O Brasil está a afirmar-se como “grande actor político e económico” em Moçambique, Angola e em outros países africanos, com as suas empresas a investirem nos mesmos sectores que importantes interesses chineses ou indianos, afirma o investigador Loro Horta.
No artigo “O abraço da anaconda: Um Brasil em ascensão entra em África”, publicado este mês na Latin Business Chronicle, Horta afirma que a crescente presença brasileira tem passado despercebida, com o foco a incidir sobre a China e a Índia, duas outras grandes economias emergentes.
“Um Brasil em ascensão com uma comunidade empresarial cada vez mais poderosa está ansioso por encontrar novos mercados para investir a sua riqueza recentemente adquirida”, afirma o investigador.
As empresas brasileiras estão a avançar com projectos em países como o Malawi, Zimbabué e Namíbia, mas o principal destino deste investimento está a ser a África de língua portuguesa, em particular Angola e Moçambique, sublinha.
A economia moçambicana vai receber mesmo o maior investimento brasileiro até à data no continente: uma linha de caminho-de-ferro de 41,7 mil milhões de dólares lançada pelo grupo mineiro Vale.
“A maior parte do investimento brasileiro deverá ir para o sector mineiro e particularmente para a extracção de carvão”, afirma.
Mas também a agricultura poderá tornar-se noutro importante destino de investimento brasileiro, tendo sido noticiado que o governo de Moçambique procura atrair ao país produtores de algodão, soja ou milho disponibilizando terras.
Outro foco tem sido a produção de biocombustíveis, a que o governo brasileiro destinou uma linha de crédito de 97 milhões de dólares para pequenos projectos agrícolas, mais tarde alargada para 300 milhões de dólares.
Em Angola, o investimento brasileiro cresceu 20 vezes entre 2002 e 2008, envolvendo grandes grupos como a Petrobras, Odebrecht, Andrade Gutierrez ou Vale.
Este mês, uma nova linha de crédito no valor de 2 mil milhões de dólares criada pelo governo do Brasil para Angola foi formalmente constituída em Brasília com a assinatura formal do documento.
Durante uma visita a Angola, a presidente brasileira Dilma Rousseff definiu como princípios para o envolvimento em África que as empresas brasileiras se esforcem por contratar africanos, façam da transferência de tecnologia uma prioridade e que lancem parcerias com parceiros locais e respeitem a legislação.
Para Loro Horta, “não foi coincidência” estas declarações terem sido feitas em Angola, onde foram algumas vezes feitas críticas públicas à alegada baixa contratação de mão-de-obra local pelas empresas chinesas, pelo que esta postura brasileira mostra a “crescente concorrência com a China, outra potência emergente que tem estado a construir uma presença impressionante em todo o continente”.
Embora a maior presença chinesa em Angola seja inquestionável, responsáveis da delegação brasileira “fizeram questão de notar” que as empresas brasileiras “são o maior empregador do país”, adianta.
(rm/macauhub)
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