O Presidente da República Centro--Africana (RCA), François Bozizé, anunciou ontem a reabilitação do antigo presidente vitalício e imperador Jean-Bedel Bokassa, que governou o país entre 1966 e 1979. As razões do gesto não são claras, mas podem estar ligadas à alta instabilidade política na RCA, refere o Diário de Notícias.
Bokassa foi um dos mais sangrentos ditadores africanos e ficou famoso pela dispendiosa coroação imperial, em 1977 (na imagem). Conhecido por Bokassa I, faleceu em Bangui, em 1996. Tinha 17 mulheres e mais de 50 filhos.
O decreto de Bozizé foi lido na rádio e cita a festa nacional de 1 de Dezembro e os 50 anos da proclamação da independência da República Centro Africana: "Jean-Bedel Bokassa, antigo presidente da República condenado, agraciado e falecido, é reabilitado com todos os direitos."A decisão apaga "as condenações penais e custos de justiça e faz cessar para o futuro as incapacidades resultantes".
Bokassa foi uma das figuras mais mediáticas de África, nos anos 60 e 70. Os seus abusos produziram uma das últimas intervenções coloniais, com o derrube do seu regime por tropas francesas. Aliás, o ditador, nascido em 1921, foi militar francês, tendo ascendido no exército da RCA depois da independência. Na noite de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro de 1966, Bokassa derrubou o seu primo David Dacko, assumindo a presidência.
O DN acrescenta que a RCA é muito rica em diamantes e urânio e estes recursos minerais foram usados para pagar a pompa do novo regime, que tentava imitar a corte de Napoleão. A coroação, por exemplo, custou mais de um ano do orçamento nacional. O trono de Bokassa I era em ouro e a coroa de diamantes foi desenhada por dispendiosos estilistas de Paris.
Bokassa era mentalmente instável e o seu regime tornou-se sanguinário e paranóico. Derrubado em 1979, o ditador viveu no exílio em França (privilégio dos antigos membros da Legião Estrangeira) mas regressou a Bangui, sendo julgado e condenado à morte em 1987, embora ilibado da acusação de antropofagia. A pena de morte seria comutada e em 1993 Bokassa foi libertado, por ordem do então presidente André Kolingba, um sulista que fora seu colaborador próximo.
A actual reabilitação, 14 anos depois da morte, surge num contexto de alta instabilidade política, com os diferentes grupos étnicos muito insatisfeitos com a actual partilha do poder. Os sulistas, sobretudo os Yakoma (a que pertenciam Bokassa, Dacko e Kolingba), estão afastados das forças armadas. E certas tribos do norte mostram grande insatisfação desde que Bozizé derrubou o presidente Ange-Félix Patassé (ambos nortistas) em Março de 2003.
Bozizé deve a sua carreira militar a Bokassa, de quem foi ajudante-de-campo. O Presidente homenageou o antigo ditador em várias ocasiões, nomeadamente dizendo que foi um "grande construtor", ideia que outras pessoas têm repetido, já que a maioria dos edifícios importantes de Bangui datam da época de Bokassa. Assim, a reabilitação pode ser uma tentativa de reduzir as tensões étnicas num país instável de uma região altamente volátil de África. A RCA está encravada entre cinco países, três dos quais (Chade, Sudão e República Democrática do Congo) têm complexas guerras civis.
SAPO com Diário Notícias
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