A poetisa Alda Espírito Santo, figura de primeira linha na luta pela independência são-tomense, morreu hoje em Luanda aos 83 anos, disse à Agência Lusa fonte do Governo de São Tomé e Príncipe.
Remetendo pormenores para depois de uma reunião do Conselho de Ministros, que está a decorrer, a mesma fonte disse apenas que Alda Espírito Santo estava internada numa clínica em Luanda, Angola.
Alda Espírito Santo, também conhecida por Alda Graça, nasceu em São Tomé em 1926 e teve a sua educação em Portugal. Ainda frequentou a Universidade, mas teve que abandonar, em parte devido às suas actividades políticas, mas também por motivos económicos. Sendo uma das mais conhecidas poetizas africanas de língua portuguesa, ocupou alguns cargos de relevo nos governos de São Tome e Príncipe, nomeadamente foi Ministra da Educação e Cultura, Ministra da Informação e Cultura e Deputada. Os seus poemas aparecem nas mais variadas antologias lusófonas, bem como em jornais e revistas de São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique. Depois de publicar "O Jogral das Ilhas, em 1976, publicou em 1978 "É nosso o solo sagrada da terra", considerado o seu trabalho mais importante.
Angolares1
Canoa frágil, à beira da praia,
panos preso na cintura,
uma vela a flutuar...
Caleima2, mar em fora
canoa flutuando por sobre as procelas das águas,
lá vai o barquinho da fome.
Rostos duros de angolares1
na luta com o gandu3
por sobre a procela das ondas
remando, remando
no mar dos tubarões
p'la fome de cada dia.
Lá longe, na praia,
na orla dos coqueiros
quissandas4 em fila,
abrigando cubatas,
izaquente5 cozido
em panela de barro.
Hoje, amanhã e todos os dias
espreita a canoa andante
por sobre a procela das águas.
A canoa é vida
a praia é extensa
areal, areal sem fim.
Nas canoas amarradas
aos coqueiros da praia.
O mar é vida.
P'ra além as terras do cacau
nada dizem ao angolar1
"Terras tem seu dono".
E o angolar1 na faina do mar,
tem a orla da praia
as cubatas de quissandas4
as gibas pestilentas
mas não tem terras.
P'ra ele, a luta das ondas,
a luta com o gandu3,
as canoas balouçando no mar
e a orla imensa da praia.
(É nosso o solo sagrado da terra)
1 - Angolar: grupo étnico são-tomense. Segundo a tradição portuguesa, sem confirmação científica, teria naufragado, em frente ao extremo sul da Ilha de São Tomé, um barco transportando cativos (1550). Estes, logrando alcançar a costa, teriam dado origem ao Povo Angolar. Admite-se, todavia, que os angolares tenham alcançados a Ilha por seus próprios meios, provenientes do Continente Africano;
2 - Caleima: ondulação forte do mar;
3 - Gandu: tubarão;
4 - Quissanda: tapumes feitos com folhas de palmeira;
5 - Izaquente: frutos cujas sementes são caracterizadas por um alto poder energético.
SAPO\ Lusa