Belém, 01/02/2006
O Colégio onde o teu pai estudou até o quinto ano do Liceu.
A vila onde vivemos a nossa infância
Não apagues as fotos. Vou-me referir a elas em outras estórias.
1 - JOGADOR DE FUTEBOL.
O teu pai era bom. Jogava como avançado de centro.
Embora garotos com no máximo 15/16 anos, o colégio formou uma equipe que dava gosto de ver.
Jogando contra equipes seniores, que faziam parte do calendário esportivo de Moçambique, davam-lhes cada tosa que só visto. Era um misto de alegria, (os nossos ganhavam de 4...7 x 0), e de pena, pois os adversários, muitos, pais de família, saiam do campo cabisbaixos, envergonhados.
Como eles conseguiam isso? O campo de eucaliptos era onde aproveitavamos o tempo dos recreios para treinar. Além dos adversários, que era toda a garotada que queria joagar, ainda tinham as
árvores para driblar. O resultado era que os adversários, só 11, nem tocavam na bola.
O Benfica da vila acabou por levá-los todos para lá, e alguns, incluindo o teu pai, até foram convidados para fazerem testes em Lisboa. A escola parecia mais importante na altura e ninguém foi.
A alegria não durou muito, desmoralizados com as derrotas consecutivas, os adversários esqueceram a diferença de idades e, esportivamente, não procuravam mais a bola. Iam direto nos nossos jogadores para machucar de verdade. Muitos, de tanta pancada apanharem, já largavam a bola quando alguém se aproximava. O teu pai, mais incorpado, não se deixava intimidar e respondia à altura.
Havia também o problema dos pais que acabavam por ir tomar satisfações dos agressores.
Os jogos passaram a terminar com pancadaria generalizada e acabaram de vez.
Restaram os amigáveis com os jogadores de outras cidades, mas não tinham piada nenhuma.
No último que me lembro, contra um clube da Rodésia, depois deles estarem a perder por 10 ou 15 a 0, interromperam o jogo e, numa tentativa de salvar o espetáculo, que era pago eu creio, formaram duas equipes misturando os jogadores.