Que é bom estar junto dos amigos ninguém duvida. Mas será que refletimos sobre os significados mais profundos da verdadeira amizade? Que sentimento é esse que une pessoas diferentes, que ultrapassa limites e distâncias?
O verdadeiro amigo é alguém com quem podemos expressar nossos sentimentos mais íntimos. Ao mesmo tempo é aquele com quem somos capazes de compartilhar o silêncio sem constrangimento. É a pessoa com quem se deseja estar nos piores e nos melhores momentos. A verdadeira amizade é terapêutica em muitos sentidos, mas não se mantém pela utilidade que venha a ter. Porque chamamos de amigo aquele a quem simplesmente amamos e somos por ele amados. Assim, sem grandes explicações, não cabendo em predefinições.
No laço de amizade queremos ver o outro bem, queremos presenciar seu crescimento, compartilhamos suas dores e alegrias, estamos ao lado. O amigo é aquele que nos aponta o que precisa de cuidados, que nos diz às vezes palavras duras com a intenção de que sejamos pessoas mais plenas. Em outros momentos ele nos traz palavras doces, equilibrando nosso modo duro demais diante de algumas situações. O amigo é aquele que parece sondar o mais profundo em nós, ele vem com seu jeito único e nos apresenta um outro lado. Ou simplesmente cala para que nós possamos ouvir nossas próprias palavras ecoarem. Oferece o ombro, os ouvidos e o coração.
O amigo é aquela pessoa que faz parte de nossa vida, porém não o possuímos. Com ele aprendemos que o outro é como é, aprendemos a aceitar e a amar incondicionalmente. Nesse vínculo vamos aprendendo as relações de paridade, em que não há autoridade a seguir, mas sim respeito a compartilhar. Aprendemos a resolver questões em conjunto, a expor o que sentimos, a perceber melhor quem somos. Com a troca de experiências o humano se revela e percebemos que somos parte de um todo muito maior, que não somos os únicos a sentir, a sofrer, a sorrir.
Nessa relação deixamos de ser mais um na multidão que se espreme nas ruas da cidade. Somos mais que números, registros e letras. Somos pessoa, carregamos uma história. Temos uma testemunha. Ele vê os degraus que subimos, as pedras em que tropeçamos, a hesitação, a coragem. Ele acompanha, oferece seu olhar, a sua opinião ou o necessário apoio. No vínculo de amizade sabemos que a existência do amigo é a garantia de um "Estou aqui", uma frase aparentemente simples, no entanto, permeada de presença e companhia.
Por tudo isso (e por tudo o mais que não cabe em palavras) é que lhe convido a refletir: Você está próximo de seus amigos com a frequência desejada? Você encontra tempo para estar com eles, assim como reserva tempo para outras atividades cotidianas? Ou o amigo deixou de ser parte de seu cotidiano? Passou a integrar o campo do extraordinário só participando de datas marcadas? Precisamos instaurar espaço em nossas vidas para momentos de prazer, de troca, para rir e chorar junto, para escolher promover a participação mútua nos acontecimentos.
Por mais que nasça sem grandes explicações, sem motivos explícitos e declaráveis, a amizade só se mantém quando cultivada. Ela se renova a cada momento de presença. Um telefonema, um encontro mensal, enviar um e-mail, marcar um almoço no meio da semana, sem motivo utilitário além da grande razão: queremos nutrir algo que é especial, queremos ver a amizade florescer, queremos estar junto.
Precisamos encontrar espaço para a vida social, que na origem etimológica da palavra carrega o sentido de associação, de fraternidade, de comunhão entre iguais. Vida social em sua concepção mais ampla, de estar junto dos que são nossos irmãos da alma. Isso faz bem para nosso coração, para o coração amigo e para a amizade que se fortalece - gerando mais e mais frutos.
Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista e aromaterapeuta. Trabalha em projetos sociais como facilitadora de grupos de mulheres e grupos de reflexão sobre o Feminino em Belo Horizonte e interior de MG.