“Niassa”, romance de estreia do jornalista Francisco Camacho e da chancela Babilónia, da ASA (posteriormente relançado apenas com a marca ASA), foi sem dúvida uma das melhores surpresas literárias de 2007 proporcionadas por autores portugueses.
O romance, como o próprio título indica, tem por “núcleo” a região moçambicana do Niassa. É, portanto, uma obra que reporta ao passado português na antiga ex-colónia, mas, felizmente, sem aqueles saudosismos lamechas que costumam “enfeitar” e “ferir” as histórias relativas ao antigo “Império Português”. “Niassa” trata-se, somente, de uma boa história, na actualidade, sobre um homem de 30 anos que vive em Cascais com um tio e que resolve ir à procura de um irmão desaparecido. O protagonista saiu de Moçambique ainda criança e poucas ou nenhumas recordações tem da sua infância, nada lhe dizendo, assim, o país onde, contudo, ficaram a morar o pai e os dois irmãos mais velhos.
Assim, não parte de encontro ao seu passado, mas sim de algo que é completamente novo para si: a realidade moçambicana. E é através dos seus olhos que o leitor deste romance pode conhecer um pouco desse país, ajudado pelas descrições de Francisco Camacho, que usa uma linguagem simples e viva para criar imagens fortes e coloridas que facilmente se alojam na memória de quem lê “Niassa”. Com detalhe mas sem ser demasiado exaustivo, Camacho aproveita o que de melhor lhe ensinou a objectividade do jornalismo para “oferecer” um romance sem pontos mortos mesmo sem ser uma história de acção e aventura frenética. É com redobrado interesse que se acompanha a (re)iniciação do protagonista em Moçambique. Conforme vai conhecendo o passado do seu irmão desaparecido (para ele um perfeito desconhecido), o homem de Cascais vai conhecendo, também, a História recente de Moçambique, o que o ajuda a entender melhor o percurso dos seus irmãos e do seu pai, que nos tempos conturbados da independência preferiram ficar no país que adoptaram como seu, mesmo pondo a vida em risco. Assim, em simultâneo vamos conhecendo a trágica história da sua família desde a grandeza da época colonial até à guerra civil moçambicana.
E depois… temos as magníficas paisagens moçambicanas aqui tão bem retratadas por Francisco Camacho, um amante assumido da região do grande lago Niassa.

http://portalivros.wordpress.com/2009/03/23/niassa-francisco-camacho-2/