Vale a pena... Beijo,
Mayra
VIDA
Ricardo Gondim
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para
viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela
menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou
displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem
eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos
fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para
eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para
discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar
da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do
relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos a
limpo". Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo
majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as
pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de
gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se
encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge
de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja
tão somente andar ao lado de Deus.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar
desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.
O essencial faz a vida valer a pena.
Nada neste mundo faz sentido se não tocamos o coração das pessoas. Se
crescemos com os golpes duros da vida, também podemos crescer com os
toques suaves na alma.