“Do POCINHO A SANTA APOLÔNIA”!!!!!...
De: S.S. Potêncio,
Do nosso Amigo Dr Alvaro de Jesus, ( um eterno cantador da música Coimbrã, agradecemos de publico pelos Fados que tão bem ele canta e nos encanta quando nos manda...) nós recebemos aqui, recentemente, umas noticias sobre o estado em que se encontram as instalações da Linha do Caminho de Ferro do Pocinho a Barca D'Alva, e isto nos trouxe à lembrança um dos episódios mais tristes da nossa existência desde o primeiro dia que entrámos na emigração, com 13 anos de idade.
Através de uma espécie de "bolsa" familiar por cortesia do patrão dele, o "Ti Zé Artúrio de Caravelas" ele nos mandou a estudar no Colégio em Macedo de Cavaleiros, onde lecionava o saudoso Dr Lima, então Cunhado do Ti Alipio Rego, dono das terras que trabalhávamos e "fabricávamos" lá na Aldeia.
- tratávamos delas como se nossas fossem!... pois os donos eram da Aldeia dos Vales, no Alto da Serra, e todos eles eram, já naquele tempo, fazendeiros em Angola, por alturas do Kuanza Sul... onde, anos mais tarde, nós fomos lá parar também, como empregados da Roça.
Ainda em Macedo, nós completámos o Primeiro Ciclo do Liceu...e, por mera displicência do destino, não nos mandaram continuar a estudar em Bragança e assim, começámos ali um interregno de quase 5 anos, na nossa caminhada de aprendizado académico (eita!... que nomes bonitos... hein???... ).
Foi numa manhã de Primavera, no início do ano de 1962, já com 13 anos completados, que nós subimos na "carreira" que vinha de Bragança com destino até a Torre de Moncorvo, aonde chegámos ainda antes do meio dia...
- Descemos da Carreira, e fomos logo de seguida para a Estação do Comboio!... com os dois "bilhetes" na mão do Ti Zé Artur, mas... sem nós sabermos exatamente o que nos estava reservado.
- Pessoalmente tinhamos escutado a "Ti Julheta" combinar a nossa ida para Lisboa, uns dias antes,... a ver se por lá nos aparecia alguma coisa melhor na vida!...
( cochichava ela para as vizinhas lá de casa).
Enquanto o comboio descia a encosta da serra até à Estação do Pocinho, ainda estávamos com o pensamento nas nuvens, e a sonhar com uma viagem, cujo destino ainda hoje, quase 50 anos depois, não sabemos bem qual é!...
Subimos pela mão dele, os 3 degraus da carruagem, e nos sentámos num dos bancos enquanto o Ti Zé Artur, conversava com um Jovem desconhecido, mas bem apessoado;
- voismecê para onde vai? (perguntava o meu Pai ao tal rapaz)
- Eu vou para Coimbra... ando lá na universidade a estudar...
- aatão o Xeño Doutor podia me fazer um grande fabor!!!???...
- se eu pudér!... e o que era?
- BEM... é que eu não posso ir até Lisboa...
- voismecê podia me acompanhar o meu garoto até lá, a Coimbra?... dali p'ra frente ele vai sózinho!...
- mas, se pudér mo acompanhar até lá... ó menos! até lá... depois ele já vai bem,...
Sim... sim!, é claro... fique descansado que vamos com Deus!
(respondeu o Jovem Estudante de Coimbra)
Nisto, o Ti Zé Artur, olhou para mim com o chapéu amassado entre as mãos, e foi lá para fora da carruagem, que já se começava a movimentar, ao som do apito do Revisor, que estava dependurado na escada da carruagem logo atrás da nossa...
- Pai!... aatão voismecê num bai???...
(perguntei-lhe eu da janela, enquanto o comboio começava a ganhar velocidade)
Com os olhos cheios de lágrimas,... ele deve ter balbuciado alguma coisa, que eu já não consegui perceber e nem escutar,... na distância que nos separava ali, na Estação do Pocinho, para todo o sempre!...
Ao cair da noite chegámos ao Porto!, e... afinal o Amigo Estudante de Coimbra, do qual não lembro nem sequer o nome, se é que ele mo disse,... ele me levou a uma pensão, aonde jantei sózinho...
- acho que comi apenas algumas batatas com um pedaço de carne de porco e, um pouco antes da meia noite, o Amigo Estudante de Coimbra veio me buscar, para me levar ao comboio em Campanhã para eu seguir o meu caminho...
Na subida para a carruagem...
- mas... voismecê num bai até Coimbra????
Não!... eu ando lá a estudar, mas ainda tenho que fazer aqui no Porto umas coisas, e só vou daqui a uns dois ou três dias!...
- mas não te apoquentes!... olha este comboio vai directamente para Lisboa!...
- tu só sais daqui quando ele parar na Estação de Santa Apolónia!
Subi na carruagem,... ajeitei uma pequena maleta no bagageiro, e prendi uma saquita de pano no braço, onde levava uma merenda que a minha Mãe tinha lá metido, para o caso de me dar a fome!...
Na manhã do dia seguinte, lá chegámos a Santa Apolónia... aonde naqueles primeiros momentos - umas duas horas ou mais... não estava ninguém à minha espera!
(a continuação desta viagem a relatámos já algum tempo atrás, e parcialmente se encontra publicada algures)
Desta feita, fazemos aqui um apelo ao Amigo Estudante de Coimbra,... se porventura alguém se recordar deste episódio!...cuja data exacta se perde na poeira do tempo,... dos primórdios da Primavera do ano de 1962,... e deve ser alguém que já vinha de Barca D'Alva, ou então embarcou conosco na Estação do Pocinho!...que nos mande um sinal, uma mensagem deste Anjo da Guarda, a quem eternamente agradecemos pela lhanesa de caracter, pela amabilidade que teve, de nos ajudar a suportar esta dura realidade da nossa entrada pessoal na Diàspora!,... que tantas amarguras nos traz a todos, que por cá andamos!
P.S. para respostas, pedimos o favor de nos mandar email particular ou deixar recado em algum dos nossos Blogs.
Muito obrigado.
- Silvino Potêncio - O "home" de Caravelas-Mirandela de Trás-Os-Montes!
- Emigrante Residente: Natal/Brasil
http://zebico.blog.com
http://osnizcaros.blog.pt
http://osgambuzinos.blog.com