto Moçambique e Malawi historicamente nunca tiveram relações saudáveis, recordando o episódio do passado em que o Presidente Samora Machel ameaçou colocar mísseis na fronteira comum. Segundo o mesmo jornalista, Malawi serviu durante o último conflito armado em Moçambique de reduto das forças da Renamo. “Hoje por hoje forças malawianas pilharam Ngauma. Bingo acaba de descartar a energia da HCB. Em termos práticos mantemos uma relação hipócrita com a terra do Banda” – referiu o jornalista para quem o adiamento da visita à cidade da Beira de Bingu Wa Mutharika prende-se com tudo isto”.
Na Cidade da Beira, entretanto, tudo estava a postos para oferecer uma recepção condigna ao Presidente do Malawi. Logo cedo muita gente concentrou-se no Aeroporto Internacional da Beira, incluindo membros do Governo, políticos e várias personalidades influentes. Previa-se que Mutharika desembarcasse no Aeroporto Internacional da Beira as 09:35 horas, e a informação a cerca do cancelamento da visita só chegou depois das 08:30 horas. Dá para imaginar o tipo de transtorno e decepção que isso criou. Como se não bastasse, aos jornalistas que se preparavam para a cobertura do evento apenas foi-lhes informado via sms que não deveriam se deslocar ao Aeroporto até informação contrária. Porém, alguns já se encontravam no Aeroporto.
Alguns cidadãos entrevistados pelo nosso jornal no Aeroporto da Beira disseram que “também estávamos para ver”, numa clara referência a raridade desse tipo de visitas a Cidade da Beira e outros pontos do País fora de Maputo. É que as pessoas habituaram que sempre que um chefe de estado de outro País visita Moçambique, limita-se apenas a conhecer ou ser apresentado Maputo. “Bingu Wa Mutharika não seria uma excepção” – concluíram.
(Falume Chabane) – O AUTARCA – 12.08.2009