Isolamento é um problema
O isolamento dos idosos continua a ser uma problemática dos nossos dias. Noticiado pelos meios de comunicação social, esta realidade é partilhada em hospitais, onde alguns doentes são deixados ao cuidado de profissionais sem a visita de qualquer familiar, ou nos seus próprios lares onde ficam confinados à sua tristeza e solidão. Cabe às gerações mais novas promover a inclusão dos seus seniores e o relacionamento com os outros pode ser o começo de um envelhecimento mais saudável e feliz.
O envelhecimento crescente da população portuguesa é uma realidade que não pode ser ignorada e cuja expressão tem vindo a acentuar-se nas últimas décadas. “Como resultado da diminuição da população jovem e da taxa de natalidade, a pirâmide etária apresenta um duplo envelhecimento, ou seja, um envelhecimento no topo (aumento da população idosa) e um envelhecimento na base (diminuição da população jovem)”, defendem a enfermeira Maria João Monteiro, directora da Escola Superior de Enfermagem de Vila Real (ESEVR) e a professora Cristina Imaginário.
Com o aumento da esperança de vida o número de pessoas com idade cada vez mais avançada acentua-se e, como tal, constatam-se maiores níveis de dependência que consequentemente acarretam uma grande diversidade de problemas de natureza social, política e económica. “De facto, a conjuntura económica e política actual não se torna muito favorável a um contexto social marcado por baixas reformas e que naturalmente se repercute na acessibilidade aos cuidados médico-sociais, numa maior necessidade de cuidados de longa duração devido à maior prevalência de doenças crónico-degenerativas, exigindo respostas integradas capazes de incorporar as especificidades do envelhecimento e de garantir a sua expressão mais sublime – envelhecer com qualidade e dignidade”, indicam as especialistas.
A mobilidade social, geográfica e profissional, os fenómenos do progresso industrial e da urbanização, as mudanças nas dinâmicas familiares são algumas das causas do isolamento a que muitos idosos estão sujeitos no nosso país.
“De facto, no passado, as famílias eram geralmente de estrutura múltipla, as várias gerações viviam juntas, com redes de vizinhança, protegendo relações de certa intimidade e colaborando na realização de tarefas de interesse comum”, sublinham as profissionais da ESEVR. Por sua vez, na sociedade contemporânea, são cada vez mais os idosos que vivem sozinhos.
Uma das formas de fazer face a este problema que deverá tocar a todos, passa por promover o envelhecimento saudável, não só no que respeita à boa condição física e mental, mas também “à inclusão social que permite ao idoso desempenhar todos os papéis que o indivíduo exercia ou gostaria de exercer dentro da sociedade”, refere Maria do João Monteiro e Cristina Imaginário.
A qualidade do envelhecimento depende do investimento contínuo na saúde física e na saúde psíquica. “Envolve uma alimentação saudável, actividade física e a prevenção ao nível dos cuidados de saúde primários, por um lado. Por outro, uma boa interacção social, uma aprendizagem permanente, implicando interesses vários como a leitura, o cinema, o teatro, concertos, exposições, hobbies, cursos, entre outros”, refere o Dr. Rodrigo Neiva Correia, psicólogo das residências assistidas Domus Vida.
Podemos de uma forma genérica dizer que o isolamento social é potenciado por razões como a diminuição progressiva da visão, da audição, a insegurança na mobilidade, as múltiplas patologias que podem conduzir ao aparecimento de níveis de incapacidade e dependência que se vão instalando gradualmente, como também a viuvez, a perda de parentes e amigos, as dificuldades financeiras, as disputas familiares e as características de uma sociedade que tende a valorizar o que é material. Tais factores levam à subvalorização da dimensão afectiva, deixando de existir espaço para a preocupação com os outros”, assinala a enfermeira Maria do João Monteiro e a professora Cristina Imaginário.
Nas respostas às necessidades das pessoas idosas, é costume verificar-se que os enfermeiros constituem um grupo profissional que melhor compreende “o mundo subjectivo e a singularidade de cada idoso, e portanto caberá a este grupo profissional protagonizar um envelhecimento bem-sucedido, centrado no conceito de qualidade de vida”. Ao prosseguirem objectivos da promoção da saúde, “asseguram níveis satisfatórios de funcionamento físico e mental e aumentam o envolvimento e compromisso activo com a vida”, defendem as profissionais da ESEVR
Muitos dos que não apoiam os idosos no seu seio familiar esquecem-se que um dia também eles chegarão a esta fase da vida. “Chegou a hora de todos termos bem presente o facto de que, o envelhecimento é um processo que mais tarde ou mais cedo atinge a todos e que há que criar mecanismos de integração para que o mesmo decorra de uma forma mais humanizada”, sublinha Rodrigo Neiva.
O facto de vivermos cada vez mais anos possibilita à sociedade civil a mobilização adequada de forma a “criar estruturas adaptadas e interesses que possam ir ao encontro das necessidades de uma população que estabelece um vínculo fundamental, entre o nosso passado e o presente”, acrescenta o psicólogo. Ao cuidar dos seus seniores, a sociedade mais nova estará a cuidar de si. “É preciso reformar o tempo da reforma e garantir uma nova forma de olha o envelhecimento, mais humana e mais responsável”, diz-nos Rodrigo Neiva.
A idade não se avalia pelos anos que temos mas sim pela postura perante a vida. “Devemos todos contribuir para que um dia possamos ter um país que saiba cuidar verdadeiramente dos seus seniores e de seniores que saibam cuidar de si próprios.”
Afastar o estigma da solidão, da incapacidade, do desinteresse e da inactividade são verdadeiros desafios para que mais idosos se sintam incluídos socialmente. “Dinâmicas implicando o relacionamento com os outros são um bom ponto de partida”, conclui o psicólogo das Residências Domus Vida.
Texto: Cláudia Pinto
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