26/11/2011
O arcebispo da Beira, Dom Jaime Pedro Gonçalves, disse ontem na Beira, que um dos acontecimentos que mais o marcaram nos 35 anos em que esteve à frente da Arquidiocese da Beira, foi o estado em que encontrou a mesma nos anos 1975/76, período que coincidiu com a independência nacional. “Marcou-me a situação de uma igreja, que já não era uma igreja louvada, apreciada, como no tempo colonial. Acabei por receber uma diocese que já tinha o problema das nacionalizações, com as missões ocupadas e transformadas em centros de educação, o que, de facto, marca a vida de um bispo”, disse. O arcebispo da Beira convocou os jornalistas para informar que, por ocasião dos 35 anos à frente da Arquidiocese da Beira e pela passagem do seu 75º aniversário natalício, a Arquidiocese decidiu realizar uma festa de agradecimento.
Na ocasiões, referiu-se às guias de marcha, documentos na época obrigatórios para os cidadãos se deslocarem de um lugar para outro, no seu caso para fazer visitas às paróquias: “Marcou-me também o próprio ambiente religioso que já não fazia das igrejas ou da religião, de facto, um valor para a pessoa humana, mas a religião, Deus, estes conceitos, a vida eterna, céu, já não eram valores, eram apreciados de outra maneira e isso me marcou na medida em que eu me perguntava: o que vou fazer, afinal de contas?”. Dom Jaime Gonçalves recordou ainda o facto de a igreja ter participado, depois de Moçambique ter tomado parte na guerra do Zimbabwe e na guerra de libertação da África do Sul do sistema do “apartheid”, na procura de paz na sequência da guerra civil que entretanto eclodiu no país. “Esta parte da violência, também me marcou porque intrometeu-se no meu sistema de vida de bispo. Já não podia visitar também as paróquias ou as missões livremente porque tínhamos que nos acautelar da violência”, sublinhou.
O prelado disse, por outro lado, ter sido marcado por aquilo que designou de questões da sociedade e explicou que “depois do Acordo Geral de Paz, de facto a igreja viveu momentos de liberdade, momentos em que começou a trabalhar para ficar mais livre e tornar-se mais aceitável na sociedade moçambicana”.
Acrescentou que ficou impressionado por ver a grande mudança de homens e mulheres em Moçambique, a aceitarem de facto valores religiosos, espirituais, aceitarem a igreja como uma instituição digna dos moçambicanos, que pode resolver certos problemas religiosos.
“A antropologia cultural sempre revelou que o homem tende a ser religioso”, explicou para dizer em seguida que “este dado reconhecido na nossa sociedade tornou-se um grande acontecimento no interior da igreja e, particularmente, depois na Beira”, disse Dom Jaime.
FESTA DE AGRADECIMENTO
“Um agradecimento a Deus pelo dom da vida, que depois de ser um dom pessoal passou a ser também um dom para a diocese, na medida em que num dado momento da minha vida sacerdotal fui nomeado bispo da Beira, passando assim a minha vida ao serviço desta arquidiocese”, referiu. Dom Jaime explicou que a vida de um bispo numa diocese é uma vida que se considera total no sentido em que é nomeado de facto para ficar para sempre ao serviço da diocese. Recordou que foi nomeado bispo em 1976, no mês de Dezembro. Em relação à aposentadoria, o prelado explicou que quando o bispo completa 75 anos de idade, pelas normas da igreja, ele deve apresentar a renúncia do cargo ao Santo Padre e este tem a possibilidade de nomear um outro para ocupar o lugar do bispo que vai resignar. Disse estar nesta situação de esperar que o Santo Padre designe o seu substituto. “No contexto da festa de amanhã há também este significado que eu saúdo a diocese porque vou entregá-la a outro que for nomeado pelo Santo Padre para a Beira “, disse. (RM/DM)
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