Cidade da Praia, 21 ago (Lusa) -- Jorge Carlos Fonseca, vencedor esperado da primeira volta das presidenciais em Cabo Verde, acabou por ganhar de forma menos esperada a segunda, dez anos depois da derrota na votação de 2001, tornando-se no quarto presidente eleito em 36 anos de independência.
Apoiado pelo Movimento para a Democracia (MpD, oposição), Fonseca conseguiu capitalizar os votos do partido de Carlos Veiga e ultrapassar inclusivamente os cerca de 80 mil votos alcançados pelos "ventoinhas" nas legislativas de fevereiro deste ano.
Obtendo mais 25 mil votos do que na primeira volta, "Zona", como é carinhosa e localmente conhecido, conseguiu o facto inédito no país de pôr termo à monopolização do poder por uma única força política, há 20 anos exercida pelo MpD, e atualmente pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), que apoiou Manuel Inocêncio Sousa.
E a vitória com que sonhava desde 2001, quando não passou da primeira volta, foi mais "saborosa" por ter contado com um importante eleitorado do PAICV, cumprindo mais uma rutura na sua vida: foi contra o colonialismo, contra o caminho que o partido único seguiu, preparou a abertura ao pluralismo político e rompeu com a política partidária. "Sou um homem de ruturas". Hoje, consumou-a de novo.
Fonseca, com a sua voz grave e constantemente rouca, é considerado sério e competente nos trabalhos que apresenta, mas o sentido de humor é, ao mesmo tempo, uma imagem de marca.
Irrequieto, virando os olhos para todos os ruídos, com gostos simples, sempre de fato, Fonseca mostrou-se na campanha da segunda volta um homem diferente, sempre bem humorado e onde prevaleceu a informalidade a vestir-se.
Fonseca, cuja mulher, Lígia, é uma das mais renomadas advogadas cabo-verdianas, nasceu no Mindelo (ilha de São Vicente) a 20 de outubro de 1950 (60 anos) e foi um dos protagonistas da transição democrática em Cabo Verde.
Advogado e constitucionalista, foi ministro dos Negócios Estrangeiros entre 1991 e 1993 - na altura em que o MpD chegou ao Governo, logo após a abertura do país, em 1990, ao multipartidarismo -, levando o arquipélago , pela primeira vez, ao Conselho de Segurança das Nações Unidas
Jorge Carlos Fonseca, porém, afastou-se do MpD em 1994, sendo um dos fundadores do efémero Partido da Convergência Democrática (PCD), de que foi vice-presidente até 1998. Desde então, e independentemente da corrida às presidenciais de 2001, deixou de lado a política ativa para se dedicar à universidade.
Licenciado em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa, Mestre em Direito (Ciências Jurídicas) pela Faculdade de Direito de Lisboa, escritor, advogado e jurisconsulto, "Zona" foi o primeiro a assumir-se como candidato às presidenciais em Cabo Verde, anunciando-se como tal a 02 de dezembro de 2010.
Entre 1977 e 1979 exerceu o cargo de Secretário Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde. Além da advocacia, é diretor do Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais, sendo o autor material do livro "Projetos de Novo Código Penal e de Novo Código de Processo Penal de Cabo Verde".
Em breve, assim que for empossado, talvez em fins de setembro, irá suceder a Aristides Pereira (1975/1991), António Mascarenhas Monteiro (1991/2001) e Pedro Pires (2001/2011).
JSD.
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