Há quem diga que é uma árvore maligna, inclusive o autor francês Saint Exupery no seu conhecido livro "O Principezinho" a descreve como sendo uma árvore que ao espalhar as suas sementes nunca mais nos livramos dela. Mas será? Na realidade é uma árvore secular.
Magnífica e com uma forte tradição africana. Quem não se encanta perante a sua magnitude e imponência? Há exemplares que dão às paisagens africanas um toque de magia. É predominante nas províncias de Cabo Delgado, Inhambane e Tete.
Há uma lenda africana que conta que o embondeiro, nome científico Adansonia, por ter inveja das outras árvores, foi castigado pelos deuses e posto de cabeça para baixo: a copa foi enterrada e as raízes ficaram para cima.
Quando avistamos um fossilizado entende-se a origem desta história. Dependendo da sua idade pode atingir até 20 m de altura. O seu tronco poroso pode ter 10 m de diâmetro e armazenar até 120 mil litros de água, daí resistir a grandes períodos de seca. Por o seu tronco ser tão largo pode servir de abrigo, de loja, celeiro e até de sepultura.
Em Chupanga nas margens do rio Zambeze havia o embondeiro de Livingstone onde consta que o navegador dormiu durante várias noites. Mais tarde sepultaria aí sua mulher Maria mas um incêndio destruiu este templo
Greg Carr, o multimilionário que investiu no Parque Nacional da Gorongosa também conta que muitos animais procuram abrigo nos braços do embondeiro:
“Galagos, esquilos, roedores, lagartos, cobras, sapo das árvores, aranhas, escorpiões e insectos podem viver toda a vida numa única árvore. Os buracos nos troncos abrigam ninhos de rolieiros, calaus, papagaios, falcões e cucos. Famílias inteiras de corujas ou calaus-do-solo podem viver nas maiores cavidades”, concluindo: “Estamos ainda atentos às águias, falcões, cegonhas e tecelões de bico vermelho que constroem os seus largos ninhos nos ramos distantes.”
Mas se há quem o considere amaldiçoado, há também quem olhe para o embondeiro como curandeiro. Hoje a cultura ocidental sabe tirar partido desta árvore considerando-a como uma fonte de juventude e luta contra o envelhecimento, pois em marcha estão algumas investigações e teses que provam que cremes e medicamentos feitos à base dos seus frutos e sementes combatem os radicais livres, os grandes responsáveis pela nossa degradação celular.
Uma coisa é certa: da casca os locais conseguem fazer fibras têxteis ou corda, do tronco reservatórios de água, do pólen das flores extraem cola, dos frutos alimentam-se, pois as sementes podem ser comidas cruas, transformadas em papas de milho moído ou torradas para fazer uma bebida estilo café.
A polpa parece ter um sabor reminiscente de creme tártaro e algums tribos usam-no para coagular o leite e fazer uma espécie de queijo. Os locais também acreditam que os seus frutos ajudam a tratar algumas maleitas, como a febre. Outra mais-valia: ajuda a emagrecer por saciar o apetite.
Da madeira constroem-se canoas e utensílios para a casa. O seu óleo é igualmente comestível, servindo ainda para fazer sabão. E muito mais… Neste momento há já uma indústria formada para tirar partido de todas as particularidades desta árvore mágica.
Texto e foto: Teresa Cotrim
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