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General: História do Zeca Russo, por Adrião Rodrigues
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De: isaantunes  (Mensaje original) Enviado: 05/11/2010 21:11




Uma das acções dos promotores do 7 de Setembro foi abrir as portas das cadeias, essencialmente com o objectivo de libertar os Pides presos, que saíram todos. Dos presos de direito comum, uns saíram, outros recusaram-se e ficaram. Entre os que ficaram, contavam-se o Tembe e o Zeca Russo, facto que muito impressionou a frelimo cujo governo, depois da independência, fez deles quadros da nova polícia. Assim acabaram em inspectores da PIC (Policia de Investigação Criminal do jovem país).
Como eles se comportaram nas suas funções, sei o que constava, que era muito mau, mas não sei se tudo o que constava era verdade e se, sendo-o, se era da responsabilidade deles.
Havia prisões a esmo, sem respeito pelos direitos das pessoas e prolongadas por períodos ilegais e inadmissíveis, aqui e ali maus tratos e violência. Os presos e expulsos do país, queixavam-se serem simultaneamente espoliados dos seus bens. A policia apreendia divisas, ouro e jóias, mas não constava que tais bens alguma vez dessem entrada num cofre ou depósito público. Mas era muito difícil verificar estas situações, mas lá que algo de irregular havia soube-o eu pelo que aconteceu. Um dia cheguei ao Banco de Moçambique, de que era vice-governador, e encontrei sobre a secretária um oficio da Policia ordenando a transferência de todas as importâncias depositadas em contas congeladas de um médico qualquer para uma conta da Policia junto do Instituto de Crédito de Moçambique. De facto, meses atrás, quando da nacionalização da medicina e do encerramento dos consultórios médicos, tinha sido simultaneamente ordenado o congelamento das contas bancárias; mas tratava-se de uma medida provisória destinada a prevenir acções de pânico, sendo suposto que a breve prazo as contas voltariam à disponibilidade dos médicos seus titulares, como, de facto depois voltaram.
Porém, transferir o dinheiro depositado numa conta congelada, sem lei ou ordem judicial que o suportasse para uma conta da Policia, era um puro acto de esbulho ilegal, mesmo tendo em conta a chamada “ legalidade revolucionária” tão preconizada pelos juristas esquerdistas. Resolvi telefonar ao meu amigo Dr. Eneias Comiche, presidente do Instituto de Crédito, onde estava sediada a conta da Policia e fiquei a saber coisas para mim espantosas: que a policia dava, com frequência, ordens daquele tipo e que os bancos cumpriam (quanto ao Banco de Moçambique aquela foi a primeira e única vez em que tal ordem lhe foi enviada).Quanto à conta da Policia, ela de facto existia, ela era movimentada por uma única pessoa, o inspector Monteiro dos Santos ( Zeca Russo ) e à medida que abastecida imediatamente posta a zero, com levantamentos pouco claros.
Imediatamente oficiei à Policia informando-a de que, sendo ilegal o seu pedido, a transferência não era autorizada, e enviei uma circular aos bancos dando conta da irregularidade de tais procedimentos. Fiz, ainda, com o total apoio do governador, uma informação para o governo, dando conta da atitude do Banco de Moçambique e alertando-o que a disponibilização por forças armadas de verbas orçamentalmente incontroláveis podia ter os maiores inconvenientes, tais como, por exemplo, a preparação de golpes de estado.
Fiquei à espera que um pedaço de “céu velho” me caísse em cima da cabeça. Mas nada aconteceu e a policia entrou na ordem quanto ao esbulho de depósitos.

A VISITA AO BANCO DE MOÇAMBIQUE

Uma noite, estava eu só, no governo do banco, pois o governador tinha-se ausentado para uma reunião do comité central da Frelimo, apareceu-me um funcionário da casa forte , dizendo que tinha lá em baixo o inspector Monteiro dos Santos, da PIC ( Zeca Russo ), que pretendia inspeccionar a casa forte, para verificar as condições de segurança. O funcionário ( um cooperante português), mostrava-se nervoso, esclarecia-me que tinha respondido que só podia facultar o acesso com autorização do governo do banco e pedia-me que se eu a desse, fizesse o favor de o fazer por escrito.
A situação era delicada, o Zeca Russo era inspector da policia, invocava uma razão de segurança válida, do ponto de vista policial, mas eu tinha a certeza que as intenções dele eram outras, provavelmente verificar as possibilidades de assaltar a casa forte.
O Banco de Moçambique tinha iniciado a sua actividade de banco central com cerca de 150.000 contos de disponibilidades externas, o que correspondia a um chefe de família ter 100 euros para governar a casa durante um mês. Por razões que descreverei noutro capítulo, tínhamos conseguido melhorar a situação e, na altura destes acontecimentos , já dispúnhamos de cerca de 20 toneladas de ouro, em reservas, e de cerca de um milhão de contos em divisas fortes ( US dólares, marcos e francos suíços ).Claro que o ouro se encontrava em bancos estrangeiros e as divisas aplicadas externamente, mas na casa forte havia cerca de 200.000 contos em divisas fortes, uma grande quantidade de randes sul-africanos e uma tonelada de ouro. Enfim, mais do que suficiente para despertar a cobiça dos zecas russos deste mundo.
Pensei um bocado e tomei uma decisão que transmiti ao atrapalhado funcionário: - diga ao Sr. Inspector que eu o não autorizo a ir inspeccionar a casa forte que está segura e à guarda do governo do banco. Se ele quiser traga-o ao meu gabinete que eu explico-lhe melhor a situação..
O homem sumiu-se e nessa noite nada mais se passou. No dia seguinte mandei chamar o funcionário e ele explicou-me que tinha transmitido as minhas palavras tal e qual ao Sr. Inspector e que ele se tinha ido embora sem nada dizer
Resolvi contar o sucedido ao governador do banco e, pela primeira e única vez, ele não estava de acordo com a minha decisão e disse-mo:- o inspector tinha a confiança do governo, estava no exercício das suas funções e, portanto, eu devia ter-lhe facultado o acesso. Respondi-lhe que a independência do banco central exigia que qualquer interferência da polícia nos seus assuntos internos tivesse a concordância do governo do banco e que não era muito natural que sem qualquer razão justificativa aparecesse um funcionário da policia a querer inspeccionar a casa forte; que se admitíssemos tais práticas, a independência do banco desaparecia..Mais, que eu estava convencido, pelo que sabia da história do indivíduo, que a única explicação para o sucedido era o inspector estar a preparar um golpe. Mas que se ele, Alberto Cassimo, achava diferentemente desse ele a autorização, que eu não me ofendia nada com o assunto; só que não me metesse no processo. Aqui convém abrir um parêntesis para dizer que sempre fui muito amigo do Alberto Cassimo, pessoa de altas qualidades morais e cívicas, de uma inteligência brilhante e de uma seriedade a toda a prova. Esta foi a única vez em que num assunto importante não estivemos de acordo com ele.

A MORTE DO INSPECTOR

Não tinha passado um mês sobre os factos anteriormente relatados, estava eu a ouvir o noticiário em português da SABC (South Africa Broadcasting Corporation),como costumava todos os dias de manhã, pelas 7 horas, sou surpreendido pela noticia dada com grande destaque, do assassinato, a tiro, num apartamento em Joannesburg, por um português, do inspector Monteiro dos Santos, vulgo Zeca Russo.. Segundo me disseram mais tarde, o assassino foi um angolano, sócio do Zeca Russo nos seus negócios moçambicanos e em consequência de um desentendimento quanto a contas. O caso foi tratado sem grandes parangonas e quási silenciado em Moçambique. O assassino foi preso e julgado e condenado, mas a uma pena relativamente pequena, para os hábitos da justiça sul-africana. Segundo me constou, mas não poude confirmar o facto, pouco depois de condenado, já o assassino andava em perfeita liberdade na África do Sul. A ser verdade é evidente que o assassino não agiu só por conta própria. A verdade é que esta história macabra não teve grandes repercussões na história da África austral.
Com a notícia fresquinha parti para o banco e fui dá-la ao governador Alberto Cassimo, que de nada sabia, quís saber como tinha eu tido conhecimento e, quando lhe disse que era notícia da SABC, dessa manhã, achou que devia ser falsa e fruto de manobras sul-africanas para destabilizar Moçambique. Eu respondi-lhe que me não parecia que pudesse ser uma falsa noticia, já que a SABC nunca daria como verdadeiro um assassinato, ocorrido em Joannesburg e que afinal não tinha acontecido.
Umas horas depois o Cassimo telefonou-me, pedindo-me para passar pelo seu gabinete. Quando lá cheguei ele estava transtornado e em pânico, A cor da sua pele era cinzenta e o suor caia-lhe em bica , apesar do ar condicionado e da temperatura amena. Disse-me que afinal se confirmava a morte do Zeca Russo e confessou-me que depois de eu ter recusado a autorização para ir à casa forte, ele tinha telefonado ao Sr. Inspector, convidando-o a ir lá; e o sr. inspector foi. Agora estava com medo que ele tivesse dado algum golpe. Sosseguei-o, disse-lhe que se alguma coisa tivesse acontecido, já tínhamos tido conhecimento, até porque o sistema de segurança era sofisticado, não era fácil assaltá-la, muito menos sem deixar rasto. Mas ainda mandámos fazer uma inspecção que deu o património como intacto. Falhara o último golpe do Zeca Russo. Paz à sua alma...

 
 
http://spesgaudium.blogspot.com/2007/02/historia-do-zca-russo-ou-o-assassinato.html
 



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De: helenamarinho Enviado: 05/11/2010 23:42
Isabelinha, Gostei muito de ler este artigo deveras interessante!! Bjos Lena

Respuesta Eliminar Mensaje  Mensaje 3 de 3 en el tema 
De: isaantunes Enviado: 06/11/2010 11:36
Lena, De acordo, o Zeca Russo ficou na história de Moçambique, infelizmente, não pelas melhores razões, apesar de ter sido um menino, doce, amigo da mãe e da família, gente boa, das terras do Zambeze. Este artigo incentivou-me a procurar saber mais sobre o Zeca, irei investigar, na medida do possível. Beijinhos. Isabel


 
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