Com as recentes descobertas de gás e carvão, Moçambique tem atraído vários mercados. O país que alcançou um crescimento de 6,8% em 2012 e 7,1% em 2011 deve manter o ritmo pelo menos até 2006, de acordo com um relatório publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Pat Thaker, directora regional para África e Oriente Médio da Economist Intelligence Unit, considera o gás e o carvão como factores determinantes para o crescimento nacional. A directora explica à Deusthe Welle que a descoberta de um grande campo de gás natural atrai "investimentos no país" baseados "numa maior estabilidade e certeza".
Citada pela DW, Thaker afirma que "O boom energético alcançou um outro estágio e isso também pode ser visto em números", referindo-se aos "90 mil milhões de dólares (que se espera que sejam investidos) ao longo dos próximos dez anos".
De Maputo surge outra visão. Rogério Ossemane, do Grupo de Investigação sobre Probreza, Desenvolvimento e Globalização do Instituto de Estudos Sociais e Econômicos (IESE) na capital, avalia de outro modo. Para ele, manter o crescimento não será difícil, mas o desafio do país é outro. Ossemane assegura que apenas a exploração de recursos naturais já seria o suficiente para garantir esse crescimento. Mas "o mais importante para o nosso país não é a taxa de crescimento, mas sim como este se reflecte socialmente".
O economista explica que não interessa dizer que o país está a crescer se a produção e as riquezas geradas são de propriedade privada das grandes companhias: "O importante é como esses ganhos são retidos na economia e são distribuídos de maneira mais ampla".
Mais áreas para a agricultura
Segundo a DW, a agricultura responde por uma fatia importante do orçamento do país, mas e conforme Rogério Ossemane, tal não significa crescimento da produção. Trata-se, portanto, de "uma agricultura que poderá ser explicada, por exemplo, no crescimento do sector de florestas, ou na produção de tabaco que não necessariamente se transferem em ganhos para a maioria da população que é rural".
Financiamentos externos, aportes do banco mundial e pagamentos de parcelas mais leves das dívidas também se somam aos números positivos de Moçambique. As previsões de longo prazo são bastante optimistas e apontam uma década promissora para a economia nacional.
Para os moçambicanos, no entanto, os números ainda devem demorar a tornar-se perceptíveis no quotidiano. Isso porque, como explica Pat Thaker, a exploração de gás e carvão não está ligada directamente com a empregabilidade ou o mercado de suprimentos local. Não esquecendo que a produção nesse sector não deve começar antes de 2018. Segundo ela, o que o governo precisa garantir é que os recursos sejam investidos de forma eficaz em áreas diferentes, particularmente na agriculura, educação e comunicação.
Menos benefícios fiscais e mais renda
Para a população sentir os efeitos do crescimento económico é necessária uma administração mais parcimoniosa na concessão de benefícios fiscais e no investimento correcto dos recursos, considera Ossemane. Rogério Ossemane assegura que "a questão da tributação tem sido um problema, porque há a evidência de que excessivos benefícios fiscais teriam sido concedidos".
Nesse sentido, a diretora do Economist Intelligence Unit faz coro. Os moçambicanos têm uma eleição presidencial marcada para 2014 e o retorno que a população terá desse crescimento económico está nas mãos daqueles que governam e dos que governarão o país.
@SAPO