Esquecida, a Ilha de Moçambique esconde riquezas e encantos
Qui, 05 de Abril de 2012 12:06
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O litoral de Moçambique é um dos mais bonitos de toda a África e as suas praias são dignas de estar na lista das mais belas do planeta. Mas a costa moçambicana não oferece apenas coqueiros, águas translúcidas e areia branca. Um pouco de cultura e história sempre estimula a nossa mente, não é? Assim, não foi difícil fazer um desvio de 60 km da estrada principal (que une o norte ao sul do país) para conhecer o lugar.
A ilha está ligada ao continente por uma ponte em estado precário, que tem uns 50 anos de idade. Percorremos a distância de 3 km bem devagarzinho, pois, além de ser estreita, a ponte está em obras. Com um suspiro de alívio, aterramos na ponta sul da ilha, na “Cidade de Macuti”. Macuti é a folha seca da palmeira, matéria prima abundante que serve para fazer os tectos das habitações locais. Como os telhados da grande maioria das casas desse bairro popular usam macuti, não foi difícil descobrir a origem do nome.
A parte norte da ilha leva outro título. É a “Cidade de Pedra”. Esta, sim, possui construções bem mais sólidas. O nome (“Stone Town”, em inglês) faz-nos lembrar o centro histórico de Zanzibar, na costa da Tanzânia. As duas ilhas, mesmo se separadas por 1.000 km, possuem algo em comum: as “pedras” são, na verdade, pedaços de corais.
As ruas no centro da Ilha de Moçambique ainda estão abandonadas e a maioria das construções cai aos pedaços. A ilha foi declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1991.
Ao contrário de Zanzibar, que está bem mais ajeitadinha e renovada, a “Cidade de Pedra” de Moçambique mostra as marcas do tempo e do descuido. As fachadas estão repletas de buracos, as portas decrépitas e os telhados desmancham-se a cada chuva. Enfim, existem mais ruínas do que casas de pé.
Mas os primeiros investidores internacionais reconheceram o potencial turístico e cultural da ilha. Seguindo o barulho das obras, encontramos alguns casarões antigos que estão a ser restaurados. Todos servirão como hotéis ou pousadas para a temporada turística. Com tanto charme a sobrar, vale a pena investir na ilha.
No centro, estudantes caminham pelas arcadas de um prédio do tempo dos portugueses. Uma palavra familiar – farmácia – lembra que estamos em terras lusófonas.
Foi o navegador Vasco da Gama o primeiro a hastear a bandeira portuguesa na ilha, em 1498. Pela sua localização estratégica no oceano Índico, o local já era povoado por árabes e africanos e fazia parte do Sultanato de Zanzibar. Ao passar às mãos do império de Dom ManuelI, a ilha tornou-se a primeira capital da nova colônia. Foi capital da África Oriental Portuguesa durante três séculos! Nada mais justo que tenha baptizado também o país. Aliás, o nome viria de um personagem árabe, Mussa bin Bique.
A mais antiga edificação colonial portuguesa de todo litoral Índico é a Capela de Nossa Senhora do Baluarte, construída na ponta norte da ilha em 1522. O templo encontra-se dentro do perímetro da Fortaleza de São Sebastião, uma das maiores no continente.
A Capela da Nossa Senhora do Baluarte teria sido erguida pelos homens de Dom Pedro de Castro
Poder conversar com qualquer pessoa em Moçambique é uma das vantagens de falar português – afinal, o nosso idioma é o mais falado no Hemisfério Sul. Somos imediatamente reconhecidos como brasileiros (graças às novelas, os moçambicanos apreciam o nosso sotaque) e a prosa flui com mais naturalidade. Uma das boas conversas aconteceu com Zaina, uma simpática quarentona, mãe de cinco filhos. No rosto, ela havia passado, pela manhã, uma pasta branca na sua face. No norte de Moçambique – e principalmente na ilha – toda mulher um pouco mais dengosa usa diariamente essa “máscara de beleza” natural.
Zaina afirma que a sua pele fica muito mais suave quando ela usa a pasta branca.
Ela convida-nos a entrar no pátio da sua casa para mostrar como ela prepara a pasta. Encontra uma pedra plana que serve de base e pede à filha que traga um pedacinho de madeira clara. Ela fricciona o pauzinho na rocha com força até aparecer um pó bem fino; depois, pinga algumas gotas de água na mistura. “Faço isso todos os dias. Essa pasta é maravilhosa”, diz Zaina. “Mas quem precisa mesmo de um bom trato é a nossa Ilha de Moçambique, você não acha?”
Por Haroldo Castro (publicado na revista Época)
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