Hoje me deu uma vontade louca de chorar...
Mas se me perguntarem não saberei explicar
saudade dum tempo que não tive
do tempo que não brinquei, da bola que não joguei!
Senti vontade de chorar por tudo um nada
do nada que sempre foi meu companheiro,
do tempo a vida inteira.
É já quase noite, vai para uma semana que não vou á rua, e hoje me deixei ficar na cama enquanto eles iam almoçar! Nada me apetece, olho, tudo me é estranho me entristece, será que não consigo esquecer a minha casinha de madeira tôsca?  Que raio de môsca me havia de morder, logo agora que tinha tantos projectos em mente, está sendo difícil de encontrar novamente forças para vencer.

Também o tempo não ajuda, ora chove ora pinga, o sol fez greve, a casa é um gêlo e talvez todo este casarão me faça confusão, se estou nesta salinha onde estou escrevendo a outra parte é como quem desce para o Tejo sem água claro, simplesmente uma janela ampla onde dá para outro muro de um vizinho.

Ainda hoje estou á espera que o meu amigo Espadinha me mande o galo que me prometeu, embora que o meu vizinho do lado tem um que canta a qualquer hora, e até uma Catatua que fáz coro com ele, assim nem dá para saber se é madrugada...

Na noite de fim de ano em vez de fogo de  atifício, a ciganada lembrou-se de andar aos tiros...

O tempo continua remando contra mim, mas não vai conseguir me vencer, quando sair á rua, ficarei uns momentos bem gostosos recebendo no rosto aquele ventinho gelado...