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General: HISTÓRIA DA IMPRENSA EM MOÇAMBIQUE
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De: isaantunes  (Mensaje original) Enviado: 22/01/2012 21:43
Pioneiros do jornalismo em Moçambique : João Albasini e o irmão José Albasini.
"O Africano" e "O Brado Africano".
 
Este estudo contém uma série de escritos a respeito de jornalistas pioneiros na história da imprensa de Moçambique. Iniciada na segunda metade do século XIX, a imprensa moçambicana teve em João Albasini e seu irmão, José Albasini, os pioneiros no seu desenvolvimento.
João Albasini, especialmente, é considerado o primeiro jornalista de Moçambique. Criou os jornais O Africano e O Brado Africano, respectivamente. Neste artigo, depois de se fazer rapidamente uma contextualização da história do país, no final do século XIX, passa-se a analisar as contribuições dos irmãos Albasini ao jornalismo e através do jornalismo, centralizados especialmente no Grêmio Africano. 
O Brado Africano é considerado o jornal onde os principais escritores de Moçambique começaram a publicar os seus textos, enquanto o próprio João Albasini é autor de um livro póstumo que também serve de abertura para o período inicial da literatura do país.
 
 
A  política colonial portuguesa, ao contrário da França e Inglaterra, atrasou a implantação da imprensa nos seus territórios.
Foram razões de natureza externa – a invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas e a fuga da Família Real para o Brasil, com a consequente necessidade da transferência das instituições do Império para o Novo Mundo – que deram origem a mudanças substanciais e entretanto desenvolvidas.
Os acontecimentos de 1817, obrigando Dom João VI a retornar a Portugal; a Constituição liberal portuguesa de 1820 e a independência do Brasil, em 1822, mudaram a posição portuguesa e, em 1836, decretaram a necessidade de criação de órgãos oficiais de informação em todas as colónias.
 
A imprensa em Moçambique iniciou-se a partir de 13 de Maio de 1836, com a publicação da primeira edição do Boletim do Governo da Província de Moçambique.
O primeiro jornal não oficial apareceu alguns anos depois, com a publicação de O Progressoa partir de 9 de abril de 1868. Parece que teve apenas uma única edição, provocando desde logo a acção censorial do governo, mesmo contra a vontade do Governador Geral.
 
Bem ou mal, contudo, outros títulos vão suceder-se.
 
E só em finais do século XIX se irão multiplicar os títulos de publicações que vão ocupar todo o território de Moçambique.
Estes serão variados e criativos. Alguns repetem-se de uma região para outra, o que obriga o pesquisador a prestar muita atenção na selecção de dados para a recomposição da história da imprensa moçambicana da época.
Ilídio Rocha, autor das pesquisas mais consequentes e organizadas, até o momento, sobre o tema, interpreta a multiplicação dos jornais, nas duas últimas décadas do século XIX, a partir dos seguintes elementos :
 
A) A miscigenação, resultado de relações mais ou menos duradouras, das quais nascerá uma nova categoria social, integrada pelos mistos ou assimilados, que constituirá, naquele momento, uma espécie de elite mulata, uma “burguesia nascente e elite iluminada”, que combaterá as velhas ideias sobre a colonização e defenderá o que muitos autores chamarão de “moçambicanidade”.
 
 B) A fundação, pela Maçonaria, em 1891, de escolas para alfabetização, em Lourenço Marques, a que se seguirão outras, onde não haverá discriminação racial e onde pretos e mulatos, meninos e meninas, poderão ser alfabetizados.
A mesma prática é seguida pela Missão Suíça de Lourenço Marques, dedicada exclusivamente à alfabetização das populações negras, a que acrescentará mais tarde o ensino profissionalizante.
 
C) O surgimento de um funcionalismo burocrático, constituído de mestiços, após a República;
 
D) A ampliação da economia da colónia exige cada vez mais mão de obra, absolutamente impossível de ser preenchida apenas por cidadãos europeus.
 
Em síntese, surgem cidades, ou seja, há uma urbanização crescente em alguns pontos do país, o que vai provocar uma grande atividade jornalística ao final daquele século XIX, na medida em que nasce um sentimento proto-nacionalista entre esta população autóctone que, se mantém e defende a identidade portuguesa da origem paterna, reconhece seus laços com os indígenas, de que fazem parte suas mães.
 
Esse sentimento de incipiente nacionalidade pode ser claramente vislumbrado nos nomes de alguns jornais que então aparecem, e que vão se perpetuar ao longo do século XX, quando incorporam o adjetivo africano.
O mais antigo é "O Africano", de Quelimane (1 de Julho de 1877), cujo slogan “Religião, Instrução e Moralidade” fala por si próprio.
Seguiu-se uma Revista africana, criada por J. P. Campos Oliveira, que estivera na Índia.
Foi a primeira revista literária da colónia, editada em Lourenço Marques.
José Pedro Campos Oliveira, seu responsável, é o primeiro escritor de língua portuguesa nascido na colónia.
Estudou em Goa, escreveu noutros jornais e publicou ainda um Almanaque popular, em 1865.
 
Em 1886 é a vez de uma "Civilização Africana", de que não se tem praticamente nenhuma informação.
Teria sido um jornal editado na ilha de Moçambique.
Ainda no século XIX, aparece um "Clamor Africano", datado de 1892, da responsabilidade do mestiço e ex-alferes Alfredo de Aguiar, que já havia publicado outros jornais e continuaria a editá-los, não obstante as constantes interdições pelas autoridades, graças às diatribes que praticava.
 
Os mesmos pesquisadores registam, ainda, um jornal chamado O luso-africano, que se teria publicado a partir de 3 de Janeiro de 1892, e outro "O Africano", em 13 de Novembro daquele mesmo ano.
Não se têm mais informações a respeito de nenhum deles e é provável que não tenham passado de uma só edição .
 
Muitas outras publicações surgiriam com adjetivações semelhantes, ao longo das décadas seguintes:
- O Africano, almanaque que circulou entre 1912 e 1914 (ROCHA, 2000, p. 87);
- Um semanário chamado Missão Africana, ligado à Missão de N. Sra. do Rosário, da Beira (1931 a 1940);
- Um semanário chamado "Voz Africana", que começou a ser editado em 30 de dezembro de 1932 e que ainda nos anos 1970 permanecia em publicação.
Some-se a tudo isto, ainda, e sobretudo, a percentagem de analfabetos e a diversidade linguística.
 
O Censo de 1894, por exemplo, indica que, em Lourenço Marques – que foi, em última instância, a localidade de maior desenvolvimento inicial da imprensa – apenas 15 africanos sabiam ler e escrever.
De qualquer modo, os editores de jornais consideravam que a imprensa era a mola propulsora para a cultura, e daí a importância do jornalismo, naquele momento pois aliava-se o discurso à acção pedagógica. 
O que então se publicou foi mais importante pela provocação do debate suscitado do que propriamente pelas vitórias alcançadas ou pela qualidade dos textos.
 
É neste contexto que surgem os irmãos Albasini, João e José.
 
São netos de um certo João Albasini (1813-1888), comerciante português que primeiro se estabelecera no Transvaal, ali ajudando a construir uma estrada até o porto de Lourenço Marques (1855).
João Albasini foi caçador, chefe tribal e alto funcionário do governo da República Bôer.
Esse mesmo João Albasini, já comerciante, estabelece, em 1859, um consulado português no Transvaal, que mantém às suas expensas, até 1868.
 
Em 1860, ainda João Albasini toma a iniciativa de criar um serviço de correios entre o local em que vivia, Zoutpansberg e Lourenço Marques, naquele momento apenas um presídio.
O correio era transportado por um soldado da instituição militar.
Sabe-se que também adquiriu uma porção de terra e a doou a Portugal, no Transvaal, vindo a constituir a colónia de São Luís. João e José Albasini são netos deste pioneiro.
Não se encontraram mais dados sobre José, que era mais novo.
 
Ilídio Rocha indica que, como o irmão, José era despachante oficial no cais do porto de Lourenço Marques.
Participou, com o irmão, na fundação de dois jornais e substituiu-o em "O Brado Africano", após sua morte, em 1922, vindo a envolver-se numa disputa com Karel Pott e o Grémio Africano em 1932, em cuja fundação os dois irmãos haviam participado e pela qual lutaram bastante.
 
Quanto a João dos Santos Albasini, sabe-se que nasceu em 2 de novembro de 1876, em Magule - Chibuto, distrito de Gaza, vindo a falecer em 1922, em Lourenço Marques, aos 46 anos de idade.
Como filho da aristocracia local, estudou as primeiras letras numa missão católica de Lourenço Marques.
Fundou, com o seu irmão dois jornais, "O Africano" e "O Brado Africano".
Em 1925, teve publicado um livro póstumo de crónicas e contos, "O livro da Dor".
João e José eram filhos de Francisco João Albasini e de Joaquina Correa de Oliveira, ela, mulata.
Tinham mais dois irmãos, Maria Isabel e António Paulino.
 
Na sua juventude, João Albasini foi protegido de José Aniceto da Silva, então Director dos Correios de Moçambique, que o levou para trabalhar naquela repartição.
Começando como ajudante de despachante, mais tarde tornou-se chefe de pessoal e despachante oficial.
A pedido do Governador- Geral Freire de Andrade, encarregou-se dos serviços indígenas dos Caminhos de Ferro de Moçambique.
Demonstrando não ter preconceitos ideológicos, ao lado da relação com o monarquico Freire de Andrade apoiou medidas favoráveis à educação do histórico republicano Brito Camacho, com quem depois rompeu, por se sentir traído.
Desde jovem, começou a escrever em jornais, como o "Vida Nova" e o "Diário de Notícias", de que sairia para fundar, em 1908, "O Africano" e, depois de vendê-lo ao Padre José Vicente do Sacramento, fundou em 1919  "O Brado Africano".
 
Deixou pelo menos um filho, de que se tem registro, Carlos Albasini.          
Na disputa em torno da legislação discriminatória sobre os indígenas e os assimilados, João Albasini, sob o argumento de tratar sua tuberculose, parte para Lisboa.
Na verdade, levava “consigo uma lista de reivindicações”, cujo tema eram as chamadas Leis de Excepção:
a) Redução do imposto de palhota (4) ;
b) Fim do chibalo (5);
c) Que não fossem expropriadas as terras de várzeas;
d) Que se acabasse com a importação de bebidas (6);
e) Criação de escolas de artes e ofícios e ensino para as mulheres;
f) Aprovação dos estatutos do Grémio Africano, que saltava de gaveta em gaveta nos gabinetes da burocracia local desde 1908.
 
Chegado a Lisboa, Albasini passa a escrever no jornal "O Combate", do Partido Socialista, que assume suas reivindicações, encaminhando-as para seu deputado, Ramada Curto.
Ao mesmo tempo, o jornalista envia artigos para  O Brado Africano, originalmente publicados em jornais dos Estados Unidos, onde denunciava as violências da política colonial portuguesa na África.
A edição de O Brado Africano de 18 de setembro de 1920 traz em destaque a realização de eleições para o cargo de Deputado, às quais João Albasini se candidata. Para isso, regressa de Lisboa e a edição daquele periódico formaliza a sua candidatura em sete colunas, ocupando toda a parte superior do jornal, logo abaixo do cabeçalho, como era então comum nos jornais, onde se lê:
"É chegado o momento do povo de Moçambique mostrar no escrutínio quais são as suas aspirações."
Critica-se o esquecimento a que eram votados pelo Governo da metrópole, a falta de iniciativa da Administração Pública, o anacronismo em todos os seus processos, a ignorância por parte dos homens governam no Terreiro do Paço, das necessidades das colónias.
0 povo que moureja nas colónias de que depende o remover todos esses obstáculos para o avanço, insistentemente proclamado pelas colónias, elegendo um deputado que de todas essas necessidades tenha conhecimento e que lá, perante oPparlamento, levante a sua voz, sem ligações de interesse partidário, reclamando o que as colónias precisam para o seu desenvolvimento (7).
 
Como era comum, o artigo passa a analisar os candidatos:
- Dr. Jaime Ribeiro, médico conhecido, filiado no partido Alvarista ;
- Fontoura da Costa, Oficial da Armada, do partido democrático;
- João dos Santos Albasini, nosso director e patrício, que, vista a sua acção de jornalista e defensor acérrimo do progresso da província, sob o manto diáfano da sinceridade, não há, incontestavelmente, quem não lhe faça a justiça de ver nele o homem que só pela província e para a província trabalhe.
E o artigo se encerrava, conclamando todas as classes comerciaes, industriais, de profissões liberais, as classes trabalhadoras e todos os organismos operários, para que em conjunto deem o seu voto em João Albasini, para deputado independente que se apresenta sem outro fim que não seja o progresso desta colónia, da terra que ele tanto ama e pela qual tem pugnado em toda a sua vida de jornalista, apesar de todos os dissabores que a sua atitude lhe tem rendido.
À urna, pois, por: João dos Santos Albasini! – Jornalista (O BRADO AFRICANO, 18.9.1920, p. 1).
 
Na mesma edição e na mesma página, era publicado o “Edital” firmado pelo Dr. Augusto do Amaral Polónio, Juiz de Direito do Juízo Cível e Comercial da Comarca de Lourenço Marques, tornando pública a candidatura de João Albasini, apresentada por 25 eleitores, segundo a lei.
Fica-se ali sabendo que ele é divorciado, residia em Lisboa e que a eleição ocorreria no dia seguinte.
O edital tem a data de 12 de Setembro.
O processo eleitoral iniciara-se a 17 de Setembro, mas só terminaria a 21 de Agosto do ano seguinte .
 
Originalmente, João Albasini e o Grêmio Africano eram contrários à participação em quaisquer eleições, por entenderem-nas sempre fraudulentas.
Mas o partido Socialista de Lourenço Marques era exclusivamente formado por brancos e, assim,
Albasini preferiu aproximar-se do mesmo partido em Lisboa, que aceitava mulatos com naturalidade e por esse motivo
 resolveu candidatar-se.
Dois anos depois vem a falecer, inesperadamente, ainda que permanecesse enfermo durante todo esse período, mas mantendo as lutas que encetara, desde cedo, através das páginas de seus jornais.
Sabe-se pouca coisa a respeito de "O Africano".
 
José dos Santos Rufino, em registo citado por Raúl Dias Neves (1957, pp. 73 e 74) diz que o jornal foi editado primeiramente por José Albasini, a partir de 1911, sendo seu director João Albasini.
Ilídio Rocha refere à data de 25 de dezembro de 1908 como a do lançamento de uma edição-programa do jornal, o que era comum.
A primeira edição, porém, teria sido impressa apenas a 1 de Março de 1909, muito provavelmente para cumprir as exigências da legislação então vigente.
A novidade é que o jornal mantinha uma página redigida em landim ou língua ronga (10), o que logo o tornou extremamente popular.
Financeiramente, sabe-se que foi ajudado, desde o início, por um grupo maçónico, de que faziam parte, dentre outros, o capitão Francisco Roque de Aguiar, Presidente do Capítulo da Instituição, o Dr. Jaime Ribeiro, militante socialista, e José Corrêa da Veiga.
A publicação era semanal e foi suspensa poucas semanas depois, reaparecendo em 1912, sob a mesma equipe original, a qual se somou José dos Santos Rufino, como secretário de redação e administrador. 
"O Africano", desde o início, tinha tipografia própria, do próprio João Albasini e de Santos Rufino, que passou a ser seu director e editor.
 
O jornal circulava em Moçambique, mas também era enviado para as minas do Transvaal, que empregava força indígena moçambicana, valendo-se, para tal, especialmente, dos préstimos de um sacerdote, cuja história é extremamente controvertida, que depois viria a adquirir o periódico, Padre Vicente.
 
O Africano foi o primeiro jornal de Lourenço Marques a contar com um serviço telegráfico desde Lisboa, através da agência Havas, a que depois somou os serviços da Reuters, até então exclusividade do The Guardian, que se publicava, em inglês, em Lourenço Marques.
O jornal teria chegado a ser editado bissemanalmente, durante certo período, e durante a I Grande Guerra, graças aos boletins especiais que transmitia, chegou a ser trissemanal. 
 
 O periódico, no entanto, depois de vendido perdeu a sua linha editorial original e começou a enfrentar a competição de uma nova publicação que os irmãos Albasini fundaram imediatamente, com o dinheiro que haviam recebido no negócio com o religioso, O Brado Africano.
Assim, em 1920, desacreditado, "O Africano" deixou de circular e o sacerdote partiu para Portugal, bastante rico, fazendo doações à igreja, para ser perdoado (o dito-cujo sacerdote era casado!), sendo substituído na lotaria pelo mesmo José dos Santos Rufino.
 
Quanto a O Brado Africano, é resultado da associação de João e José Albasini com Estácio Dias, outro mestiço, funcionário da Fazenda.
O primeiro número do jornal aparece em 24 de Dezembro de 1918, também enquanto “número programa”.
O jornal logo se instala e a sua tipografia no Grémio Africano, ainda em organização.
O periódico é propriedade da Empresa do Jornal O Brado Africano, como se lê no seu cabeçalho.
Essa situação vai modificar-se por volta de 1920, quando o jornal se torna porta-voz oficial do Grémio Africano e sua propriedade até 1932, quando uma crise afetará a publicação e sua relação com a instituição.
O Brado Africano também será um semanário e, do mesmo modo que  O Africano, publicará uma página em landim.
Dirigia-se, pois, claramente, à população mestiça alfabetizada e aos poucos negros que soubessem ler ou brancos que se interessassem pelas suas notícias e polémicas.
 
Ilídio Rocha distingue pelo menos três fases na existência do jornal:  de 1918 a 1932, quando foi dirigido, de facto, pelos irmãos Albasini; até 1922, sobretudo por João; após a morte dele, por José; em ambos, os casos com ampla participação de Estácio Dias, que tornou-se seu editorialista, inclusive, após a morte de João.
 
Quando surge a Lei João Belo, de 1926, que exige um Director com título universitário, formalmente assume a direcção o farmacêutico João Custódio Xavier de Assis Pais, formado em Goa. Com seu regresso a Portugal, sucede-lhe o advogado mestiço Karel Pott (14), que acaba por provocar um sério conflito judicial junto das autoridades locais, levando o jornal a uma condenação pelo Tribunal da Relação e à sua suspensão, por dois meses.
 
Nesta fase, em torno de 1928, anuncia-se como “o jornal de maior tiragem na Província de Moçambique”, segundo Ilídio Rocha (2000, p. 268).
No entanto, uma simples consulta aos jornais evidencia que, na verdade, esse segundo slogan é adoptado a partir de 1919, ainda em vida de João Albasini (O BRADO AFRICANO, 30 de junho de 1922), desde a passagem do primeiro ano de vida do periódico (veja-se a edição de 24.12.1919).
Entra aí a segunda fase: trata-se da publicação de um jornal em substituição a O Brado Africano: trata-se de "O Clamor Africano" .
 
Se o slogan de O Brado Africano fora, no seu início, “em prol dos interesses dos naturais das colónias portuguesas”, o mesmo slogan será retomado pelo "O Clamor Africano" que, além do mais, continuava propriedade da mesma instituição e sob a direção da mesma pessoa, José Albasini.
 
Foram doze edições, de 12 de dezembro de 1932 a 25 de fevereiro do ano seguinte, durante cerca de dois meses (16).
Na primeira página da edição inaugural de 10 de Dezembro de 1932, Estácio Dias, sob o título “Idealismo pateta”, lamenta a divisão havida no Grémio Africano e no próprio jornal, mas reconhece a importância de uma nova geração de militantes, dispondo-se a ceder seu lugar.
Na mesma página, sob a chamada O Brado Africano, aborda a sentença do Tribunal da Relação proferida contra aquele jornal, suspendendo-o por dois meses.
Assim, “os fundadores” decidiram por publicar outro jornal durante este período.
Quem são eles? O artigo nomeia-os: Antonio Xavier, Estácio Dias, Francisco Benfica, Francisco de Haan, Joaquim Smart, José Albasini, Sebastião Torres da Fonseca, Sebastião Xavier e Thomé Fornasini, dentre os vivos, além de Ferdinand Bruheim, Guilherme Bruheim, João Albasini e Rodrigo da Cunha Amaral, já falecidos.
 
Não foi só em Moçambique, contudo, que O Brado Africano enfrentou problemas.
Na edição de 31 de Dezembro de 1932, lemos que o jornal havia sido proibido de circular também em São Tomé, o que o jornal, em artigo de Estácio Dias, estranha e lamenta.
A mesma edição, contudo, traz algumas notas entre alegres e tristes.
Regista a missa de sétimo dia pela morte do Padre Vicente do Sacramento, anuncia o baile carnavalesco do Grémio Africano e, enfim, difundeo  concurso que o jornal realiza entre os seus leitores, com prémios que incluem uma máquina de costura, uma máquina fotográfica, sabonetes, caixas de perfumes, tecidos, bolsas, etc., graças à colaboração dos seus anunciantes.
 
A terceira fase inicia-se com o retorno da circulação do jornal.
Ilídio Rocha, uma vez mais, mantém a crítica ao periódico, afirmando que ele deixaria de ser importante, à exceção de alguma colaboração literária importante, que divulgaria em suas páginas, graças às participações de Rui Noronha, José Craveirinha e Noémia de Sousa, reconhecidos por todos os historiadores da literatura moçambicana como seus principais expoentes naquele momento.
 
Seja como for, o Grémio Africano transforma-se em Associação Africana de Lourenço Marques e continuará a editar o jornal até 1974.
Ilídio Rocha revela que, a partir de 1958 o jornal foi entregue, em concessão, a Aurélio Ferreira, que deixara de ser o chefe de redação do União, órgão da União Nacional, por esta ter sido extinta.
Neste período, até 1974, o jornal terse-ia alinhado definitivamente à ditadura salazarista.
O Grêémio Africano chegou a receber verbas para aquisição de terreno e construção de sua sede própria e financiamentos com a mesma finalidade.
 
O jornal  O Brado Africano, contudo, foi o grande momento dos Pioneiros da imprensa em Moçambique.
No seu editorial de lançamento, firmado por João Albasini, pode-se ler, sob o título “Assestando baterias...”: Todo aquele que não luta pelo seu Direito condena-se voluntariamente a ser capacho dos outros. Parar é morrer. Ante o Altar do Dever prostremo-nos pois e façamos por nos fazer ouvir nas nossas queixas, nos nossos brados, nas nossas suplicas! Programa... Para quê a explanação aqui de um programa, se todos sabem ao que vimos e o que queremos? Vamos seguir a mesmíssima senda que encetamos ao fundar O Africano em 1908.
 
Nesta mesma primeira página, sob a rubrica “Noticiário”, há uma nota de “Expediente”, como segue: “Enquanto não regularizarmos as listas dos Srs. Assinantes e não tivermos o serviço telegráfico de Lisboa, que já foi pedido, o nosso jornal sahirá aos sábados.
Assim que tivermos os nossos serviços em ordem passará a bissemanário, com mais paginas ou formato maior” (O BRADO AFRICANO, 24.12.1918).
 
O jornal estreia com quatro páginas, em tamanho tablóide, cinco colunas.
Na mesma edição, na página 3, reaparecia a “Secção Landim”, que se manteria ao longo dos anos. Ela reproduzia, às vezes in totum, de maneira reduzida, o noticiário dado em língua portuguesa.
Incluía os anúncios publicitários, muitas vezes.
Folheando as edições de O Brado Africano, torma-se evidente a política adoptada pelo jornal: na edição de 18 de Janeiro de 1919, na primeira página, encontramos a transcrição do “Memorial” levado ao governo, em protesto à discriminação para com indígenas e assimilados.
 
O Nº 2 é o programa do ‘Brado Africano’’, cujo número foi aprehendido por ordem do "Exmo. Snr. Delegado do Crime”.
A explicação detalhada surge, contudo, mais adiante, sob a chamada “Vexando a imprensa”, em que O Brado Africano comenta nota de O Guardian, segundo a qual o Delegado mandara aviso de que o jornal não poderia circular sem licença, mas o aviso chegara tarde.
Por consequência, o jornal acabou por ser recolhido.
Ao mesmo tempo em que os editores pedem desculpas às autoridades, esclarecendo não ter havido qualquer intenção de fraude à lei, protestam porque, como dizem, “sempre nesta terra sairam números únicos,  números programas,  números de propaganda enquanto a papelada da gazeta que se pretendia habilitar anda aos safanões, ‘entre termos de recebimento e autos de conclusões passaram sempre sob o consentimento tacito”.
 
Não foi, contudo, o que ocorrera com o jornal.
A nova publicação não se exime, contudo, já nessa edição, de estabelecer polémica com o antigo "O Africano".
Um dos motivos foi que João Albasini e o seu grupo se opunham fortemente à acção das chamadas missões laicas, permitidas pelo governo português desde 1913 .
A edição de 24 de dezembro de 1919, justamente um ano depois de iniciada a circulação do periódico, sob a manchete “O nosso aniversário e o Natal” refere aquele primeiro período queixando-se de que muito tem gasto e pouco resultado (político) tem alcançado. Garante, contudo, que continuará na luta, como o fez, efectivamente.
 
É do ano seguinte, a 18 de setembro de 1920, a aventura de João Albasini como candidato.
Ultrapassada esta etapa, contudo, eilo, na edição de 13 de novembro de 1920, a atacar um tema de sua predileção: a educação.
Sob o título “O problema da instrução”, matéria sem assinatura – portanto, de responsabilidade do Diretor do Jornal – discorre sobre a educação ser o principal meio de ascensão social em Moçambique. Critica, contudo, o facto de que o governo português, embora omisso na solução do problema, seja eficiente em proibir iniciativas particulares. 
Uma legislação rígida vigorava desde 1907. Crianças e jovens africanos eram discriminados em face das crianças e jovens europeias .
 
Destacava a importância da contribuição da maçonaria e sublinhava que o ensino era um importante elemento civilizador. O Grêmio Africano já instalara classes noturnas, inclusive.
Reconhecia-se a importância da escola mínima, mas, ao mesmo tempo, defendia-se a necessidade de escolas profissionalizantes.
Mais que isso, para arrancar a mulher indígena à instituição do lobolo, havia que garantir-lhes também a escola, afim de que ela não fosse mais considerada como simples mercadoria. 
A educação da mulher elevaria o homem, entendia Albasini.
Buscava-se, assim, a criação de escolas agrícolas, para os jovens, e escolas capazes de educar as meninas nas práticas necessárias a uma boa dona de casa e também para que pudessem se profissionalizar, garantindo-lhes sobrevivência e manutenção das famílias, se seus maridos as abandonassem, o que era pioneiro da imprensa em Moçambique.
 
Aliás, foi uma posição mais radical a respeito de tais temas, já após a morte de João Albasini, que acabou por gerar a crise entre Karel Pott e José Albasini, crise já mencionada.
A edição de 25 de dezembro de 1920 comemorava os dois anos de existência de "O Brado Africano".
 
João Albasini insistia no “saldo negativo” verificado até então quanto às metas preconizadas pelo jornal e pelo Grémio Africano. Mas insistia: “O nosso apelo não ficará por aqui e hade constituir sempre um de nossos principaes programas: a educação do nativo”.
Sob um dos vários pseudónimos que utilizou ao longo da carreira, João das Regras, Albasini manteve constante este combate ao longo de todos os anos de sua vida.Na edição de 24 de dezembro de 1921, chegando a seu terceiro ano de vida, o jornal reiterava, desencantado: “Para quê três anos de luctas e dissabores?”, mas insistia, sob a chamada “Para ser lido – Mão d’obra indígena” acerca da necessidade de uma legislação capaz de valorizar a mão de obra indígena e garantir-lhe a propriedade de terras.
 
Em 30 de junho de 1922, comemorando o primeiro aniversário que marcava um jornal da Liga Africana de Portugal, reclamava: “Justiça! Justiça para o africano, é a causa principal que os levou a fundarem o ‘Correio de África’, sem outra pretenção que não seja a elevação moral do preto, os seus direitos respeitados, admitido a cooperar com o europeu em todos os campos de actividade, segundo o seu grau de inteligência”.
Insistia, no mesmo artigo: “A nossa raça não é inferior. Temos os nossos ideais, temos a nossa elevação, muito compreensível”.
 
Chega-se, então, à triste edição de 19 de agosto de 1922 quando se regista o falecimento de João Albasini e o seu funeral.
A matéria, sob o título que contém o nome do falecido, é longa.
Regista, detalhadamente a transladação do caixão da residência do jornalista, no bairro da Maxaquene, até ao cemitério e as primeiras homenagens.
Próximo das 16 horas, o féretro deixou a residência do antigo Director do Jornal.
O caixão, colocado num carro acompanhado por oito tocheiros e pelo Padre José Brás Matozo que lhe ministrara a extrema-unção, puxado por duas parelhas de cavalos, percorreu toda a Avenida Pinheiro Chagas.
O morto vestia “fato preto de jaquetão”. O cortejo formava-se com as mulheres à frente, um grande crucifixo, logo após, e a Banda da Missão de São José de Lhanguene.
O cortejo chegou ao cemitério às 18 horas. Seis diferentes grupos de amigos conduziram o caixão até o nicho em que foi depositado: o segundo bloco foi constituído por representantes dos Jornais Lourenço Marques The Guardian, Jornal do Comércio, Correio de Moçambique, Colónia, Colonial, Oriente, Sol d’África e Emancipador.
O quarto grupo coube aos jornalistas de "O Brado Africano" e o sexto grupo, aos amigos do Grémio Africano.
Houve discursos em português e em landim.
Cinco coroas foram depositadas no esquife, uma das quais dos colegas da Imprensa Nacional. Outra dos irmãos, filho e sobrinhos.
Cerca de cinco mil pessoas compareceram ao enterro. “Com a idade que tenho de 70 anos nunca vi tanta gente num enterro”, comentou um morador.
 
Fernanda Nascimento Thomaz considerou que a maioria deveria ser de indígenas e assimilados e regista que, dentre as autoridades, encontrava-se o futuro Ministro das Colónias, João Belo, autor da draconiana lei de imprensa, de 1926.
Na edição de 8 de Setembro, os registos sobre a morte de João Albasini continuaram.
Sob a chamada de “Dois mortos”, Ernesto de Morais lamenta a morte do jornalista: “combatente terrível – vergastando os mandões e apupando os fariseus.
Na imprensa, foi um gigante e em Moçambique faz falta insuprível. Articulista poderoso e polemista vigoroso”. O mesmo articulista acrescenta: “Não era um homem vulgar, era um super homem, desses homens cujo talento é congenito”, e finaliza: “Combatente idealista, um abolicionista de preconceitos raciais era um valente e um homem de bem”. 
Na mesma primeira página, outro artigo, sob a chamada “João Albasini” traçava a biografia do falecido.
A matéria detalhava, ainda, as condolências recebidas de Lisboa, Ibo, Chai-chai, Chibuto, Quelimane, Ressano Garcia, Inhambane, Beira, Johanesburgo: “A morte de João Albasini enluta toda esta parte nascente de nossa África”, dizia uma das mensagens, tanto mais importante porque vinda de um adversário político.
Alguns extrapolam: “Os seus escritos eram apreciados por toda a imprensa mundial”, enquanto outros são mais objetivos: “Defendeu, ele, sempre, a raça a que pertencia, não deixando, contudo, de ser alvo de censuras e de aplausos”; e concluem: “O indígena perdeu em João Albasini um intemerato defensor dos seus interesses”.
O Grêmio Africano, por seu lado, publica uma “Convocação” para a eleição de um novo presidente, até então João Albasini.
José Albasini, o irmão, substituiu-o na gestão do jornal, até o episódio do conflito com Karel Pott.
 
A importância de  O Brado Africano é incontestável.
Foi nas suas páginas que Rui Noronha publicou seus primeiros poemas. Estreou-se no jornal aos 17 anos de idade, em 1932, com uma série de crónicas. Depois da divisão no seio do Grémio Africano, com repercussões no jornal, diminuiu sua colaboração, mas não se ausentou. 
Também o poeta José Craveirinha começou a divulgar seus poemas, na década de 40, no mesmo jornal.
Nos anos de 1950, um jovem de 19 anos, Marcelino dos Santos, residindo em Lisboa, escreve para O Brado Africano destacando seu papel de divulgador da cultura moçambicana.
Era, nada mais nada menos, que o filho de Firmino dos Santos, que também havia se iniciado ainda aos tempos de "O Africano".
Quando Rui Noronha vem a falecer, em 1943, é ainda em "O Brado African"o que publica seu obituário, lembrando que ele “proclamara o direito de cidadania dos nativos”.
Dentre as tantas homenagens que foram prestadas a João Albasini, uma foi marcante: o Grémio Africano deu o seu nome à Escola que mantinha na sua sede.
E em 3 de dezembro de 1936, outro jornal de Lourenço Marques, o também longevo "Notícias", registava que a Escola João Albasini descerrara a fotografia do patrono e apresentara uma exposição das jovens alunas, constituída por trabalhos manuais, “onde se viam muitos extraordinariamente interessantes, especialmente bordados”.
O artigo concluía: “Se fosse dado aos mortos ver e sentir, João Albasini sentir-se-ia satisfeito na campa em que repousa com este produto do seu esforço”.
 
Em síntese, pode-se dizer que João Albasini foi verdadeiramente o primeiro jornalista de Moçambique e foi também, autor de obra literária que divide períodos na formação daquela literatura, da mesma maneira que ajuda a constituí-la, publicando os primeiros escritores do país.
Militante, defendeu a cidadania do indígena e do mulato, deu especial atenção à posição social da mulher e reconheceu, na educação, o elemento dinamizador de civilização.
 
Texto revisto, adaptado e coligido a partir de :
 
"Pioneiros da imprensa em Moçambique - João Albasini e seu irmão"
 
ANTÓNIO HOHFELDT e FERNANDA GRABAUSKA
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
 
Sociedade Brasileira de Pesquisa em Jornalismo


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