O músico Johnny Alf, um dos precursores da bossa nova, morreu na tarde desta quinta-feira (4), em Santo André (SP). O artista estava internado no Hospital Estadual Mário Covas, onde passava por um tratamento contra um câncer na próstata.
Segundo Nelson Valencia, empresário de Alf, o músico havia sido internado na última segunda-feira (1), quando seu estado se agravou. A doença havia sido diagnosticada há 10 anos.
“Johnny era uma pessoa muito serena e espiritualizada. Estava encarando a doença com otimismo, nunca se desesperou”, conta o empresário.
Valencia explica que mesmo após saber da doença, Alf continuou a fazer shows. “Nos últimos três anos ele deu uma parada. Mas até agosto do ano passado chegou a fazer algumas pequenas apresentações"
Alfredo José da Silva nasceu em 19 de maio de 1929, no Rio de Janeiro, e iniciou os estudos de piano ainda criança. Na adolescência, se interessou pelo jazz e pelas músicas do cinema norte-americano. O apelido foi dado por uma amiga americana.
No início da década de 50, Alf formou seu primeiro grupo musical no Instituto Brasil-Estados Unidos. Logo depois, uniu-se a Dick Farney e Nora Ney apresentando-se na noite carioca e nas rádios. Dessa época são as composições "Estamos sós", "O que é amar", "Podem falar" e "Escuta", que apareceram no disco de Mary Gonçalves "Convite ao romance", de 1952, e ajudaram a lançar a carreira de Alf.
Em 1955, lançou "Rapaz de bem" e "O tempo e o vento" em um compacto que foi considerado o primeiro disco da bossa nova. . Segundo o escritor Ruy Castro, Alf é "o verdadeiro pai da bossa nova".Tom Jobim, outro pioneiro, da bossa costumava chamálo de 'Genialf'.
Uma das últimas apresentações de destaque do pianista aconteceu na exposição “Bossa na Oca”, em São Paulo, em 2008. Na mostra que homenageava os 50 anos do estilo musical que projetou o Brasil mundialmente, Alf teve um encontro virtual com ídolos como Tom Jobim, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald e Stan Getz. O artista tocava piano com as projeções dos colegas, já mortos, para um filme que foi exibido ao longo do evento.
“Ele ficou muito emocionado quando viu o resultado, os olhos encheram d´água”, conta o curador da exposição, Marcello Dantas. “Ele falava pouquinho, em decorrência de um derrame que havia sofrido pouco tempo antes. Mas o semblante dizia tudo, não era preciso palavras”.
Para o curador, Alf foi desvalorizado pela memória do país. “É o caso clássico do artista que não teve o reconhecimento a altura de seu talento. E Alf foi um gênio, teve participação na história da nossa música”.