Antes da introdução destes serviços, circular pelos bairros da cidade de Tete, particularmente dos peri-urbanos, constituía um perigo autêntico. Por exemplo, ao longo da estrada que liga as duas margens do Vale de Nhartanda, ponto de separação entre as zonas residenciais urbanas e suburbanas do município da cidade de Tete, nomeadamente os bairros Sansão Muthemba e Déguè, os criminosos escondem-se debaixo de pontecas e aquedutos à espera das suas vítimas a quem espancam e roubam-lhes os seus haveres.

Para evitar que sejam surpreendidos, os estudantes do curso nocturno depois das aulas que terminam por volta das 23 horas, circulam em grupos numerosos para atravessar o Vale de Nhartanda. Por outro lado, agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) em coordenação com os membros do policiamento comunitário fazem o patrulhamento da zona. No entanto, porque os meios que usam são escassos, volta e meia os criminosos voltam a aterrorizar a área.

O Conselho Municipal da cidade de Tete, em coordenação com a empresa Electricidade de Moçambique (EDM) procedeu à extensão da linha de transporte da energia eléctrica e à colocação da iluminação ao longo da estrada no troço TT/Chimadzi na tentativa de reduzir o índice da criminalidade na área, medida que aparentemente está a dar os efeitos desejados.

Cidadãos abordados pela nossa Reportagem na capital provincial de Tete manifestaram satisfação pela introdução das carreiras dos Transportes Públicos Urbanos (TPU) pois, conforme assinalaram, para além de facilitar as suas deslocações veio melhorar as condições de segurança. Joana Domingos, funcionária da Saúde e estudante do curso nocturno na Escola Secundária de Tete e residente na Unidade Chicolodwè, no bairro Sansão Muthemba, disse que as carreiras dos TPU vieram minimizar o sofrimento e o medo por que passavam para atravessar o Vale de Nhartanda.

“Mal dava o toque da última aula começava o medo pois não sabia se teria companhia de outros colegas para atravessar o Vale de Nhartanda a caminho da casa. Às vezes não tinha aulas do último tempo mas devido ao receio era obrigado a ficar na escola à espera de outros colegas para nos fazermos companhia. Hoje, com a introdução das carreiras dos TPU e mesmo dos “chapa-100”  que circulam até às 23 horas isso já não acontece. As pessoas circulam à-vontade e sem receio. Foi uma das melhores medidas tomadas pelo governo na área dos transportes e comunicações”, disse Joana Domingos.

António Francisco, comerciante ambulante na zona de Chimadzi e residente no bairro Francisco Manyanga, no centro da cidade de Tete, anotou ser um perigo atravessar a estrada TTA/Chimadzi depois da hora que exerce a sua actividade. “Tive que comprar uma motorizada na tentativa de escapar das emboscadas dos bandidos depois que sofri três assaltos consecutivos na estrada do Vale de Nhartanda durante os quais me saquearam os bens, nomeadamente telefones celulares, entre outros porque dinheiro nunca levei para casa por questões de segurança”, disse.

Referiu que depois que lhe roubaram também a motorizada em Junho último, passou a recorrer ao serviço de táxi que entretanto abandonou-o com a introdução das carreiras dos TPU. “A situação agora melhorou muito”, conforme assinalou.

Entretanto, a PRM considera que o índice de criminalidade tende a reduzir nos últimos 11 meses na capital provincial de Tete, sobretudo nos bairros suburbanos atravessados pelo Vale de Nhartanda. O comandante provincial daquela corporação, Jamal Chande disse que com a introdução das carreiras dos TPU e dos semi-colectivos de passageiros e de carga que circulam até altas horas da noite, a situação da segurança pública tende a melhorar cada vez mais.

“As pessoas sabem que existem autocarros que circulam até altas horas da noite para os seus bairros daí  programarem melhor as suas deslocações não para além da hora. Isto é bom porque contribui para a diminuição da ocorrência de casos criminais na zona”, disse o comandante provincial da PRM, em Tete.

O director provincial dos Transportes e Comunicações de Tete, Paz Semente Catruza, considera que o ano de 2009 foi de muitas realizações no seu sector, com o licenciamento de novos operadores do ramo para o transporte de passageiros e carga e a consequente abertura de novas rotas. Referiu que fora daqueles factos, a maior companhia transportadora aérea do país, a Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) alargou o número de voos para aquele ponto, na perspectiva de melhorar a prestação dos serviços à sociedade.

Actualmente, é possível voar directamente da cidade de Tete à sul-africana de Joanesburgo, o que facilita as deslocações dos passageiros com destino a outros países da Europa e África Ocidental que antes eram obrigados a escalar a capital do país, Maputo.

Paz Semente Catruza referiu que o sector dos transportes rodoviários, está a operar em grande parte das rodovias da província, o que permite o transporte de pessoas e bens e a assistência permanente do governo às comunidades rurais. “Temos rotas que servem o distrito de Changara a Cuchamano, de Angónia a Calomuè, de Moatize a Chifunde e Cassacatiza  junto à fronteira com a Zâmbia. Os transportes que operam nestas vias estão todos licenciados e devidamente inspeccionados, o que garante a sua segurança”, disse.

No total, de acordo com a fonte, estão licenciados 270 operadores para o transporte de passageiros e 300 para a carga. No entanto, admitiu a existência de transportadores ilegais contra os quais prometeu medidas punitivas. O director provincial dos Transportes e Comunicações de Tete assinalou que durante o ano de 2009 o seu sector conseguiu reduzir o número de transportadores que operam ilegalmente, o que, de acordo com as suas palavras, “nos leva a crer que estes ganharam consciência de que devem pautar pela legalidade”.

A propósito, o nosso interlocutor disse que, para o efeito, o sector que dirige realizou durante o ano de 2009 patrulhas de fiscalização rotineira durante as quais foram detectadas viaturas que circulavam em deficientes condições de manutenção entre outras recomendadas para o transporte de passageiros. Na sequência destas acções pelo menos 50 viaturas foram retiradas da circulação, conforme explicou. Na ocasião, considerou o fluxo de operadores de bastante aceitável já que, de acordo com as suas palavras, não se registam grandes aglomerações nas várias terminais da província.

Admitiu, no entanto, persistirem alguns problemas com os transportes semicolectivos de passageiros e de carga para os distritos de Zumbo, Mágoè e Mutarara que, devido ao mau estado das vias não permite que os operadores coloquem as suas viaturas naquelas linhas.

Para o ano de 2010 os distritos de Magoé, Mutarara e Chifunde vão receber carreiras regulares de transporte semi-colectivo de passageiros e de carga como resultado do trabalho de melhoramento das vias de acesso levado a cabo pelas autoridades governamentais. “Pelo esforço em curso, nomeadamente no melhoramento das estradas que ligam a estes distritos como são os casos das de Chitima/Magoé/Mecumbura, Madamba/Nyamawabue/sede distrital de Mutarara e Luía/Nsadzo, sede do distrito de Chifunde onde as rodovias estão sendo melhoradas, vamos a partir de 2010 ter operadores a trabalharem nestas linhas”, conforme explicou.

O excesso de velocidade, a condução em estado de embriaguez, tratamento incorrecto aos passageiros por parte de alguns motoristas e seus ajudantes são alguns dos comportamentos que perigam a vida dos utentes dos transportes semicolectivos de passageiros, vulgo chapa-100 e taxis da praça.

O director dos Transportes e Comunicações de Tete disse ter conhecimento destas situações sendo que os seus autores são penalizados sempre que forem apanhados em flagrante. Tais penalizações, conforme explicou, compreendem multas e apreensão das cartas de condução.

“O comportamento de alguns motoristas e seus ajudantes deixa, até certo ponto, muito a desejar. Não poucas vezes temos visto os condutores a circularem a altas velocidades, a tripulação não tem sempre presente a questão da segurança rodoviária e quando é assim temos procurado falar com os proprietários das viaturas sobre o comportamento dos seus trabalhadores. Só que estes também nada fazem o que resulta em situações desagradáveis”, disse Paz Catruza.

A Polícia de Trânsito afirma que tem tentado inverter este cenário mas que o índice das transgressões tende a aumentar, o que significa que as mensagens transmitidas não têm sido acatadas. “Isto porque não é fácil controlar directamente o comportamento dos motoristas ao longo do trajecto. Por aquilo que é a nossa articulação com o nosso agente fiscalizador do tráfego automóvel que é a Polícia de Trânsito, estamos a notar que o volume de penalizações aos motoristas está a aumentar, o que significa que a situação não é das melhores”, conforme assinalou a fonte.