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noticias: Comboio volta a ligar Beira e Moatize: O fim do martírio que durou 29 anos
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De: isaantunes  (Mensaje original) Enviado: 18/02/2012 09:58


Como já foi largamente divulgado, o comboio voltou a apitar entre a cidade portuária da Beira e a vila carbonífera de Moatize, facto que sucede, precisamente, 29 anos depois, já que o último, segundo os registos disponíveis, teria sido a 23 de Setembro de 1983. Para registar o acontecimento, os Caminhos de Ferro de Moçambique organizaram uma viagem inaugural transportando mais de 1200 passageiros, entre os quais alguns responsáveis da empresa, um grupo de jornalistas para o efeito convidados e outras pessoas.

Maputo, Sábado, 18 de Fevereiro de 2012:: Notícias 
Este comboio inaugural partiu da Beira às 18.50 horas do dia 7 de Fevereiro corrente, percorrendo então os 574 quilómetros que separam as duas regiões. Quando eram precisamente 16.17 horas do dia 8, o primeiro comboio atingia, triunfalmente, a vila de Moatize, o que significava, no entanto, um atraso de duas horas e 11 minutos em relação ao previsto.

Tal atraso deveu-se, segundo nos foi explicado, ao cruzamento com um outro comboio da Vale, na estação de Catema, a 32 quilómetros da estação de Moatize.

“Só assim é que acreditamos que, na verdade, a guerra acabou em Moçambique! (…) nós aqui, em Chavundira, ainda nos sentíamos discriminados e sem, realmente, usufruirmos do desenvolvimento do país de que sempre falam os nossos dirigentes”. Estas palavras foram proferidas por uma jovem doméstica, de 32 anos de idade e mãe de quatro filhos, residente naquela zona do interior da província de Tete que, pela primeira vez, conhecia um comboio de passageiros que, na circunstância, circulava pela Linha de Sena, entre as estações ferroviárias da Beira e Moatize.

A data ficou assim gravada na memória dos utentes que não se esquecem do 23 de Setembro de 1983, dia em que deixou de apitar o comboio de passageiros, o que voltou a acontecer a 7 de Fevereiro de 2012.

A partir desta data, vai ser assim mesmo, o comboio de passageiros partirá da Beira todas as terças-feiras às 18.50 horas com previsão de chegar a Moatize às 13.49 horas das quartas-feiras. Fará o mesmo trajecto no sentido contrário, arrancando de Moatize às 7.00 horas das quintas-feiras e chegando a Beira às 03.09 horas, nas sextas-feiras.

Entre Beira e Moatize, cada bilhete de passagem custa 345,00 meticais nas carruagens da 3ª classe e 801,00 fixados para 2ª contra perto de mil meticais aplicados no transporte rodoviário.

Na verdade, foi motivo de grande satisfação, pois como dissemos passavam aproximadamente 29 anos de completa interrupção da circulação de comboios de passageiros e de mercadorias entre as comunidades daquela região do Vale do Zambeze por causa do conflito armado no país.

Conforme preconiza a cronologia dos trabalhos de restauração desta ferrovia, o comboio de passageiros voltou a circular, em 2008, no troço Beira/Marromeu. Em 2010 foi relançada a circulação Beira/Mutarara e, finalmente, Beira/Moatize.

Para a Direcção Executiva da Empresa Pública Portos e Caminhos de ferro de Moçambique-Centro tudo isso representa um orgulho para o povo moçambicano, tomando em conta que não foi fácil atingir este objectivo.

No entanto, o importante neste momento é garantir a manutenção e melhoramento da circulação dos comboios evitando, acima de tudo, actos de sabotagem e vandalização das respectivas carruagens, o que pode significar um desaproveitamento precoce dos recursos investidos.

Por isso mesmo, é de todo o interesse da comunidade a conservação deste meio de transporte, fundamentalmente pelo seu elevado conforto, segurança, baixo preço e maior capacidade de transportar pessoas e mercadorias.

Mesmo assim, reina alguma inquietação no seio das comunidades por onde a Linha de Sena passa, tudo relacionado com o eventual aumento do índice de criminalidade na região pelo facto de o comboio de passageiros vir a contribuir para uma maior movimentação de pessoas do campo para a cidade e vice-versa.

Em perspectiva melhor exploração dos recursos

Maputo, Sábado, 18 de Fevereiro de 2012:: Notícias 
Para já, é expectativa colectiva da comunidade do vale do Zambeze que com o regresso do comboio de passageiros àquela região formada pelas províncias de Manica, Sofala, Tete e Zambézia efectivamente se conheça uma maior exploração e escoamento dos seus recursos naturais.

O “Baixo Zambeze” orgulha-se das suas altas potencialidades agrícolas, pecuárias, minerais, florestais, faunísticas, piscatórias, turísticas, entre outras, cuja exploração ainda é considerada bastante virgem.

Aliás, este objectivo foi sempre defendido pelo Governo e seus parceiros de cooperação internacional, o que culminou, em 2004, com a alocação inicial de mais de 230 milhões de dólares para a reabilitação daquela ferrovia com uma extensão total de 574 quilómetros, incluindo o ramal Inhamitanga-Marromeu.

Trata-se de uma via que passa sucessivamente pelas zonas mais ricas de Moçambique, destacando-se as potencialidades agrícolas de Marromeu e Caia, o gado bovino de Mutarara, as madeiras e o algodão de Cheringoma, Caia e Doa, o calcário de Muanza e o carvão de Moatize com volumes incalculáveis e outros minerais como ferro.

A Linha de Sena, que atravessa igualmente zonas de muita água, sobretudo do “Grande” Zambeze, começa e termina dentro do país, sendo esta uma particularidade que, segundo o director executivo da Empresa Pública dos Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique-Centro, Cândido Jone, lhe distingue das outras internas como as de Machipanda, Maputo e Nacala.

Por outro lado, pretende-se que o relançamento do comboio de passageiros incentive as comunidades que vivem ao longo da linha no aumento da produção, escoamento de excedentes agrícolas para a comercialização nas grandes cidades e de regresso comprem o que não existe lá para alimentar as suas cantinas.

Por isso mesmo, os Caminhos de Ferro de Moçambique classificam esta ferrovia de catalisadora desta região, enquanto a Linha de Machipanda com o vizinho Zimbabwe está mais virada para o transporte de carga.

Já não vamos viajar como animais

Maputo, Sábado, 18 de Fevereiro de 2012:: Notícias 
Fátima Almeida, que fazia o trajecto Inchope-Caia-Moatize-Catandica, em conversa com o nosso repórter, revelou que há pessoas que já começam a planificar viagens para Beira e Moatize, porque já há um meio de transporte seguro, acessível e em condições. “Viajávamos como se fôssemos animais, apinhados nos “chapas”, debaixo de intenso sol, poeira e chuva, num trajecto que levava até dois dias entre Mutarara e Moatize e com o agravante das constantes avarias de automóveis”, desabafou o antigo combatente Joaquim Vijarona.

O ancião em alusão aproveitou o nosso Jornal para mandar uma mensagem de agradecimento ao Chefe do Estado, Armando Guebuza, por este feito que apelidou de acto muito marcante para todos os moçambicanos que residem nesta zona e não só. Nascido em 1920 e então companheiro de trincheira do arquitecto da Unidade Nacional, Dr. Eduardo Mondlane, Vijarona teve mesmo tempo suficiente para ensaiar alguns passos de dança a bordo do comboio de passageiros, enquanto conversava com o “Notícias”.

Segundo as projecções dos Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique-Centro, na voz do respectivo director executivo, Cândido Jone, a ambição que existe é de colocar um comboio de cinco estrelas, “mas neste momento as nossas condições ainda não nos permitem fazê-lo”.

Já no salão reservado para a elite da instituição a água jorrava no chuveiro, esperando-se que o mesmo venha a acontecer, a breve trecho, nas carruagens reservadas aos passageiros.

“O comboio terá de ter água, porque faz longas distâncias, iluminação, porque a escuridão pode propiciar aproveitamentos por parte de eventuais amigos do alheio”, anotou Jone.

Também está prevista a integração de um vagão-restaurante que está em melhores condições, depois de já ter sido reabilitado em pouco tempo para as pessoas poderem consumir produtos frescos.
Estações vão ter nova roupagem

Maputo, Sábado, 18 de Fevereiro de 2012:: Notícias 
Um dos incumprimentos do contrato por parte da extinta concessionária da Companhia Caminhos de Ferro da Beira (CCFB) foi precisamente a não reabilitação das estações. Com a retomada do Sistema Ferroviário da Beira, a Direcção Executiva dos CFM-Centro tem o plano de relançar um concurso para a recuperação pelo menos das estações principais como Inhaminga, Caia, Sena, Mutarara, Doa, enquanto entre Kambulatsitsi, que se encontra intacta, e Doa, vai ser construída mais uma estação de raiz, concretamente na zona de Missitu.

De igual modo, vão ser erguidas ainda este ano outras estações para permitir que os passageiros tenham melhores condições como em Póvoa, entre Dondo e Savane, Cundue e Murraça.

Avaliadas aproximadamente em 46 milhões de dólares que sairão dos fundos daquela empresa pública, as obras vão durar, no mínimo, seis meses, sendo que, numa primeira fase, o projecto arranca ainda neste mês de Fevereiro com a reabilitação do troço Beira-Dondo e Dondo-Savane para permitir uma maior fluidez das locomotivas.

Depois disso, vai ser levantada a restrição da circulação de comboios a uma velocidade de 60 Km/hora nas locomotivas de carga e 80 no transporte de passageiros.

Outra inovação tecnológica será o abandono do esquema de despachos e sinalizações manuais de comboios para a via automática na base do comando posicionado na Beira que vai visualizar, através do sistema GPS, a posição de todos os comboios que estiverem ao longo da Linha de Sena.

Para o efeito, uma empresa que ganhou um concurso público já se encontra no terreno a realizar o mapeamento para que o comboio que estiver naquele troço apareça nas coordenadas.

Depois disso, vão ter lugar outras obras como o realinhamento e ampliação das vias nas estações, podendo permitir a circulação de comboios com até 90 vagões de carga contra os 42 actuais.

Horácio João

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