Caramba, vai na terceira tentativa para escrever um pouco, estou ficando fula, ora toca campainha, ora o telefone isto sem contar com as mensagens miranbulêscas que vem do telemóvel.
Claro que não abro a porta sem conhecer a voz, os bombeiros já cobraram as quotas, vendedores estão mal por estes lados não há dinheiro nem para trocos, a coisa está ficando preta, se os ventos não mudam não sei o que vai ser da raía miuda, onde eu também estou incluída.
A tarde embora quente estava ventosa, vamos lá a ver se não me esqueço do que vou comprar, primeiro tinha de ir ao café dar dois dedos de conversa e beber a bica de costume.
Na mesa do fundo o filho do falecido Zé Canário, me cumprimentou e lembrou de seu pai que eu mal conheci quando vim de África. Tinha histórias engraçadas, uma delas era conhecido como o Zé dos Canários, o que ainda lhe rendeu naquela altura alguns troquitos.
Ele apanhava os passarinhos mais desprevenidos e os pintava de amarelo, e depois ia até á fronteira de Espanha e os vendia como se fossem pequenos canários, fez isto varias vezes mas um dia teve azar, e quando esperava por algum comprador desprevenido heis que começa a chover, ai a tinta começa a cair dos pobres passarinhos, pelo que só lhe restou cavar para não levar uma surra...
Ontem sonhei com meu velho pai o rebelde Percheiro que nunca se calava quando tinha razão, também gostava de falar como eu, hás vezes me dizem que sou uma "gralha", especificando a palavra gralha, quer dizer pequenos pássaros barulhentos ahahah então é isso que eu sou...
Quando já todos tinhamos comido ainda ele estava no pão com um pedaço de queijo bem á alentejano contando suas histórias que nos prendiam á mesa... aquilo é que eram refeições de família, e atenção que nem os mais velhos podiam sair da mesa sem pedir licença.
Tantos espargos que engoli inteiros santo Deus! Coitado se ele visse a ladroagem que gera neste pais acho que lhe dava um ataque, mesmo assim me lembro dos adjectivos carinhosos que ele dava a alguns politicos... no tempo da "Maria Cachucha" lhe faziam logo a folha, mas também hoje fala-se de tudo e nada se faz, ou seja faz-se ouvidos moucos o que é pior...
Somos um pais de navegadores e andamos todos á deriva...
Cá pelo burgo onde moro, se me deixassem reinar um pouco muita coisa mudaria, as ruas deixariam de ser penicos de cães sem dono, e assim passariamos a andar de cabeça levantada olhando atentamente o amigo do alheio sempre pronto para o golpe certeiro, mas o medo tomou conta de certos senhores que fazem vista grossa a muita coisa e assim certas zonas se tornam em bilhetes postais pouco sugestivos.
Lá se foi a Manuela Moura Guedes... cá por mim tinha uma coisa que eu admirava, e que talvez fosse incomoda para alguns, frontal e directa enfrentava o touro de frente, mas é assim que sempre acontece a quem diz a verdade.
Pronto acabei, ninguém mais bateu á porta e o telefone ficou mudo, boa noite até amanhã
São Percheiro