São muitos que declararam paixão pelo grupo Milorho e, hoje, clamam pelo desejo de contemplá-los novamente em palcoTiveram um ano 2010 repleto de actividades, na sua maioria comprados por instituições, daí que deixaram seus amantes com sede de os ver bailar. São muitos que declararam paixão pelo grupo Milorho e, hoje, clamam pelo desejo de contemplá-los novamente em palco, emprestando o seu talento ao ritmo tradicional, que lhe é característico. A garra no desfile guerreiro de origem zulu em que os homens, adorados de peles e colares, dançam alinhados em fileiras paralelas, revestem aos “sonhadores” na apresentação do Xigubo, por um lado e, por outro, vasculhando a memória, vislumbra-se no Milorho o Niketche, não a história de poligamia que um dia registou em escritos a simpática Paulina Chiziane, escritora de créditos firmados; mas a que expele o movimento macio das bailarinas, num mexer de ancas de cor negra. Um show, assim descrevemos o talento daquele grupo que hoje quer reconquistar a simpatia do público que venera o tradicional moçambicano.
A aposta está em “Kapela-bay e Kubeira”, dois bailados registados nas paredes do planalto dos macondes e nas terras macuas e “chuabos”, a norte e Centro de Moçambique. Tal como nos revelou o director artístico do Milorho, Macário Tomé, trata-se de um bailado coreografado por Ilídio Chichava, a residir na França, Osvaldo Ernesto e o próprio Macário. “Com a realização das eleições, recentemente, o novo corpo directivo quer apostar em novas tendências tradicionais para mostrar aos nossos fãs e não só”, sublinha Macário para depois acrescentar que “vamos marcar esta década que inicia com o ritmo tradicional moçambicano nas suas mais variadas esferas, apostando nos ritmos do norte de Moçambique, pois, durante muito tempo, inovámos nas danças do sul. Descobrimos nas nossas investigações pelo vasto Moçambique que, em termos de dança tradicional, o país é rico e essas mesmas danças devem ser levadas ao encontro dos residentes das cidades que pouco sabem sobre elas”.
O nosso entrevistado fez uma pequena viaje ao ano findo para explicar que não foi marcante para a dança tradicional “porque vários grupos tiveram as suas apresentações em espaços não convencionais e isso foi uma barreira para os grupos tradicionais e, em particular, para o Milorho. Provavelmente sejam novas políticas, por causa da auto-sustentabilidade. a título de exemplo, é a realização de espectáculos em espaços convencionais, onde se incorre a algumas despesas que mais tarde não têm retorno para a sustentabilidade do próprio grupo, enquanto ao fazermos trabalhos para instituições que compram os espectáculos, é mais rentável para o grupo. Só que na tentativa de ultrapassar um ‘pipino’, deparamo-nos com outra situação: os nossos trabalhos não ficam de domínio público, na medida em que não são divulgados a nível da comunicação social, o que deixa transparecer que o grupo não está a trabalhar ou ‘morreu’. Mas não é nada disso, estamos enquadrados na nova política de gestão dos grupos. Das vezes que aparecemos para o público, no ano passado, foi na semana da aldeia cultural”.
Sobre esse vazio que os grupos vão deixando devido à questão financeira, Macário diz que “neste momento o grupo Milorho é composto por trabalhadores e estudantes, o que faz com que cada um esteja sujeito a custear investimentos individuais. É difícil dizer como será possível alterar o actual cenário, porque os grupos têm suas preocupações e precisam de se auto-sustentar e, para poderem apresentar os seus espectáculos, devem programar-se. Isto é avaliado consoante o budjet que os grupos conseguem durante o mês ou ano. A cultura moçambicana, sobretudo a dança, fica de “luto” por não estar em constante aparição ao público, pois este pede e nós não retribuímos. Com certeza que o nosso papel como fazedores da cultura é divulgar o que se prepara nos nossos atelliers ou estúdios, o que não acontece. Não é simplesmente com o grupo Milorho, como também sucede com os outros grupos”, explica.
Portanto, Macário acha que há responsabilização dos três actores culturais: os mecenas, os artistas e a entidade que zela pela causa cultural em Moçambique. Este último deveria abrir espaço culturais para apresentação de trabalhos dos grupos. “Não existe um espaço cultural de Moçambique ou mesmo cultural camarário, daí que o governo devia investir nesse sentido. Posso socorrer-me num exemplo, o do Franco Moçambicano ou teatro Avenida, se quisermos. Para um grupo ir para lá fazer trabalhos, tem que pagar 20 a 30 mil meticais só do espaço. E os grupos não têm sustentabilidade para pagar esse valor. É aqui onde o Ministério da Cultura devia intervir, facultando espaços”.
Por outro lado, na óptica do nosso interlocutor, a pirâmide está invertida quando se trata de apoio às artes. Olha-se para a música, depois artes plásticas, literatura, enquanto “na dança temos a parte musical, teatral, a inspiração para as artes plásticas. A dança é o funil da cultura moçambicana”.
no dia 4 de Janeiro, o Milorho fez 18 anos, embora esteja sempre a sonhar e, neste contexto, vai abrir as oficinas do grupo no dia 17 de Janeiro, com os novos ingressos e o grupo sénior. A apresentação da nova proposta coreográfica será em Abril e Março, como forma de recordar Milorho e recordar Moçambique. “O show vai palmear todo o país, através das danças tradicionais”, diz Macário.
http://opais.sapo.mz/index.php/cultura/82-cultura/11774-seguindo-sonhos.html
Sábado, 15 Janeiro 2011 00:00 Azael Moyana