Maria Isabel Torres mostra uma estatueta do Papa João Paulo II
que tem à venda na sua loja em Fátima
Correio da Manhã
por: Ricardo Almeida
Comércio: Visita do actual Papa não faz crescer o negócio em Fátima
A um mês da visita de Bento XVI a Fátima, os comerciantes estão pouco entusiasmados com um acréscimo no negócio. Por três razões: o Altar do Mundo já está sempre lotado a 12 e 13 de Maio, os fiéis continuam a rever-se muito mais na figura de João Paulo II e devido ao escândalo da pedofilia que afecta a Igreja em todo o Mundo.
Os artigos relacionados com a presença do Papa na Cova da Iria ainda são escassos e quase não estão expostos nas montras de artigos religiosos. "As pessoas não procuram Bento XVI. Compram é artigos relacionados com João Paulo II", diz Fernanda Marques, há três anos a trabalhar na loja Três Pastorinhos, adiantando que "não se espera nada de especial" nas vendas.
"Não há muita procura", reforça Maria Isabel Torres, proprietária de uma loja existente há 45 anos na Cova da Iria. "João Paulo II é que é o Papa querido", explica a comerciante. Além dos estabelecimentos ainda não terem muitos objectos sobre Bento XVI, os fornecedores não estão a fazer grande pressão em sentido contrário, pelo que a oferta é escassa, embora possa subir na semana da peregrinação.
Para Manuel Silva, da loja de Artigos Religiosos do Santuário – uma das poucas com uma imagem de Bento XVI na montra – a relação dos peregrinos com este Papa e o anterior "não tem nada a ver". "Procuram muito mais os artigos relacionados com João Paulo II, que tem uma ligação muito forte a Fátima."
"Parece que as pessoas não se identificam com este Papa. Até penso que há coisas demais, que não vão ser vendidas", diz Manuel Silva, considerando que "vai acontecer como com o Papa Paulo VI, há 43 anos: ainda aí tenho medalhas dessa altura. Passando esta fase, acaba a procura. Com João Paulo II é muito diferente".
A coincidência das visitas papais com os dias 12 e 13 de Maio também não ajuda ao negócio. "É a pior altura do ano", diz Fernanda Marques, porque a Cova da Iria já está sempre cheia. "Em Fevereiro é que valia a pena o Papa vir. Não é milagre nenhum estar tudo esgotado, em Maio é sempre assim", acrescenta Maria Isabel Torres.
Para os comerciantes, as vendas estão também a ser afectadas pelo escândalo da pedofilia envolvendo membros da Igreja. "Essa ‘polemicazinha’ não está a ajudar, até está a estragar", diz Fernanda Marques, reflectindo o que pensam outros colegas que preferiram não ser identificados. É que neste contexto, a par de outros factores, os fiéis tendem a associar-se menos a esta Igreja do que à de João Paulo II.