Enquanto criador e gestor de emoções, o cinema aspira sempre a um certo realismo, que consiga originar uma ligação sentimental com o espectador. Com efeito, quanto mais chocante e dramática for a situação retratada, mais hipóteses tem o realizador de atingir a audiência
O cinema de guerra assume-se como um género recorrente e muito bem-sucedido no grande ecrã. Recriar ambientes brutais e sanguinários não é tarefa fácil, mas quando a sua execução alia competência técnica à originalidade torna-se uma garantia de êxito. Reproduzir momentos em que o mundo mudou e em que nações inteiras ficaram para sempre traumatizadas pode resultar em trabalhos épicos, que se consagram no interior de cada um de nós. Um dos conflitos mais abordados na sétima arte é, incontornavelmente e por razões óbvias, a segunda grande guerra, sendo seguida de perto por um avultado número de filmes relativos à guerra do Vietname, que desencadearam grandes clássicos contemporâneos de Hollywood. Focando a nossa atenção em filmes que têm por base guerras ocorridas no séc. XX e inícios do séc. XXI, apresentamos algumas das obras que melhor transparecem estes cenários de conflito e violência – explícita ou implícita - da forma mais autêntica e realista possível. Eis, em ordem cronológica, os 15 melhores filmes de guerra.
A Oeste Nada de Novo (1930)
Provavelmente o melhor filme anti-guerra da história cinematográfica, esta obra de Lewis Milestone oferece-nos um olhar sobre a Primeira Grande Guerra, na perspectiva das tropas alemãs. Documentando a espiral depressiva em que os jovens soldados germânicos caíram após se terem alistado voluntariamente para servir com orgulho a sua pátria, o filme apresenta-nos – em detalhe gráfico e arrepiante -, as suas experiências nas trincheiras e todo o horror dilacerante de um cenário de guerra.
A Ponte do Rio Kwai (1957)
Um dos mais consagrados clássicos da história do cinema, “A Ponte do Rio Kwai” acompanha um grupo de prisioneiros de guerra britânicos na construção forçada de uma ponte de transporte ferroviário em plena selva tailandesa, após terem sido capturados por tropas japonesas durante a Segunda Guerra Mundial. Adaptada do romance homónimo de Pierre Boulle, esta obra de David Lean arrancou performances memoráveis de Alec Guinness e Sessue Hayakawa, nos papéis de dois obstinados coronéis.
Horizontes da glória (1957)
Esta obra de Stanley Kubrick é uma introspectiva e sombria reflexão sobre a hipocrisia dos conflitos militares. Focando o comportamento bárbaro de um arrogante general francês (George Macready) perante os seus soldados - aquando de uma missão falhada nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial -, e a subsequente tentativa de defesa destes homens, levada a cabo pelo Coronel Dax (Kirk Douglas), o filme contém, ainda hoje, algumas das mais realistas cenas de combate jamais filmadas.
O dia mais longo (1962)
Contando com um elenco de sonho (John Wayne, Sean Connery, Richard Burton, Henry Fonda, entre outros), este é um dos filmes mais épicos e ambiciosos sobre a II Guerra Mundial, apresentando-nos a invasão da Normandia pelas forças aliadas sob quatro perspectivas, de quatro realizadores distintos. Adaptado de um livro de Cornelius Ryan, narrado em três línguas e filmado a preto e branco, o filme transmite-nos uma sensação realista de vazio sentimental, espelhando a guerra na sua faceta mais cruel.
Apocalipsy now (1979)
Considerado por muitos o melhor filme de guerra de todos os tempos, “Apocalypse Now”, de Francis Ford Coppola, distingue-se por focar fundamentalmente os horrores e a loucura que a guerra inflige ao ser humano. O pano de fundo é a selva do Vietname, na qual o Capitão Benjamin Willard (Martin Sheen) terá que se aventurar para chegar ao Camboja e exterminar o outrora brilhante Coronel Kurtz (Marlon Brando), que se tornou um renegado demente e megalómano, idolatrado como um deus pelos nativos.
Odisseia submarino 96 (1981)
Realista, comovente e fielmente adaptada da autobiografia do correspondente de guerra Lothar-Guenther Buchheim, esta dispendiosa obra-prima do alemão Wolfgang Petersen acompanha os esforços heróicos do Capitão “der Alte” e da sua tripulação, a bordo de um submarino germânico durante a Segunda Guerra Mundial. Recriando na perfeição a atmosfera tensa, claustrofóbica e desesperante destes navios de guerra, “Das Boot” oferece-nos ainda um dos mais inesquecíveis finais da história do cinema.
Platoon – os bravos do pelotão (1986)
Um dos mais aclamados e populares filmes sobre a Guerra do Vietname, “Platoon”, narra-nos a prova de fogo a que o jovem soldado de infantaria Chris Taylor (Charlie Sheen) é submetido, quando o seu pelotão - supervisionado por dois sargentos (Willem Dafoe e Tom Berenger) com personalidades contrastantes -, é chamado a intervir numa missão para identificar e destruir alvos vietcongues. Crua e ultra-realista, esta obra de Oliver Stone venceu cinco Óscares da Academia, incluindo Melhor Filme.
Nascido para matar (1987)
Mais uma obra seminal de Stanley Kubrick, “Nascido para Matar” destaca-se por reproduzir duas fases distintas, mas igualmente cruéis, de qualquer conflito militar: o brutal e insensível recrutamento que um grupo de jovens tem que ultrapassar para se tornarem Marines e a forma como enfrentaram posteriormente a Guerra do Vietname. Dentro do género de guerra, o sarcasmo e a transparência com que Kubrick aborda algumas das situações mais atrozes conferem um cunho muito distintivo a este filme.
Nascido a 4 de Julho (1989)
Esta adaptação do best seller autobiográfico das memórias do veterano de guerra Ron Kovic valeu a Tom Cruise a sua primeira nomeação para o Óscar de Melhor Actor e a Oliver Stone o galardão de Melhor Realizador. “Nascido a 4 de Julho” insere-se na trilogia de filmes sobre a Guerra do Vietname de Stone - juntamente com “Platoon” e “Heaven & Earth” -, e narra a arrepiante e inspiradora vida de Kovic, um marine que se alistou voluntariamente para combater no Vietname e que de lá saiu paraplégico.
O resgate do soldado Ryan (1998)
Este épico de guerra principia com uma brutal e inflexível representação da chegada das tropas aliadas às praias da Normandia, no célebre Dia-D da Segunda Guerra Mundial. Seguidamente, a narrativa gira em torno de uma missão de salvamento do pára-quedista James Ryan (Matt Damon) – prisioneiro dos alemães na França ocupada -, liderada pelo veterano capitão John Miller (Tom Hanks). Crítica e comercialmente reconhecido, o filme valeu a Steven Spielberg o seu segundo Óscar de Melhor Realizador.
A barreira invisível (1998)
Terrence Malick comprovou, após 20 anos de ausência, o seu enorme talento enquanto cineasta com este espectacular filme. A história centra-se num grupo de militares - com especial enfoque no soldado Witt (Jim Caviezel) e no sargento Welsh (Sean Penn) -, forçados a atacar a ilha de Guadalcanal contra soldados japoneses. Esta obra etérea, visualmente muito apelativa, consegue aliar o retrato de um sanguinário cenário de guerra a uma reflexão exímia e profunda sobre a sua génese e consequências.
Cercados - Black Hawk Down (2001)
Em 2001, o aclamado realizador Ridley Scott apresentou-nos a sua visão dos trágicos eventos que tiveram lugar em Mogadíscio, Somália, no ano de 1993, quando um helicóptero americano foi abatido e várias equipas de marines foram convocadas para tentar socorrer os tripulantes. Josh Hartnett e Ewan McCregor abrilhantam este filme, vencedor de dois Óscares da Academia, que se destaca pelo seu soberbo realismo, asfixiante suspense e brutais cenas de combate.
Cartas de Iwo Jima (2006)
Produzido em simultâneo com “As Bandeiras dos nossos Pais”, “Cartas de Iwo Jima” oferece-nos a perspectiva nipónica da crucial batalha por esta ilha japonesa durante a II Guerra Mundial. Realizado por Clint Eastwood, o filme baseia-se nas cartas que o General Kuribayashi vai escrevendo para a sua família, e é este complexo estudo sobre a personagem, narrado com diálogos em japonês e filmado com uma cor esbatida, que confere ao filme uma autenticidade sem par na história da Sétima Arte.
Estado de guerra (2008)
Um dos mais tensos e brilhantes filmes de guerra dos últimos anos, “Estado de Guerra” é baseado nas experiências verídicas do jornalista Mark Boal e acompanha – em estilo quase documentário – as perigosas missões de desmantelamento de bombas do Sargento William James (Jeremy Renner) e da sua equipa de especialistas, sob o pano de fundo da recente Guerra do Iraque. Uma poderosa experiência fílmica, que valeu a Kathryn Bigelow o primeiro Óscar de Melhor Realizador atribuído a uma mulher.
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