Mark Zuckerberg deve estar com cara de poucos amigos. A badalada estreia do seu Facebook em bolsa tornou-se rapidamente numa zanga entre investidores e bancos de investimento que ameaça tornar-se ainda mais badalada na barra dos tribunais nos próximos tempos.
Tudo porque, acusa quem apostou o seu dinheiro na rede social mais frequentada do planeta, a forma como a operação foi conduzida falhou no rigor e na transparência dos dados que tinha o dever de partilhar com o mercado. E os dedos acusadores não são polegares em forma de ‘like', uma das imagens de marca do Facebook. São indicadores zangados e apontados directamente a bancos como Morgan Stanley, Goldman Sachs, JP Morgan, Barclays, Bank of America e à própria ‘sala de negociações', o Nasdaq. Houve problemas no arranque da operação, as transacções falharam logo no primeiro dia e, pior do que os erros do sistema, o mercado não terá sido devidamente esclarecido sobre o potencial da empresa e as expectativas de receitas futuras. Nenhum investidor gosta disto.
Se há uma lição que a bolha das ‘dotcom' deixou, depois de estoirar com milhares de ‘sites' e empresas de base tecnológica em todo o mundo, é que de nada vale empolar o que se vale ou mentir sobre o que se tem. Se a empresa for apenas um grande balão de ar, o escrutínio do mercado acabará por funcionar e será como um alfinete muito bem afiado. E, já se sabe: quanto maior o balão, maior o estoiro. Quem coloca o seu capital em empresas como o Facebook - onde é mais fácil perceber como faz o que faz do que aquilo que realmente vale -, não quer sentir que está a colocar a cabeça no cepo. Por isso, entende-se que não perdoem a grandes casas de investimento que lhes escondam dados ou que manipulem a partilha de informação.
Apesar das reacções dos acusados, que desdramatizaram ao dizerem que seguiram os métodos aplicados em todas as operações semelhantes, há uma perda que já não se consegue evitar: a confiança. Por isso será interessante seguir os próximos passos de reguladores e supervisores que já estão em campo para avaliar causas e efeitos desta operação. O que resultar das suas intervenções, mais do que qualquer sentença de tribunal, será importante para recuperar a confiança no mercado e nas empresas de internet. E servirá de exemplo para muitas bolsas, reguladores e investidores de muitos países, incluindo Portugal. Se Mark Zuckerberg e os bancos de investimento não sabiam, descobriram agora: enganar um ‘amigo' é coisa feia.
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