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descolonizacao: MARGARIDA E A GUERRA
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De: nhungue  (Mensaje original) Enviado: 10/11/2010 20:00

MARGARIDA ERA SEU NOME.

FAZ UNS ANOS, ENCONTREI-A NUM CONSULADO BRIGANDO PELA NACIONALIDADE DOS FILHOS. COMO EU...


É UM DIREITO DE TODOS TER UMA. INFELIZMENTE NÃO É SÓ UM DIREITO, SOMOS OBRIGADOS A TER UMA. QUEM SABE PARA TEREM PARA ONDE NOS MANDAREM DE
 VOLTA UM DIA.


A CABEÇA TODA BRANCA, CONTRASTAVA COM O SEU SEMBLANTE.


APRESENTEI-ME COMO PATRÍCIO, PENSANDO EM CONVIDA-LA PARA VISITAR O ENTÃO "ZAMBEZE".


A REAÇÃO FOI MEIO RÍSPIDA. "NÃO QUERO OUVIR FALAR DE PORTUGAL, PORTUGUESES, MOÇAMBIQUE, OU MOÇAMBICANOS!" "SÓ ESTOU AQUI PELOS MEUS FILHOS!"


PEDI DESCULPA E AFASTEI-ME. ELA OLHOU PARA CIMA E DEPOIS DE UM BREVE MOMENTO, VEIO SENTAR-SE PERTO DE MIM E PEDIU-ME DESCULPA PELA RESPOSTA TORTA.


DEPOIS DE ALGUNS SALAMALEQUES, ELA ME CONTOU UM POUCO DE SI.

NASCERA NUMA ALDEIA CUJO NOME NÃO CONSEGUIA SEQUER PRONUNCIAR, E QUE ACREDITAVA NÃO EXISTIR MAIS.  ELA ACHAVA QUE FICAVA A NORTE DO ZAMBEZE.


OS MEUS CABELOS BRANCOS, SABE? JÁ OS TENHO DESDE OS DOZE ANOS. VIVI NOS ARREDORES DO NIASSA E DO CHIRUA. NAS CASAS ONDE MOREI, PALHOTAS MATICADAS, COBERTAS DE PALHA, ONDE POR VEZES AS COBRAS FAZIAM NINHO, MEU PADRASTO MANDAVA CAVAR BURACOS BEM FUNDOS, QUE DEPOIS ERAM COBERTOS COM A CAMA ONDE DORMIA COM OS MEUS IRMÃOS MAIS NOVOS.


NUNCA TIVE PROBLEMAS COM OS HABITANTES DAS ALDEIAS ONDE MOREI, QUE NOS ACEITAVAM COMO IGUAIS E COM QUEM BRINCAVA.
MAS... QUANDO OUVIAMOS O RONCAR DE MOTORES OU O ALERTA DE ALGUÉM PARA A PROXIMAÇÃO DE ESTRANHOS... LÁ ÍAMOS NÓS PARA O BURACO.


EU TINHA MEDO DE TODOS. DOS MILITARES, DOS TERRORISTAS, DE TODOS.
PASSEI NOITES SEM CONTA METIDA COM MEUS IRMÃOS NO BURACO, ACORDADA E REZANDO AO SOM DE MORTEIROS REBENTANDO E DOS TIROS DOS CIPAIOS.


FORAM TANTAS AS NOITES DE TERROR QUE UM DIA MEUS CABELOS FICARAM BRANCOS DE VEZ. POR ISSO... E COMEÇOU A SOLUÇAR NUM CHORO SENTIDO COMO NUNCA VI (UM SOLUÇO ME SUFOCOU TAMBÉM). ELA LEVANTOU-SE, E SEM UMA PALAVRA MAIS, SAIU.

NUNCA MAIS A ENCONTREI.



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Respuesta Eliminar Mensaje  Mensaje 2 de 2 en el tema 
De: isaantunes Enviado: 11/11/2010 21:08
Pobre Margarida, para quem a vida foi madrasta, como se não chegasse um padrasto que lhe roubou o viço da juventude! Quantas histórias de vida, como esta, se contarão, por este mundo fora, onde há gente que nasceu ou viveu em terras do Zambeze?! Obrigada, por este testemunho. Um beijinho. Isabel


 
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