Portugal está numa encruzilhada e não é apenas do ponto de vista económico e financeiro, como muito bem identificou Joaquim Pina Moura há cerca de dez anos, então ministro das Finanças e da Economia.
Está hoje numa encruzilhada geoestratégica com consequências para o futuro do País: devemos escolher Brasil ou Angola como parceiro preferencial? O futuro da Galp e a sua nova (?) estrutura accionista são, em certa medida, a face visível desta opção.
Nos últimos anos, sucederam-se os investimentos angolanos em Portugal e a tomada de controlo de empresas e de participações accionistas em bancos e noutros sectores de actividade. Não sem a desconfiança, às vezes pública, outras vezes velada e em surdina, de muitos dos principais decisores, económicos e políticos. Angola é um regime em transicção para a democracia, a reputação e credibilidade das instituições e do regime político estão ainda em construção mas foi, na história económica recente de Portugal, a principal fonte de ‘receita', seja pela exportação de bens, serviços e pessoas, seja pelos negócios que se foram abrindo no País. A resposta chegou: os angolanos querem, legitimamente, mais de um País, Portugal, e da sua economia.
O Brasil é uma economia e um regime consolidados, tem uma arquitectura financeira e legal e políticas públicas desenvolvidas, ao nível do primeiro mundo, e são hoje o principal espaço de desenvolvimento e de oportunidades para as empresas portuguesas. E já são muitas as que estão a investir do outro lado do Atlântico. De resto, o Brasil aspira a ser, e virá mesmo a ser, uma das maiores economias do mundo. Pouco a pouco, algumas empresas brasileiras olham para Portugal, mas, ao contrário de Angola, como ponte de passagem para outro lado, maior e com melhores perspectivas de rentabilidade e com um passaporte português de influência. A língua portuguesa que nos une não é, por si só, suficiente para ganhar no Brasil, é necessário competência, ousadia e risco.
Lado a lado, o Brasil garante uma previsibilidade que Angola não assegura, pelo menos ainda, tem escala que Angola não tem e um regime económico fiável. Mas, dito isto, as duas economias não são incompatíveis. Têm, e terão, necessariamente, papéis diferentes para as empresas portuguesas e para Portugal.
A gestão do caso Galp, e o conflito entre um empresário português, Américo Amorim, e empresas e empresários angolanos, Sonangol e Isabel dos Santos, são um bom exemplo do que não se deve fazer. Independentemente das responsabilidades de cada um, que a história fará um dia. Por isso, a opção na Galp - como a de Portugal - deve contemplar a entrada da brasileira Petrobras desejável e até estratégica, mas negociada com os angolanos. O futuro da Galp, e de Portugal, passa pelo Brasil, mas sem destruir os equilíbrios de uma empresa e do País.
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António Costa, Director
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