Foi o que me ocorreu, vos oferecer um café bem quentinho acabadinho de moer na machamba do velho Percheiro, e como cheira bem...
E como me lembrei de ti pai... De alguns natais que passei na tua companhia, os nossos irmãos sedentos de saber se o Menino Jesus traria alguma prenda no sapatinho.
Foram bem poucos os meus natais em família, nem nunca me lembrava que tinha nascido nesse dia, apenas a alegria de estarmos juntos na mesa grande de madeira onde os manos se sentavam nos bancos compridos sempre fazendo das suas, eu que era a mais velha era talvez a pior, talvez porque tinha um lugar especial numa cadeira especial...
E hoje ao lembrar que se está apróximando o dia apenas sinto melãncolia saudade, tanta coisa que se desmoronou na minha vida, tanta caminhada e agora...
Mas chega de tristezas, hoje o padeiro passou mais cedo, claro que fiquei sem pão estava um frio do caraças e detesto levantar-me cedo no Inverno, o galo do vizinho bem que cantou, mas eu sonhava, e pensava que era o galo do meu finado sogro gritanto para não ir para a panela, coitado triste destino...
Minhas mãos estão geladas, depois ainda não vieram por a luz em nosso nome conclusão, para acender uma luz temos de pedir licença á outra um verdadeiro inferno!
Este ano dei largas á preguiça e não vou fazer nenhuma receita especial, também para talvez quatro "gatos pingados", basta encomendar alguma coisa, e assim cuido de minhas unhas, e se não viesse ninguém era capaz de dormir, o frio é muito e acho que estou virando "avózinha congelada", nada me aquece.
Da minha janela vejo algumas das casas vizinhas onde o espirito natalicio não se faz sentir, nenhuma luzinha, nenhum enfeite, eu como sempre gosto de ver muitas luzinhas, cada uma delas me lembra um ente querido, as outras me lembram os amigos que um dia tive, e os que ganhei depois, e por cada uma delas eu peço ao Menino Deus que olhe por esse amigo.
As ruas principais estão iluminadas, estas aqui pertencem a um outro planeta, é pena que haja tantas divisões, tanta descriminação, tanta falta de espirito cristão...
Na noite de Natal pelo menos nas grandes cidades (aqui não conta) os pobres tem direito a uma sopinha quente, um pão de Deus, valha-nos "esse dia" outros ficam no rol do esquecimento.
Esta quadra me faz muito mal, me sinto péssima.
Recordo o último Natal no Alua, a Joanita de 6 anos filha do mainato não queria vir para a mesa comer os belos docinhos que Mãe preta havia feito no forno a lenha, e comia coçando a carapinha a sua preciosa "chima", ahha mais sobrava para os gulosos dos Percheiros...
Adeus a tantos natais, adeus Pai, e olha se é que "ele" te ouve pede por todos nós, em especial por todos os meninos do mundo.
Santo Natal
São Percheiro