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De: isaantunes  (Mensaje original) Enviado: 15/09/2011 09:51

 

Paula, uma moçambicana crescida em Portugal


Paula Cardoso nasceu em 1979 na cidade da Beira, província de Sofala. Três anos mais tarde, chegava a Lisboa, com o estatuto de refugiada. “Mas desde os 15 anos que tenho a nacionalidade portuguesa, embora nunca tenha renunciado à moçambicana”. Paula é negra, vive em Portugal desde que se conhece e é jornalista num semanário português. O seu sotaque é português, o seu dress code é português, mas o sangue é só moçambicano, uma origem que nunca deixou morrer. “Apesar da distância, Moçambique nunca ficou para trás na minha vida. Muitos dos nossos vizinhos também eram moçambicanos e tinham filhos da mesma idade. Por isso, mesmo com a integração na escola e o contacto com a cultura portuguesa, esse núcleo permaneceu intacto. Então dizia tá-tá em vez de adeus, matope em vez de lama, machibombo em vez de autocarro, matabicho em vez de pequeno-almoço e ‘shuinga’ em vez de pastilha elástica”.

Da mesma forma, Paula via o pai, nascido e criado na Beira, lavar os dentes com mulala e beber chá de cacana. A jornalista conta que as capulanas sempre estiveram na moda lá em casa e os pitéus da terra também nunca faltaram: desde matapa, caril de coco, caril de amendoim, xima, achar de manga, castanha de caju, mandioca com coco.

“Como o meu pai é um seguidor atento da realidade moçambicana, naturalmente familiarizei-me com o legado de Samora Machel e com a existência da Frelimo e da Renamo, do mesmo modo que dava por mim a torcer por Maria Mutola e a fazer questão de não falhar o nome do Presidente da República. Essa era, de resto, uma das perguntas que o meu pai nos ia fazendo [a Paula e às suas irmãs], claramente com a intenção de nos manter ligadas às nossas origens. Aliás, durante anos a fio, sempre no final de Julho, não falhámos uma Festa dos Moçambicanos, um convívio que, ao longo de dois fins-de-semana, em Lisboa, nos permitia ouvir música da terra, ver exibições de marrabenta, comer maçaroca assada e os tão bem temperados frangos grelhados. Nos últimos anos, também adquiri o hábito de festejar o Dia da Independência na Embaixada de Moçambique em Lisboa”.

 

 Moçambique só uma vez, e de férias

Desde 1982, Paula só regressou uma vez a Moçambique. Veio este ano e visitou Maputo e a Beira. Mais do que sentir-se em casa, sentiu-se bem na sua casa moçambicana. “Claro que estava em clima de férias e rodeada de família, o que facilita a integração, mas acredito que o sentimento de pertença vai muito além disso”.

Ainda hoje, depois só ter passado férias na sua terra de nascença, Paula sente as referências dos dois países na sua personalidade. “Mesmo que em determinados momentos e em relação a determinados aspectos me possa sentir mais portuguesa, noutras situações vejo-me claramente como mais moçambicana. Por exemplo, a minha relação com o tempo é sem dúvida mais lusitana, ou, em rigor, mais europeia: em Moçambique tenho de desacelerar as minhas urgências e exercitar outro ritmo de respiração. Por outro lado, acho absurdas algumas discussões que os portugueses vão travando”.

Friamente consegue fazer uma clara distinção entre os dois povos, dizendo que os portugueses são demasiado prisioneiros do tempo, pouco livres para o aproveitar. “Não tanto pelo ritmo de vida acelerado, mas mais pela atracção pelo queixume. Os portugueses desperdiçam muitas energias com o que vai menos bem, desconfiam quando as coisas correm melhor, e tendem a ignorar as coisas boas que têm”. Pelo contrário, sente que os moçambicanos, como bons africanos, privilegiam o compromisso com a vida, em vez de ficarem sufocados em compromissos com prazos. “Claro que essa postura descontraída tem algumas contrariedades, sobretudo em termos de cultura de trabalho, mas tem a grande vantagem de soltar a comunicação. Num convívio não se anda ali em círculos à volta do que a vida não é e deveria ou poderia ser. Sinto também que em Moçambique, e nas sociedades africanas em geral, a ideia de família é essencial enquanto em Portugal parece-me acessória. Não só no que se refere aos projectos de constituição de família, mas também em relação ao respeito pelos mais velhos. É vulgar encontrar avós a viverem na mesma casa com os netos em Moçambique, a participarem da sua educação sem que os pais achem que estão a interferir abusivamente. Em Portugal, pelo contrário, é comum os idosos permanecerem meses e meses sem uma única visita familiar, enquanto definham em lares de terceira idade. Observo também que em Portugal há cada vez mais casais que não querem ter filhos. Considero essa opção preferível à perspectiva de termos mais crianças negligenciadas no mundo, como é óbvio, mas faz-me confusão que justifiquem a decisão pela falta de recursos financeiros para os criarem, ou pela perda de qualidade de vida (noites mal dormidas, férias reformuladas etc), argumentos que, para mim, colidem com o princípio de família que, a meu ver, deve ser a base de tudo”.

Neste momento com 32 anos, Paula acredita que um dia irá optar por viver em Moçambique. “Saí de Moçambique convicta de que o país me reserva muita vida”.

 

 

@Marta Curto

SAPO Moçambique
http://mulher.sapo.mz/carreira-vida/carreira/estorias-de-vida-49210-0.html



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