*** Serviço vídeo disponível em www.lusa.pt ***
Maputo, 01 mai (Lusa) -- Acusações de corrupção ao partido no poder em Moçambique, FRELIMO, queixas ao chefe de Estado, Armando Guebuza, e reivindicações de salários justos marcaram hoje o desfile dos trabalhadores moçambicanos por ocasião do Dia Internacional dos Trabalhadores.
Entre 20 mil e 35 mil trabalhadores, segundo estimativas da Organização dos Trabalhadores Moçambicanos, marcharam hoje a partir de algumas das principais avenidas de Maputo até à Praça dos Trabalhadores, na baixa da capital, principal palco em Moçambique das celebrações do Dia Internacional dos Trabalhadores.
Maioritariamente uniformizados com t-shirts com inscrições alusivas à data e capulanas (tecido usado pelas mulheres africanas para cobrir a cintura e as pernas), os trabalhadores empunhavam dísticos, cartazes e tarjas com denúncias sobre as más condições de trabalho, acusações de corrupção ao partido no poder e queixas diretas ao chefe de Estado, Armando Guebuza, e à ministra do Trabalho, Helena Taipo, ausentes da cerimónia.
"FRELIMO devolva o dinheiro que roubou dos ´madjermanes`", lia-se numa enorme faixa que os ex-trabalhadores moçambicanos na antiga RDA empunhavam.
A frase é uma forma de manifestar descontentamento pelo fato de o Governo moçambicano não ter alegadamente pago a totalidade das indemnizações canalizadas pela Alemanha resultantes da rescisão de contratos de trabalho.
Já os trabalhadores dos serviços de limpeza do município de Maputo optaram por uma exigência direta ao chefe de Estado, lembrando-lhe: "Guebuza, o povo está com fome".
A alegada indiferença das autoridades moçambicanas em relação às más condições de trabalho também foi denunciada durante o desfile, em que os trabalhadores do Banco Comercial de Investimentos (BCI) do grupo português Caixa Geral de Depósitos acusam o Governo de "conhecer os problemas dos trabalhadores, mas preferir sentar por cima".
Em declarações à Lusa, o porta voz da Organização dos Trabalhadores Moçambicanos (OTM), Francisco Mazoio, descreveu a efeméride como "um dia de festa, mas também um dia de vida".
"Através destas mensagens e dos dísticos, os trabalhadores mostram as expetativas de ver os seus salários melhorados, as condições de vida melhoradas e as suas condições de trabalho melhoradas", enfatizou Francisco Mazoio.
Contrariamente aos seus antecessores, o atual chefe de Estado moçambicano nunca, em 12 anos de presidência, participou nas cerimónias do Dia Internacional dos Trabalhadores, uma atitude vista como forma de evitar a exposição do Presidente a manifestações que a cada ano que passam tem sido marcadas por mensagens mais hostis ao executivo.
Num dos desfiles de 1º de Maio, o ex-chefe de Estado moçambicano Joaquim Chissano foi insultado em plena tribuna da Praça dos Trabalhadores pelos ex-trabalhadores na antiga Alemanha do Leste, tendo o Presidente respondido na altura em termos também interpretados como insultuosos por alguns analistas.
PMA
Lusa/Fim