Aires Ali na exposição Mafalala Blues
“Esperámos ver, um dia, uma exposição de Chamanculo ou Maxaquene Blues pois isso, de certa forma, vai contribuir para a preservação da nossa história”
A figura de Noémia de Sousa mereceu atenção, nestes últimos dois dias, no Centro Cultural Franco-Moçambicano.
A noite de terça-feira serviu, culturalmente, para homenagear aquela que levantou a voz para defender o seu povo através da poesia.
Nessa noite, a poesia, música e dança constituíram momentos marcantes do evento, que contou com os préstimos do consagrado poeta Calane da Silva, Tânia Tomé e da banda Amigos da Noémia de Sousa.
A homenagem começou com a declamação de Calane da Silva, que apostou em poemas de Noémia de Sousa.
Para além de declamar, Calane da Silva relembrou a vida e obra de Noémia de Sousa. “Noémia de Sousa é uma figura incontornável na história política, cultural e social do país. Com apenas 22 anos de idade, surge na senda literária moçambicana num impulso encantatório, gritando o seu verbo impetuoso, objectivo e generoso, vincado bem fundo na alma do seu povo, da sua cultura, da sua consciência social, revelando um talento invulgar e uma coragem impressionante”, disse Da Silva.
Para Calane, a poesia de Noémia de Sousa, cedo, mostrou-se “cheia de certeza radiosa” de uma esperança, a esperança dos humilhados, que é a da sua libertação”.
Toda a sua produção é marcada pela presença constante das raízes profundamente africanas, abrindo os caminhos da exaltação da Mãe-África, da glorificação dos valores africanos, do protesto e da denúncia.
Por seu turno, Tânia Tomé, poetisa e admiradora da Noémia de Sousa, revelou que o dia 10 de Agosto ficará marcado para sempre na sua mente, dado que é o dia em que completava 16 anos após ter lido a primeira poesia da Noémia de Sousa.
“Para mim, este é um dia importante, completo 16 anos depois de ter cruzado pela primeira com a obra de Noémia de Sousa. Nos seus poemas, o ‘eu’ de Noémia de Sousa é entendido como um ‘colectivo’, um povo inteiro que quer ter palavra - o povo moçambicano. Desta forma, a poetisa assume-se como porta-voz daquele povo que é o seu e, dirigindo-se à terra-mãe que os acolhe e protege, ora canta a sua vida, ora lhe pede perdão pela alienação demonstrada ao longo de tanto tempo, ora promete-lhe a rápida e definitiva devolução do seu direito a uma vida própria, autêntica,”disse Tomé.
Esta homenagem acontece conjuntamente com a exposição “Mafalala Livre”, da neta de Noémia Camila de Sousa e, no decurso da mesma, o primeiro-ministro, Aires Ali, visitou ontem a mostra e manifestou-se impressionado com o trabalho da expositora, tendo recomendado, na ocasião, a réplica da iniciativa para outras regiões do país.
“É preciso que esta iniciativa seja replicada a outras regiões do país. Esperamos ver, um dia, uma exposição de Chamanculo ou Maxaqune Blues pois isso, de certa forma, vai contribuir para a divulgação e preservação da nossa história”, considerou Ali.
Para o primeiro-ministro, a exposição Mafalala Blues deve servir de base de estudo em diferentes faculdades do país, quer públicas ou privadas.
“Deve-se criar condições viradas para o uso desta exposição como estudo nas nossa universidades.deve servir de tese em diferentes faculdades, sobretudo para as faculdades de história de língua portuguesa”.
Já para Camila de Sousa, esta foi a melhor forma encontrada para imortalizar os feitos da sua da poetisa.
Desde cedo, segundo Camila de Sousa, Noémia pretendeu que o seu povo avançasse em colectivo, rumo a um futuro que alterasse os eixos em que se fundamentasse a atitude do homem, mas sem nunca fazer a apologia da desumanização.
Noémia de Sousa nasceu na Catembe, em 1926, e faleceu em Cascais, Portugal, em 2002.
Poetisa, jornalista de agências de notícias internacionais, viajou por toda a África durante as lutas pela independência de vários países e só publicou, tardiamente, o seu livro de poesias denominado “Sangue Negro”, em 2001.
http://opais.sapo.mz/index.php/cultura/82-cultura/8582-diva-dos-poemas-de-africa.html