Ensaio promovido pela União Europeia revela que só 41% das compras a lojas estrangeiras a partir de Portugal resultam. E os preços até valeriam a pena para o consumidor. Média comunitária ainda pior.
Cada vez que um português usa a Internet para comprar viagens, livros ou serviços noutro país da União Europeia (UE) tem seis hipóteses em 10 (59%) de não conseguir concretizar o negócio.
Um insucesso explicado sobretudo pela recusa de muitas empresas em enviarem produtos para outros países comunitários. À qual acrescem outras dificuldades, como a falta de meios de pagamento adequados.
Os dados constam de um estudo da Comissão Europeia sobre comércio electrónico, divulgado ontem, do qual se conclui que no que diz respeito à Internet o mercado comum está longe de ser uma realidade.
A média da UE é ainda pior do que a Portuguesa, com uma taxa de fracasso de 61%, e apenas dois países entre os 27- a Áustria e a Espanha conseguem uma taxa de sucesso acima dos 50%.
Mas Portugal sai prejudicado por outro motivo: está entre o lote dos países para os quais as compras na Net permitiria comprar mais de metade dos produtos com pelo menos 10% de desconto.
Contactado pelo DN, Mário Frota, presidente da Associação Portuguesa de Direito do Consumo, atribuiu estes dados à "falta de confiança" das empresas nas vias de distribuição, nomeadamente os serviços postais: "Conhecemos as dificuldades. Basta pensar no que acontece no aeroporto com as bagagens. É possível que não exista cobertura de seguro adequada para as empresas, que assim têm o ónus da eventual perda do produto".
Mas a verdadeira falta de confiança, para Mário Frota, está do lado do consumidor. É isso que parecem comprovar os dados que revelam que menos de um terço dos consumidores da UE já fizeram compras 'online' no último ano.
"A este nível, as previsões de crescimento da UE a falharam redondamente", lamentou Mário Frota, apontando a persistência de problemas como as "fraudes com cartões de crédito" como um dos obstáculos ao interesse dos consumidores por este mercado.
Já o facto de Portugal estar inserido no lote de países para os quais seria mais vantajoso intensificar estas compras não deixa também de se prestar a uma conclusão negativa - pagamos muitos produtos mais caros.
"Se pensarmos nos supermercados, mesmo num cabaz de produtos baratos, acabamos por pagar uma vez e meia a duas vezes o preço de outros países do do Sul da Europa, alerta o especialista em consumo. "Pagamos a mais, com salários mais baixos".
http://dn.sapo.pt/bolsa/interior.aspx?content_id=1400724