Rui Ramos no Expresso de 9 do corrente, acerca do FMI diz e com muita razão, o que transcrevo com a devida vénia: «O primeiro-ministro, a pretexto daquilo a que decidiu chamar "FMI", permitiu-se uma atitude de guerra civil, que pode fazer sentido em Tripoli ou Abidjan, mas não devia fazer em Lisboa....»E continua: «...Nos últimos 100 anos, só a actual democracia não precisou de uma guerra para se arruinar. Um dia admito que a história seja contada sem José Sócrates. É possível. O historiador do futuro explicará como, no princípio do século XXI, a classe política portuguesa, perante a estagnação da economia, consentiu no endividamento geral possibilitado pelo euro, em alternativa em mudar de vida....»
«Para um Portugal desajustado do mundo o euro funcionou como uma armadilha... Mas Portugal, nos últimos tempos, teve outra dificuldade sob a forma de um chefe do Governo que se recusou a reconhecer erros e problemas e preferiu culpar a"especulação internacional"...
«A única maneira de racionalizar a intransigência governamental é supor artimanhas políticas: até Março, o primeiro-ministro terá recusado a ajuda, porque sabia que no dia em que a pedisse, o Governo cairia; depois de se demitir, terá continuado a recusar, porque planeara fazer campanha acusando outros de querer trazer o FMI para Portugal. Talvez seja isso. Mas porquê esta determinação em sobreviver a todo o custo à custa de tudo?»...
Bom, Rui Ramos põe o dedo na ferida.
Na verdade este ex-primeiro-ministro, que por mal dos nossos pecados, ainda se encontra na cátedra governamental, nunca se inibiu, a verdade seja dita, em acusar à esquerda e à direita, os seus adversários políticos, mas mais à direita do que à esquerda, sabendo que namorando a esquerda, ainda pode alcançar mais alguns votos. E isso nele, não nos causa qualquer estranheza, uma vez que se trata de um politico que até agora tem tratado dos assuntos governamentais, dizendo hoje uma coisa e amanhã outra. Mas a pergunta tem a sua razão de ser: Porque está agarrado ao Poder? O que haverá por de traz de tanta mentira e de tantos golpes de teatro a que tem submetido o governo, os seus próprios apaniguados e os portugueses em geral? Além dos dinheiros públicos mal geridos, das despesas diárias que mantém como se fosse o dono do Banco de Inglaterra, ou como um nababo oriental?
Será que pretende esconder do seu próximo sucessor, mais alguma pretensa anomalia? Algum favor, que não consegue esconder e que se encontrará nos recônditos de alguma gaveta ministerial? Por falta de tempo ou porque dá muito nas vistas?
Tenho o hábito de não falar daquilo que ignoro, como diria Sófocles, mas dadas as virtudes deste ex-primeiro-ministro em faltar à verdade em coisas importantes para o País, não seria de estranhar que alguma coisa há e que um dia virá ao conhecimento da opinião pública. A verdade é como azeite, vem sempre ao de cima... A vergonha de não ter Vergonha é o que reflecte o seu virtuosismo... Uma vez que nada faz para nos sentirmos alegres, tenho para mim o que Chamfort dizia: «O mais inútil de todos os dias é aquele em que não rimos». Na verdade há muito, que não temos motivo para rir, especialmente desde que José Pinto de Sousa, é primeiro-ministro.
Creio e indo de encontro à opinião de Rui Ramos, que há aqui duas questões a equacionar: "a guerra civil" que engendrou, convém ao primeiro.ministro demissionário, batendo fortemente em quem não tem culpa nenhuma, PSD e CDS, ou para entreter os seus colegas de partido, ou sendo derrotado nas urnas, poder esquivar-se a maiores responsabilidades.
Vamos aguardar calmamente para ver:.«O tempo é o mais sensato de todos os conselheiros».
José de Viseu