Um livro de teatro como não surge há muito nas prateleiras das livrarias nacionais é a sugestão de Guilherme Afonso e sua editora, “Alcance”, em “Pão Amargo”. Nesta obra, o autor vai buscar pequenos detalhes da vida desta sociedade que é a moçambicana.
Este é um país de actores – de dramaturgos também. A frase pode não ser nova e já deve ter cansado, mas quando se volta à criatividade teatral em termos de produção de livros parece ganhar um outro sentido. Quando Lindo Lhongo, para alguns a maior referência da dramaturgia nacional, lançou “O Lobolo”, criou-se por momento um pequeno debate sobre a ausência de livros de peças teatrais.
A par da poesia e prosa – ou romances – existiu sempre uma clandestina vaga de dramaturgos, mas poucos fizeram a aventura em livro. Podíamos recolher belas peças de teatro nacionais que foram seguindo o seu crescimento, entre adaptações como “Mestre Tamoda”, de Neto Mondlane, até linhas impressionantes de “Aldeias dos Mistérios” de Dadivo José. São nomes que aparecem assim ao alto, mas podemos buscar tantos outros que não aparecem em livro.
Mas, contra a corrente, Guilherme Afonso, que chegou a Maputo – ou é melhor dizer Lourenço Marques – em 1959 para ingressar no Corpo de Polícia, curiosamente no período em que se elevava a literatura nacionalista, oferece-nos “Pão Amargo”, que sai pela Alcance Editores.
Há muito que Guilherme Afonso está na literatura, tendo aparecido em 1988 com o livro de contos “Circuito”, pela Associação dos Escritores Moçambicanos, e com poemas em “Memória Inconsumível”, pela Imprensa Universitária.
Em “Pão Amargo”, aborda a problemática social, começando pela confusão nas filas de “chapa”, como quem nos lembra que a partida para a vida começa numa paragem.
Esta é a imagem que nos salta à vista quando começamos a folhear o livro e nos deparamos com este diálogo que acontece na paragem:
“MULHER
- Eh! Senhor... O seu lugar não é aqui. Chegou agora e quer ficar à frente! O que é isso?...
INDIVÍDUO INTINTINTERPRPELADO
- Ora essa! Quem é que lhe disse isso? A senhora está muito enganada...”
Este diálogo decorre perante a passividade dos outros passageiros, o que desencadeia a ira da senhora devido à incapacidade das pessoas de reagirem perante actos anormais. Este “Pão Amargo” é uma história da vida