A vida nada mais é que rabiscos que vamos fazendo ao longo da vida, e rabiscando por entre os montes de papeis dispersos, eu me senti uma actriz consagrada nesta farsa que é a vida.
Umas vezes rindo para não chorar e assim borrar os olhos onde a tinta ainda está fresca...
Nada mais que um rabisco que a cada dia nos dá ou tira as forças.
Hoje o dia amanheceu solarengo, finalmente abracei docemente uma réstia de sol que sorrateira me entrou pela sala dentro, e me segredou; "anda, não sejas preguiçosa, te arranja e sai, vai ver o sol enquanto dura"... Assim fiz mesmo sem almoçar deixei tudo pronto e sai sem destino.
Antes de dar corda ás sadálias olhei o quintal da vizinha da frente, raio das fracas que não se calam, é dia e noite.
As fracas como aqui lhes chamam eram lá as galinhas do mato, fazem um banzé do caraças, são bons guardas.
O meu vizinho do lado direito é gatos e um galo que canta a qualquer hora, na parte que me toca é uma rua sossegada, ás 10 horas vem o padeiro, o carteiro e pouco mais.
Da janela de onde escrevo posso ver quem passa sem que me vejam.
O café estava calminho, ninguém especial para anotar.
Sai sem destino acabando por entrar no "chinezinho limpa não o pó mas os euritos", mesmo assim comprei uma blusa de marca por 3 euros que quero eu mais?...
Depois segui em frente e fui dar ao esqueleto do que fora o 17, cortei um pé da roseira rosa que continua senhora e altiva no meio de tanto esterco e vandalismo...
Bolas já me ia esquecendo e ia borrando os olhos, nada disso, virei costas e voltei para casa com o sol já indo de fininho quem sabe com a promessa de voltar amanhã...
E assim quem sabe também eu amanhã volto.
São Percheiro / Isabelf