por Agência Lusa, Publicado em 12 de Abril de 2011  

A diretora da Unidade de Cancro da Mama da Fundação Champalimaud afirmou hoje pretender arrancar com ensaios clínicos até ao final do ano, mas que este objetivo está em risco porque a “indústria farmacêutica está a excluir Portugal”.

Falando a propósito da realização da conferência “Ensaios Clínicos – porque não se fazem em Portugal?”, a decorrer na quarta-feira no Porto, Fátima Cardoso lamentou que esteja a ser vedado aos doentes oncológicos portugueses a possibilidade de participar em ensaios clínicos.

“Fazem-se muito poucos ensaios em Portugal, cada vez menos”, disse, acrescentando que “o grande problema é que as grandes indústrias farmacêuticas estão a riscar Portugal da lista de países onde os querem fazer”.

De acordo com a clínica, o processo é demasiado “longo e caro” em Portugal, uma vez que demora “nunca menos de um ano” entre o ser aprovado e o ser aberto.

“Acaba por não ter interesse realizar o ensaio, porque isso significa que o ensaio está a abrir em Portugal quando já terminou nos outros países, o que significa que é sempre dinheiro perdido, na perspetiva da indústria farmacêutica”, precisou.

Fátima Cardoso apontou o dedo ao Infarmed e à Comissão de Ética para a Investigação Clínica, que, no seu entender, “deverão ser mais céleres”.

Encaminhar doentes para os ensaios clínicos, além de ser visto como mais uma hipótese de cura da doença, “contribuiria para melhorar a imagem do país no estrangeiro”.

Para Fátima Cardoso, é preciso “mudar a atual situação”, fazendo com que “a aplicação da legislação e a burocracia dos diferentes intervenientes sejam mais céleres”, para que doentes oncológicos não sejam excluídos da hipótese de testar um novo produto.

Outro dos problemas prende-se com a “imagem negativa do país no estrangeiro devido a esta demora” na concretização do processo.

Contudo, a médica referiu que “o problema da entrada em ensaios clínicos é universal”, mesmo nos países mais desenvolvidos a este nível como os Estados Unidos ou Reino Unido.

Nesses países, referiu, apenas cerca de “10 por cento dos doentes oncológicos entram em ensaios”, mas em Portugal, apesar de não dispor de números, essa taxa nunca será superior a “dois por cento”.

O objetivo da Fundação Champalimaud, que tenciona abrir os serviços clínicos relacionados com o cancro da mama em meados de junho, é “que a determinada altura quase todos os doentes tenham oportunidade de chegar a ensaios clínicos”.

Fátima Cardoso deseja que, de alguma forma, “a pressão dos doentes e dos seus familiares possam mudar” a atual situação, mas entende que, na área do cancro da mama e de outros, “é preciso que Portugal esteja organizado em rede, para que funcione a partilha de informação” entre todos os profissionais.

http://www.ionline.pt/conteudo/116851-cancro-ensaios-clinicos-em-risco-porque-portugal-esta-ser-excluido-pela-industria-farmaceutica