Pedro Baptista, com 33 anos, lidera uma equipa no Wake Forest Institute for Regenerative Medicine, nos EUA, que desenvolveu o primeiro fígado em laboratório, um órgão ainda pequeno para investigação.
Esta sexta-feira, vai estar no Centro de Congressos do Estoril, onde dará uma conferência sobre o tema, no âmbito da Semana Digestiva.
Em declarações à Agência Lusa, Pedro Baptista mostrou-se muito satisfeito com os progressos que a investigação teve este ano, estando já a começar o processo de transplante em ratos. "O número de células humanas que temos disponível é reduzido. Estamos a expandir células in vitro para a quantidade monstra que é necessária para os humanos", afirmou.
Por enquanto a experiência é feita com um fígado pequenino, mas se tudo continuar a correr bem em breve os investigadores pensam começar a fazer testes com fígados para transplante humano.
O cientista explica o que significa "tudo correr bem" para os investigadores e que basicamente é ultrapassar aquelas que são as duas grandes barreiras: a expansão do número de células em laboratório e assegurar que o sangue não coagula quando o fígado for ligado ao sistema circulatório.
Se isto for conseguido, "o mais difícil está feito". Depois é só aplicar o processo, que não é novo e já é utilizado. "A técnica não é nova, só estamos a adaptá-la", explica.
Trata-se de retirar as células ao fígado, resultando daí aquilo que os cientistas chamam de "esqueleto do fígado". Esse bio-material é então semeado com células humanas, um processo rápido que se faz em três ou quatro dias.
Depois de as células serem semeadas no esqueleto do fígado, é preciso dar-lhes tempo "para se dividirem e amadurecerem dentro do fígado", o que deverá demorar entre duas e três semanas.
Este será então o tempo total de criação de fígados artificiais para transplante humano, uma descoberta que se for bem sucedida tem inúmeras vantagens sobre os transplantes de fígado que são feitos hoje em dia, cujo principal problema é a rejeição pelo corpo que o recebe.
Segundo Pedro Baptista, esta dificuldade não se porá, uma vez que o processo em investigação visa precisamente fabricar fígados imunocompatíveis.
"Se usarmos células estaminais do fígado do doente para construir o fígado [artificial], não haverá os problemas que há hoje em dia com os transplantes e não será necessária a imunosupressão", explicou.
O cientista prevê que, ao ritmo que correm as investigações, dentro de cinco a dez anos seja possível fazer estes transplantes. Ainda assim, afirma que este é um "horizonte temporal alargado, para não dar falsas esperanças a quem precisa de órgão.
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1869122