O CÉU QUE NOS PROTEGE
Algures durante a próxima semana, a troika apresenta o próximo governo de Portugal. Não as pessoas, evidentemente, mas o programa que essas pessoas - a escolher pelo "povo" a 5 de Junho - terão de aplicar. Por isso, coisas como "novas fronteiras", "estados gerais" ou "mais sociedade" só valem para os respectivos participantes falarem uns com os outros e para meia dúzia de "independentes" se "posicionarem" no futuro (deles) próximo. Tudo o que os partidos disserem fora do contexto elaborado pelo FMI, pelo BCE e pelo FEEF da Comissão Europeia equivale ao peso de farturas em feiras. Infelizmente a comunicação social, sempre chineleira e irresponsável, irá explorar até à vigésima quinta casa os fait divers, os ditos dos lellos de serviço, o make up, a frase mais ou menos "assassina" como se os tempos nacionais fossem de casamento real. Sucede que não são. Portugal teve de se baixar por causa de um alucinado com nome e por causa da sua endémica periferia material e instintual, responsabilidade de todos. Por isso, e como escreve Rui Ramos no Expresso, o tempo é de confrontos e não de consensos estilo pão de ló. Infelizmente os resultados de 5 de Junho serão de tal forma politicamente medíocres que as "pessoas mais influentes de Portugal", desde a fadista Marisa ao PR, reclamarão imediatamente um farto pastelão que possa servir morna a receita da troika. A sobredita comunicação social, com os seus comentadorzinhos igualmente previsíveis, mornos e horizontais, encarrega-se do resto, "puxando" e "enterrando" conforme o telefonema dos últimos cinco minutos. A "receita" externa conjuntural, por mais longa que seja, não muda uma "estrutura" nem uma mentalidade com séculos de inépcia burgessa como lastro. Não era granizo que nos devia cair em cima. Era o céu.
Publicada por João Gonçalves em 30.4.11
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